Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

31.12.06

Novos Televangelistas (1)


Cresci a ouvir sermões. Nascido numa família católica, a missa de domingo era um ritual obrigatório. E não há, ou melhor, não havia então, missa sem sermão. Confesso que nesse pormenor era um privilegiado. Contrariamente à maior parte dos meus amigos, eu, quando o padre celebrante iniciava a eterna litania, que precedia o sermão, - “Naquele tempo …”, embora aparentemente atento, em regra o pensamento voava-me para sítios que nada tinham a ver com “aquele tempo”, e tudo com o tempo de então, que era bem mais estimulante.

Onde estava o meu privilégio? Em que a minha mãe, contrariamente ao que faziam as mães dos meus amigos, não tinha o hábito de conferir se eu tinha ido realmente à missa, perguntando – “o que disse o padre no Evangelho?”. Isto funcionava na época, como um verdadeiro detector de mentiras.

O tempo foi-me afastando da igreja, à medida que se começou a verificar o inevitável confronto entre a Doutrina teológica por um lado, e a História e a Razão por outro. Foi uma separação amigável. Quando se proporciona, não sinto qualquer reserva mental em entrar num templo (de qualquer religião). São geralmente espaços tranquilos que convidam à reflexão.

De todo esse tempo porém, ficou-me o sentimento de que já tinha “a minha conta” quanto a ouvir sermões. Puro engano. O pior estava para vir.

De crescendo em crescendo, os sermões, agora de origem laica, foram-me perseguindo pela vida fora. Atingiram o insuportável nos tempos actuais, com a presença dessa realidade, simultaneamente maravilhosa e diabólica que são os media. Autênticos televangelistas invadem a partir dali, as nossas mentes massacrando-as com as suas “verdades”, para que possamos optar entre o céu (na terra) e as penas dos infernos, (também na terra).

Aqui reside a única diferença entre estes novos sermões e os que fazia, do altar, o senhor padre, porque, quanto à essência destes novos evangelhos, permanece intacto o princípio judaico-cristão da perversidade natural do nosso corpo e, portanto, a necessidade de o castigarmos. Fazendo penitências várias obviamente.

Disso se encarrega antes de todos, o Estado, através dos impostos e da sua Fábrica Universal de Leis, que tempo por lema “uma lei para tudo, tudo conforme a lei”, e tem imensos “pregadores” (políticos e burocratas) para nos explicar, que isso é exactamente assim, porque essa é a nossa liberdade: a de podermos fazer tudo o que não é proibido – o que, digamos, é manifestamente ridículo.

Já não explicam estes pregadores tão bem, porque o Estado para fazer isto, necessita de gastar cerca de metade do que recebe em impostos, com os custos internos da sua “máquina administrativa”, onde por acaso até há gente competente mas sobretudo muitos “boys”, para quem teve que se arranjar uns “jobs”, porque não era dignificante para o Estado que houvesse pelas ruas, políticos “sem-abrigo”. Qualquer pessoa concordará com isto, mais que não seja, por defesa e solidariedade com os autênticos “sem-abrigo”, para quem seria ofensiva esta promiscuidade.

Mas há muitos outros televangelistas, e bem mais insuportáveis. Deles e das suas doutrinas, refiro-me a seguir...
António Soares



Para todos os leitores do blogue

30.12.06

Economia e Valor


O conceito de valor, base da economia, é uma das ideias mais subtis e traiçoeiras da história da ciência. Foram precisos mais de cem anos, até fins do século XIX, para se definirem os seus verdadeiros contornos e mesmo hoje muitos dos que se dizem economistas continuam sem a apreender.
Porque aquilo que dá valor a uma coisa não é o seu volume ou peso, a quantidade de esforço nela incorporado, o montante de capital envolvido ou a elaboração técnica da sua produção.
O valor depende exclusivamente da utilidade que o público decide atribuir-lhe, do capricho do consumidor.
Pode ser algo rudimentar ou fortuito, uma mania passageira ou mesmo prejudicial, mas o valor advém apenas do que desejam as pessoas. Pagam-se milhões por telas pintadas há centenas de anos ou peças velhas de colecção. Simples pedras, como os diamantes, estão entre as coisas mais caras do mundo. Uma fama passageira dá fortunas a cantores e romancistas, até a moda mudar. A heroína e o haxixe valem muito mais que os medicamentos. O valor é o que a gente quer que seja.

29.12.06

Lei: Reflexões

  • A Lei foi feita única e exclusivamente para explorar aqueles que não a entendem ou que, por pura necessidade, não podem cumpri-la. (Bretch)
  • Uma Lei para ser cumprida tem que ser cumprível.
  • O trabalho tende a ocupar todo o tempo livre para o realizar. (Lei de Murphy)
  • Liberdade é o direito de fazer tudo o que a Lei permite. (Montesquieu)
  • Entre o rico e o pobre, é a liberdade que oprime e a Lei que liberta. (Lacordaire)
  • Em qualquer tipo de actividade humana o homem faz sempre aquilo que sabe e não o que é preciso fazer. (Lei de Fong)
  • O trabalho é feito por todos aqueles que ainda não atigiram o seu nível de incompetência. (Laurence Peter - Lei de Peter)

28.12.06

Testemunhas do Século XX (3)


José Hermano Saraiva

… continuado
Na crise estudantil de 69, era ministro. Como foi? - Foi um episódio menor, sem importância alguma. O Presidente da República foi lá inaugurar um edifício e houve ordens terminantes para a polícia não se meter naquilo. Nem à paisana nem fardada.


A crise académica não durou só uma tarde ? - Não estava cá o Marcelo (Caetano), estava em África. Quando veio três dias depois, eu disse-lhe: "Aquilo não foi intencional, não foi preparado, não é uma falta de respeito. E só tem a importância que a gente lhe der. Em minha opinião, não tem importância nenhuma."


Mas o Marcelo disse: "Mas em minha tem. O chefe de Estado é o chefe de Estado, e o senhor tem de suspender já..." "Mas quem é que quer que eu suspenda? Estavam lá todos." "Suspenda a Associação Académica." Suspenderam-se, nomeou-se um juiz para os ouvir. Eles entram em greve, uma greve tumultuosa, e aquilo avoluma-se. Há uma manifestação. O reitor alarmou-se e é pedida pela Universidade ao Ministério do Interior a presença da companhia de intervenção da Polícia.


A minha intervenção foi impedir isso. Pedi ao dr. Marcelo e fui à televisão fazer um "sermonete" que teve exactamente o resultado que esperava que tivesse. As famílias vieram buscar os filhos, foram-se embora, tudo calmo." A normalidade recomeça. Depois vieram os exames e os grevistas fazem piquetes para impedi-los, o que, a meu ver, é absolutamente contra a liberdade. As minhas ordens foram: quem quer fazer exame faz, quem não quer não faz. A única sanção é que quem não faz exame não passa.


José Hermano Saraiva ocupou cargos vários políticos e afirma que não concordava com a censura nem a PIDE mas que nunca foi da oposição.

Convidado para ocupar a pasta da Educação Nacional, tomou posse em Agosto de 1968, pouco antes do acidente que afastou Salazar que o tinha levado para o lugar, "o homem mais inteligente que conheci",


Continuou ministro com Marcelo Caetano, mas acentua as grandes diferenças entre os dois. Elogia em Américo Tomás um homem honrado, aluno distinto da Escola Naval, classificado com 20 valores em Matemática na Faculdade, mas acrescenta que não tinha o menor sentido político e ainda menos o dom da palavra.


Sobre os tempos actuais reflecte: "A verdade deixou de ser o mundo. A verdade passou a ser a notícia. A gente vive num mundo de realidade virtual. É como os jornalistas no-lo descrevem. No-lo inventam. No-lo servem."; O mundo mudou de uma forma "extremamente rápida no plano dos factos técnicos e muito mais lenta no plano das ideias e dos factos teóricos. É como um rodado de um carro em que uma roda anda mais depressa do que a outra.

Sinopse. Entrevista ao jornal O Público

Recortes

* Fantasma é um exibicionista póstumo.
* "Os habitantes da Terra dividem-se ao meio, os que têm um cérebro, mas nenhuma religião, e os que têm uma religião, mas nenhum cérebro". (Abdul-Ala al-Maari - Poeta 1057)
* ... Uma outra América, talvez mais profunda, que, como escreveu Tocqueville, gosta de pensar que vive "sob o único governo de Deus e das leis".
* Degas, oferecia, sem correr qualquer risco, um milhão, a quem lhe pudesse provar por razão demonstrativa, que a Gioconda era uma obra-prima.
* Expliquem-te o que te expliquem nunca é toda a verdade. Falem do que te falem, estão-te falando de dinheiro.(Primeiro dos princípios políticos de Tood)
* Especialista é alguém que conhece mais e mais sobre menos, até que chega a conhecer absolutamente tudo sobre nada.

27.12.06

Freud Errou...



... continuado
Tal como outros iconoclastas, Freud passou de rebelde a criador de uma "nova ortodoxia", uma doutrina de salvação terrena, que ostenta claros aspectos das "tradições judaico-cristãs". No recém-publicado Why Freud Was Wrong, Richard Webster tenta explicar como o neurologista vienense - racionalista e agnóstico convicto - tornou-se o fundador de uma religião e guru de um movimento espiritual universal. Sua resposta: ambição desmedida e messianismo foram as forças motrizes daquele que, no fim da vida, gostava de comparar-se a Moisés.

À procura de temas de pesquisa originais, o jovem médico fez experiências com cocaína. A sugestão viera de um médico militar prussiano que galvanizara os seus recrutas estafados com a droga.
Depois de ter experimentado cocaína, Freud teceu-lhe loas num artigo, chamando-a de verdadeira panaceia. Elizabeth Thornton, pesquisadora americana da obra do pai da psicanálise, acredita que ele foi cocainómano por um longo tempo. Os indícios estão nas cartas algo desvairadas que enviou à sua então noiva e futura mulher, Martha Bernays.

Pouco depois, participou, com igual entusiasmo, das pesquisas de um amigo médico chamado Wilhelm Fliess, para quem havia um relação estreita entre os órgãos olfactivos e os sexuais.
Partindo dessa premissa exótica , Fliess, um otorrinolaringologista , tratava distúrbios sexuais com operações nasais. Freud ficou tão impressionado com as dúbias experiências do colega que se deixou operar por ele várias vezes, no afã de livrar-se de patologias neuro-sexuais. Só se distanciou dessa sangrenta terapia sexual depois de ter quase perdido (matado?) uma paciente, vítima de uma intervenção nasal malograda.

Histerias - Freud seguiu à caça de descobertas sensacionais. Outro colega, o clínico geral Josef Breuer, despertou o seu interesse pela histeria, doença da moda no “fin de siècle”, que podia provocar paralisias ou alucinações (hoje, por motivos ignorados, esse mal não existe mais). Breuer queria curar mulheres histéricas por meio de hipnotismo e Freud entusiasmou-se com a ideia, não tardando a aplicá-la em seu consultório. Com a tenacidade de um inspector de polícia, investigou nas suas histéricas, motivos sexuais secretos, que ele considerava como causas da moléstia.

Em Maio de 1895, junto com Breuer, Freud publicou os Estudos sobre Histeria. Para Webster, os relatórios terapêuticos do chamado "livro fundamental da psicanálise" são contos de fadas. O pesquisador comprovou que nenhuma das cinco pacientes mencionadas foi definitivamente curada. Em sua opinião, a maioria nem sequer sofria de histeria. Nem mesmo "Emmy von N.", que Freud apresentou como seu exemplo mais significativo.
Sinopse. Livro “Acuso” de Diógenes Magalhães

26.12.06

Entre Aspas

  • A única coisa que impede Deus de mandar um segundo dilúvio, é que o primeiro resultou inútil. (Nicolas Chamfort)
  • Se está deprimido, faça alguma coisa ! - Se já está fazendo, troque de coisa.
  • As pessoas mais desiludidas da vida são as que só recebem aquilo que merecem (Sacha Guitry)
  • A partir do segundo desmentido oficial, a coisa pode ser dada como certa. (Norma diplomática)
  • Controle o seu destino ou alguém o fará por si. (Princípio da Gestão)
  • Para rezar a Deus com devoção não faz falta crer em Deus segundo os dogmas de qualquer religião. (Somerset Maugham)
  • O dinheiro está sempre ali; só mudam os bolsos. (Gertrude Stein)

Testemunhas do Século XX (2)


José Hermano Saraiva

… continuado
Entre o fim da II Guerra e o 25 de Abril passou-se muita coisa. Vamos falar disso? - Como professor, no Liceu Passos Manuel e, como reitor, no D. João de Castro, tentei implementar um tipo de ensino diferente, o auto-ensino. O ensino em que o professor ensina e o aluno recebe é negativo, é um ensino de uma civilização de consumo e não de produção. No verdadeiro ensino, o aluno produz o saber, o professor só está ali para manter a ordem dos trabalhos.

Presume-se que da parte do ministério não tinha orientações nesse sentido? - Da parte do ministério?! Foi de tal ordem que o dr. Salazar chamou-me e disse: "O que o senhor está a fazer nesse liceu é preciso que seja feito em todo o País." E fui ministro da Educação.

E depois a sua política foi posta em prática? - Não... Quem faz o ensino são os professores e o facto de um ministro ter ideias progressistas não faz com que os professores as tomem. Ainda hoje isso é assim... Desde logo estabeleci o princípio da prioridade absoluta ao ensino primário. O dr. Salazar defendia isso mesmo: "Primeiro o primário." O dr. Marcelo Caetano pensava que é na Universidade que se formam as elites e que são as elites que formam os países. Era o Salazar que tinha razão. Era muito mais progressivo. Em tudo! O dr. Salazar representa as aspirações da pequena classe média. E a situação que se instalou a seguir representa a situação da grande burguesia, que continua hoje a governar.

Falava muito com ele? - Não, ele não dava confiança assim a um qualquer. Tive duas conversas com ele e o que conheço é através da obra, sobretudo dos discursos, de um livro muito bem feito que é o livro do Franco Nogueira. Só tive uma reunião do Conselho de Ministros com ele, porque teve logo o acidente e depois foi com o dr. Marcelo. Mas ele efectivamente tinha uma capacidade, uma serenidade, um poder... ele conseguiu que este nico de país impusesse respeito aos Estados Unidos! O Churchill disse ao Roosevelt: "Cautela com Portugal! Eles são pequenos, mas têm lá o Salazar!" O tipo queria ocupar os Açores à bruta.

O que Salazar podia fazer? - Sabe-se lá! O Salazar, por exemplo, levou o Franco a ganhar a Guerra Civil de Espanha. A intervenção de Salazar na junta dos países europeus que queriam intervir do lado do Governo constitucional foi absolutamente decisiva para o triunfo do franquismo. É por isso que se vê organizado contra ele um verdadeiro movimento de opinião. Há uma guerrilha na opinião contra o dr. Salazar. Ele era perfeitamente antifascista.

Antifascista?! - Perfeitamente! Digo-o. Escrevo-o. Totalmente antifascista! Continua …

25.12.06

Medindo o Tempo...


Nos primórdios da contagem do tempo, os povos pré-históricos baseavam-se na sombra projectada pelo sol. Os astrónomos, entretanto, foram os primeiros que se preocuparam com a medição do tempo através de instrumentos. O primeiro objecto inventado neste sentido foi o relógio do sol, há mais de quatro mil anos, mas que também tinha uso restrito.

Mais tarde surgiram a ampulheta (com areia) e a clepsidra (com água), que fluíam de um recipiente para outro em velocidade regular e assim marcavam um espaço de tempo. O relógio mecânico foi desenvolvido no final do século XIII. Ele era movido por um peso e possuía apenas um ponteiro. Em meados do século XIV, foram adotados o mostrador e o ponteiro das horas.

Os primeiros relógios movidos a corda surgiram na Itália no século XV, onde nessa mesma época apareceram os primeiros relógios portáteis. O serralheiro alemão Peter Henlein é considerado o pai do primeiro relógio portátil. No início do século XVI, inventou a mola principal para accionar relógios.Até essa data, eles eram movidos por pesos e deviam ficar em posição vertical para o perfeito funcionamento. A mola principal possibilitou a produção dos relógios pequenos e portáteis. A sua fabricação logo se difundiu pela Inglaterra, França e Suíça.

Os relógios eléctricos, criados na metade do século XIX, tornaram-se comuns em torno de 1920. Na década seguinte, surgiram os relógios de quartzo. Em 1970, tornaram-se populares os relógios digitais.
Os relógios mecânicos podem ser afectados por muitos factores, como variações de temperatura e desgaste, já os relógios atómicos empregam átomos de césio e moléculas de gás amoníaco. Em 1964, os cientistas de todo o mundo adoptaram a velocidade de vibração de um relógio atómico como padrão de definição de unidades de tempo.

Um relógio de pulso de quartzo, baseado em oscilações de um cristal de quartzo submetido a um campo eléctrico, tem usualmente a precisão de um segundo por mês. Num relógio atómico, utiliza-se como padrão uma frequência característica associada a uma radiação emitida por átomos de césio 133, que por sua vez controla as oscilações electromagnéticas na região de microondas e um oscilador de quartzo. A precisão de um relógio atómico pode chegar a um segundo em 300 mil anos.

Sinopse: Deutsche Welle

24.12.06

A Selva Urbana


Dada a selvajaria da cidade, alguns referem-se a ela como a selva do cinema. Mas as selvas não são assim. De uma forma ou doutra, a violência na cidade decorre na totalidade de um super povoamento anormal, e as selvas não são super povoadas. É o tipo de violência que não se vê na selva, mas num jardim zoológico antiquado.

Na tribo primitiva com cerca de 80 a 120 pessoas, todos se conheciam. Não havia estranhos. Mas se houver um milhão de estranhos à nossa volta na cidade? Como reagir? A resposta é estabelecer uma tribo própria, fazer de conta que os outros não estão lá. Evitar o contacto, desviar o olhar, eliminar qualquer saudação ou contacto social. Nos elevadores, autocarros e comboios, adquirir um olhar vazio.

Estes dois vícios do ambiente urbano – o ataque a estranhos e a agressão – são consequência das enormes dimensões da Supertribo urbano. Uma das formas mais elementares de os animais reduzirem a agressão, é formarem territórios.O animal humano é incapaz de funcionar sem qualquer estrutura social. Se não for inventada pela história, será reinventada. Só os loucos o ignoram.

Sinopse. O Animal Humano - Desmond Morris (zoólogo e antropólogo)

Feliz Natal


Feliz Natal
A todos os leitores deste Blogue

23.12.06

Transcrições

***A lápide no cemitério dizia: “aqui jaz um homem honesto e advogado competente”. Alguém estranhou: então já estão sepultando duas pessoas na mesma cova ?

*** Os governos tornaram-se demasiado grandes para os pequenos problemas e demasiado pequenos para os grandes problemas.

*** De um certo pondo de vista toda a história do movimento sindical não passa de extorsão. O que é uma greve, senão extorsão baseada numa ameaça, real ou implícita de acções violentas ?

*** (...) porque era tão extremamente esquelética que os seus “glutei maximi” e os tecidos envolventes – em linguagem corrente, o seu cu – parecia ter desaparecido por completo, seria possível traçar uma linha com um fio de prumo desde a zona dos seus rins até ao chão.

*** “Ele compra, vende, troca, empresta. Põe, dispõe, impõe, repõe, fia, fura e faz”. (Legenda do banqueiro judeu Burnay, feito conde pelo Rei D. Luís, para lhe agradecer os constantes empréstimos à Casa Real)

*** “Inquisição laica” termo utilizado pelo Wall Street Journal para denominar a força de bloqueio que se formou em torno da Comissão Europeia para exorcizar o candidato Buttiglione, que manifestou opiniões desfavoráveis aos homossexuais.

Lá, onde o Diabo Perdeu as Botas...


O Turcomenistão, país muçulmano e desértico da Ásia Central, encravado entre Mar Cáspio, Irão, Afeganistão e Cazaquistão, está órfão. O autodenominado Pai do Povo e seu presidente vitalício, Saparmurat Niazov, autor de um regime de modelo estalinista, com elevado culto da personalidade morreu.

A notícia porém, não se perdeu na espuma dos dias nos noticiários internacionais. Fez até com que as potências mundiais reagissem com prudência ao anúncio das morte do ditador, porque Niazov governava um país com importância estratégica, não apenas pela posição geográfica, mas sobretudo porque é fornecedor de gás natural à Rússia e, através desta, à UE, que recebe um quinto do seu gás natural daquela origem. As reservas de gás natural do Turcomenistão estão entre as maiores do mundo, 1,2% do total mundial. Se pudesse ser todo extraído, daria teoricamente para abastecer a Europa durante 6 anos.

Saparmurat Niazov era um ditador cheio de originalidades. Entendeu que tinha direito a uma estátua. E naturalmente fê-la, e bem à altura da sua grandeza: de ouro maciço, e que rodava seguindo o movimento aparente do sol. Mas, para além disso escreveu uma obra, “Ruhnama” (Livro da Alma), que constituía a base de todo o currículo escolar. A sua imagem aparecia em todo o lado, inclusivamente no cantinho do ecrã da televisão pública.

Decretou verdadeiros absurdos: a exigência de um curso de 16 horas de estudo do “Ruhnama” para se obter uma carta de condução, proibição de usar capas de ouro nos dentes; Os médicos do Turcomenistão faziam o seu juramento profissional, não sobre o texto de Hipócrates, mas sobre a sua obra.
Por aqui sentiríamos a vontade de designar Niazov por “um verdadeiro cromo”. Mas com isso não concordariam provavelmente os seus opositores, perseguidos implacavelmente e encarcerados.
Quem vai suceder-lhe? Um novo Kim-Jong-Il ? Eles lá sabem, mas provavelmente será o nosso bolso a suportar qualquer instabilidade que ocorra no mercado mundial do gás natural.

22.12.06

Testemunhas do Século XX




José Hermano Saraiva (entrevista)


Como é que o Estado Novo chegou a sua casa? - Não tenho uma ideia muito clara disso. Recordo-me de que o 28 de Maio - lembro-me dos cabeçalhos dos jornais - aparece como uma libertação de um período de anarquia, de tumulto, como o tempo dos bombistas. Havia uma revolução constantemente. As pessoas estavam muito fartas, concretamente dos partidos. Quando se ouviam três tiros de canhão dados do Castelo de S. Jorge isso queria dizer "metam-se em casa que vai haver uma revolução". É um período de anarquia militar terrível que só acaba com o Estado Novo. Fiquei em Lisboa a estudar, acabei por tirar dois cursos, de Letras e de Direito, e fui presidente da Associação Académica de Letras.

Que fazia então a Associação Académica? - Fazia tudo quanto queria. Fazia bailes, festas, a queima das fitas, peças de teatro. Essa lenda de um mundo abafado perfeitamente imaginada agora por organismos de propaganda. Eu não senti isso... eu era, aliás, contra aquele regime, achava que devia haver liberdade, e assinei as listas da oposição. Eram listas que diziam que as eleições deviam ter mais garantias e ser fiscalizadas, eu assinei tudo isso e nunca ninguém me fez mal por isso. A minha mulher também. Nunca vi directamente esses fantasmas de terror de que agora falam.

Mas houve pessoas perseguidas, presas, deportadas, por serem da oposição? - Falava-se com muito terror dos bolchevistas. Era uma coisa de que toda a gente tinha muito medo. Mas a grande maioria da população não queria os partidos, só queria uma coisa: ordem. Ordem para fazer os seus negócios. E o Estado Novo deu-lhes essa ordem. Tudo isto vem até aos anos 50. Depois da II Guerra Mundial há uma revalorização dos regimes democráticos que após a I Guerra só tinham sobrevivido nas nações com uma burguesia extremamente forte e bem organizada, como a França e a Inglaterra. O dr. Salazar foi forçado, em grande parte pela opinião internacional, a fazer eleições. Mas não permitiu a reconstituição dos partidos. Fez eleições sem partidos. É claro que as ganhou.

Eleições sérias teriam posto em causa o regime? - Estou absolutamente convencido de que não. O prestígio do dr. Salazar era imenso. Era considerado o salvador da Nação. A pequena burguesia progrediu, instalou-se, transforma-se numa média burguesia que não admite as limitações impostas pela ordem, quer liberdade, partidos, imprensa livre, eleições. Foi o que o dr. Marcelo Caetano tentou ao fazer eleições que creio, traduzem a verdade. Havia instruções terminantes do Governo, posso garantir, para não haver fraudes, nem falcatruas, nem viciação de dados. Só que havia outro problema que as eleições não discutiam - o problema do Ultramar. Muita gente estava na guerra. E não há ninguém que goste de estar na guerra, a guerra é uma coisa muito má. E é isso que provoca um golpe militar que retira o poder ao dr. Marcelo Caetano e o dá a uma equipa de militares.
Continua …

Sinopse. Entrevista ao jornal O Público

21.12.06

Apedrejados ...


Conheço pessoalmente o primeiro-ministro de Portugal. Durante anos, cruzámo-nos em algumas actividades. Não votei nele. Salvo numa ou noutra ocasião, nunca votei em ninguém. Votei sim, sempre contra alguém, de resto como quase toda a gente. Hoje, vejo que a vida o amadureceu. Refinou. Tornou-se talvez mais duro e determinado. Considero-o um bom político, uma espécie de simbiose de vários estilos: Tony Blair, Margareth Thatcher, Salazar (porque não?).

Todos os dirigentes que no passado e no presente quiseram colocar alguma ordem num país atavicamente indisciplinado como Portugal, que “nem se governa nem se deixa governar”, como alguém nos caracterizava, chovem-lhe os habituais labéus de arrogância, autoritarismo, prepotência, falta de diálogo, “direitismo” etc. Descodificado, isto quer dizer que está a pisar terrenos dos interesses instalados, que está a perturbar os “direitos adquiridos” dos vários corporativismos e o dos seus apparatchiks.

Os portugueses, que não são propriamente um povo sábio e sensato.
Sintomático, por exemplo, é vê-los a todo o momento privados de serviços sociais fundamentais e, de seguida, expressarem a sua “compreensão” para com os grevistas e sindicateiros que não só os privam desses serviços essenciais, como os transformam em reféns e moeda de troca, com vista a obterem vantagens salariais e mordomias. Acho que há alguma coisa de “síndrome de Estocolmo” nesta atitude, para não lhe chamar... bovinidade.
Porém, contrariamente ao que seria de esperar, os portugueses vêem dando ao primeiro ministro uma boa posição nas sondagens. Parece que por fim perceberam que a caravana do pragmatismo só pode mesmo prosseguir, mesmo deixando um rasto ululante de cães a ladrar.

O meu primeiro contacto com o José Sócrates ocorreu ainda ele militava na organização juvenil do Partido Popular Democrático (PPD), a qual, assim como nos restantes partidos, pouco mais era do que uma designação destinada a motivar politicamente a juventude, que, de passagem, e em nome da ideologia, ia fazendo também uns quantos trabalhos mais duros – colagem de cartazes até altas horas da noite, etc, - coisas que os notáveis do partido não queriam fazer.

Dessa época, recordo um episódio. Ele deve recordar-se também. Um comício político na Covilhã com Magalhães Mota (um dos três fundadores do PPD, juntamente com Sá Carneiro e Pinto Balsemão). A certa altura o comício foi “boicotado”, como então se dizia (era um acontecimento diário) por um grupo de “progressistas” (ou seja, “dos bons” (comunistas) porque todos os outros eram então…. fascistas e maus), que do exterior apedrejava o telhado em chapa zincada do pavilhão onde se realizava o comício e incendiava um automóvel. Com dificuldade, o comício lá terminou. Entretanto, José Sócrates e os companheiros JSD tentavam fazer o cordão de segurança possível, porque a PSP entretanto chamada, apartidariamente, só apareceria horas mais tarde.

Ao longo do tempo, - já ele no Partido Socialista - fui consolidando dele o perfil de uma pessoa bem humorada, um pouco ingénua e até distraída, mas um bom companheiro. Aquela cena do comício e muitas outras, devem ter ajudado a formar a personalidade política do actual primeiro-ministro.
Digo eu …

20.12.06

Misterioso, Assassinado de Forma Misteriosa


No dia 17 de Dezembro de 1833, Kaspar Hauser morreu na cidade de Ansbach, em consequência do esfaqueamento por um desconhecido.
Cinco anos antes, ele aparecera em Nuremberg, sem que ninguém soubesse de onde vinha. Crescera trancado num porão e tinha grande dificuldade em movimentar-se. Hauser tornou-se logo um polémico objecto de pesquisas. Nunca se pôde esclarecer as suas origens, nem as circunstâncias da sua morte.

Dizem que ele vinha de Nuremberg e que não sabia falar uma palavra. Na praça do mercado, fizeram uma roda em torno dele, para observá-lo. Uns diziam que ele era um animal, outros perguntavam o que ele queria aqui e que fosse para o diabo, fora com ele, fora com ele...

Mas a curiosidade dos cidadãos de Nuremberg não deixou que o expulsassem, naquela segunda-feira de Pentecostes, em 1828. O poeta e filósofo Anselm von Feuerbach descreveu "um jovem com roupas de camponês, que estava ali parado numa postura muito estranha e tentava mover-se para a frente, parecendo um bêbado, sem erguer-se direito e sem conseguir controlar os seus pés".

Levado para o posto policial, ele foi incapaz de dar informações sobre si próprio: nem o seu nome, nem de onde vinha, nem sua profissão puderam ser apuradas pelas autoridades. As suas respostas eram sempre frases sem nexo, mais gaguejadas que faladas. Foi impossível obter mais dados sobre o estranho.

Este, de aproximadamente 20 anos de idade, recebeu o nome de Kaspar Hauser. O destino desse "filho da Europa", como foi chamado, comoveu a opinião pública do século XIX, como poucos outros acontecimentos. Em todo o continente, as pessoas podiam ler nas gazetas e jornais o relato sobre o misterioso jovem, que surgira do nada em Nuremberg.

Ainda hoje, inúmeros livros e teses, são produzidos, sempre com novas versões e interpretações da história. Incontestável é, contudo, o facto de que o rapaz – desnorteado, inteiramente descuidado e quase demente, ao ser encontrado – conseguiu absorver com êxito a mais progressista instrução escolar da sua época, em apenas quatro anos. Aprendeu música e demonstrava talento para a poesia. Será, então, que tinha uma "origem de classe alta"? Quem sabe, até mesmo, um filho de Napoleão?

Seja como for, Hauser não viveu muito. Ele havia sido transferido para a cidade de Ansbach, nas proximidades de Nuremberg. Lá, saiu a passear no dia 14 de Dezembro de 1833, quando foi esfaqueado no peito por um desconhecido. Era o segundo misterioso atentado contra a sua vida, desde que alguém o depusera na praça do Mercado de Nuremberg. Desta vez, ele só conseguiu sobreviver três dias ao esfaqueamento.

Embora real, a vida de Kaspar Hauser parece um produto de ficção. No local do seu assassinato, foi posta uma placa com dizeres em latim: "Hic occultus occulto occisus est" (Aqui um misterioso foi assassinado de forma misteriosa).


Fonte: Deutch Welle World

19.12.06

Coisas ... de homens


** Um homem só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde. (Millôr Fernandes).

** Uma mulher entra num ónibus com o seu bebé. O motorista diz: - “é o bebé mais feio que já vi. Ugh !” A mulher indignada vai sentar-se e comenta com o homem ao lado, que o motorista a tinha insultado. – “Vá junto dele e diga-lhe umas quantas verdades !" - Vá, eu seguro-lhe no macaquinho !”

** O homem é um louco; não pode fazer um verme, e entretanto faz deuses às dúzias.

** Ainda não encontrei homem algum bem-sucedido na vida que não houvesse antes sofrido derrotas temporárias. Toda a vez que um homem supera os reveses, torna-se mental e espiritualmente mais forte... (Andrew Carnegie)

** Quando se ouve um homem falar de seu amor pelo seu país, podem crer que ele espera ser pago por isto.

** Os animais estabelecem um território para si. O homem tem que comprá-lo ou alugá-lo, porque o regime de propriedade fez com que todo o território possivel já estivesse ocupado, e a sua posse protegida por lei.

** Ortega y Gasset publica em 1935 “A Rebelião das Massas”: o homem-massa usufrui de uma cultura que não cria nem compreende, reivindicando direitos. Sem reconhecer obrigações, opõe-se à elite que sai dele próprio e assume a responsabilidade de pensar e dirigir a sociedade.

O Pianista...


É uma história recente. Em Abril de 2005 a polícia britânica encontrou um homem a vaguear pelas ruas de uma cidade costeira, todo molhado, como se tivesse saído do mar, vestindo um formal fato preto e uma camisa branca sem qualquer etiqueta de marca.

Não disse uma palavra desde que foi encontrado, mas quando, no hospital para onde foi conduzido, lhe foi dado lápis e papel, ele desenhou a bandeira da Suécia e um piano. Depois de ver o desenho do piano, o pessoal médico no Hospital de Medway, mostrou-lhe o piano da capela do hospital. Para estupefacção geral ele sentou-se e começou a tocar no piano música clássica. Quem era este homem a quem os media passaram a designar por “pianista desconhecido”, nas suas manchetes?

O mistério desvenda-se meses mais tarde, quando o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha confirma tratar-se de um alemão de 20 anos, da Baviera. O que se julgou ser um grave caso de amnésia era, afinal, «uma farsa».

Relata o Daily Mirror que em determinada altura o indivíduo, louro, com quase dois metros de altura, quando uma enfermeira entrou no quarto do suposto pianista amnésico e lhe perguntou: - «É hoje que vai falar connosco?» reagiu inesperadamente dizendo, em bom inglês: -«Sim, acho que vou fazer isso», deixando atónito o pessoal do hospital britânico.

Durante vários meses, médicos e investigadores tentaram, sem êxito, descobrir a identidade do pianista, que parecia mentalmente perturbado. Chegou a dizer-se que era um náufrago que conseguiu dar à costa mas ficou em estado de choque. Noutras versões, constou tratar-se de um músico checo, ou de um músico de rua francês, mas todas as pistas se revelaram falsas.

Por fim, tudo indica que se tratava de um farsante, que se serviu da sua experiência profissional com doentes psíquicos para imitar algumas formas de comportamento e enganar toda a gente, incluindo dois famosos psiquiatras.

Quando a polícia o encontrou, a 07 de Abril, numa praia da Grã-Bretanha, com o fato todo encharcado, tinha acabado de fazer uma tentativa de suicídio, e por isso não queria falar com ninguém. Tinha chegado ali da forma mais normal do mundo, com o comboio Euro-Star, e não por causa de um barco que naufragou.

Foi então que resolveu manter o silêncio, mesmo depois de ter sido examinado por vários médicos, escreve o jornal britânico, contrariando também a versão de que o homem é um excelente pianista. Na altura ele limitara-se a tocar sempre nas mesmas teclas, o que poderá ter sido mal entendido por alguns leigos.

Este caso deslindou-se. O mesmo não aconteceu com um outro ocorrido na Alemanha, de que este aparenta ser um remake e que eu conto noutra posta, mais adiante…

18.12.06

Psicanálise - Embuste do Século XX ?




No sexagésimo aniversário do início de seu exílio e a um ano de com-pletarem-se 60 anos de sua morte e o centenário de 'A Interpretação dos Sonhos', os méritos do pai da psicanálise passam por uma revisão severa (Der Spiegel)

Ao completarem-se os 60 anos da sua morte e celebrar-se a publicação de A Interpretação dos Sonhos, Freud vai aos poucos perdendo a auréola, que, por muito tempo, o defendeu dos ataques constantes. Uma nova geração de críticos, mais radical do que as anteriores, está derrubando o monumento a Freud e transformando em cinzas a sua doutrina psicanalítica. Mais grave: segundo seus adversários atuais, a implosão não requer muitos explosivos, pois, há tempos, a outrora soberba fortaleza do rei Édipo já se tornou ruína, não deixando nenhum aspecto da psicanálise a salvo de críticas bem fundamentadas.

O psicólogo suíço Klaus Grawe considera "totalmente ultrapassado" o modelo tripartido do "aparelho psíquico", com sua divisão esquemática em id, ego e superego.
Na doutrina freudiana são os desejos e instintos reprimidos, que dirigem o comportamento humano como "regentes secretos" da obscuridade do inconsciente.

O historiador britânico Richard Webster diz que ele (Freud) não passou do "criador de uma complexa pseudociência, que deveria ser considerada uma das grandes loucuras do civilização ocidental".

Há vinte anos, o médico ganhador do Prêmio Nobel, Peter Medawar, declarou que a psicanálise era "o mais terrível conto-do-vigário do século", prevendo seu breve desaparecimento. Os mitos freudianos, no entanto, cravaram-se profundamente no consciente coletivo.

Não há um só recanto da cultura ou da sociedade que escape "à mania do esclarecimento" da psicanálise. Até mesmo os já mortos, de Goethe a Karl Marx, de Nietzsche a Schopenhauer, de Stalin a Hitler, todos podem ser traduzidos de acordo com as regras da interpretação psicanalítica, das quais não escapam nem sequer heróis míticos da Antiguidade ou religiões de culturas estrangeiras. Segundo Pohlen e Bautz-Holzherr, a psicanálise tornou-se um "poder colonialista" espiritual, subjugando todo o mundo.

17.12.06

Memória da IIGM - O Desmembramento da Alemanha


Ao contrário de novembro de 1918, quando os aliados vencedores do IIº Reich alemão, assinaram um armistício com o governo do Kaiser Guilherme II sem entrar no território alemão, os “Três Grandes” comprometeram-se na Conferência de Yalta, não só em ocupar a Alemanha como dividi-la em quatro partes (a americana, a britânica, e a soviética, com uma pequena presença da França).
Somente assim, era a opinião unânime deles, poderiam extirpar para sempre o espírito belicista do nacionalismo prussiano responsável pelas guerras de agressão.
Stalin enfatizou a necessidade dos alemães pagarem reparações a todo os países por eles agredidos desde 1939 em forma de fábricas, equipamentos industriais, patentes, máquinas, navios, material de transporte, além de expropriar deles todos os investimentos que possuíam no estrangeiro, num total aproximado a 20 biliões de dólares daquela época, dos quais 50% caberia à URSS. Teriam ainda que entregar as colheitas e até permitir o uso da força de trabalho alemão para restaurar os estragos da guerra.

Uma das propostas mais radicais partiu de Henry Morgenthau, o Secretário do Tesouro americano (de 1934 a 1945), no sentido da “ pastorilização” da Alemanha, isto é, fazê-la voltar à Idade Média, com a remoção completa do seu parque industrial. A dieta dos alemães para Roosevelt seria “sopa na manhã, sopa no almoço e sopa na jantar”.
O país derrotado seria dirigido por um Conselho de Controle - formado por autoridades das quatro nações - responsável pela execução da política de ocupação.
Acertou-se que aqueles que fossem apontados como criminosos de guerra seriam julgados num tribunal especial (a Corte de Nuremberg, funcionando a partir de 1946).

16.12.06

Lido por aí...

  • «Não ligo a mínima importância às acusações que os críticos me fazem; limito-me a mandar pôr-lhes uma bomba em casa». (Woody Allen)
  • «Aquele era um sítio onde o próprio Deus teria que entrar armado».
  • «Arrivista, é uma pessoa que usualmente tem valor mas de quem nós não gostamos.
  • «O segredo do comércio está em levar as coisas de onde abundam, para onde são mais caras».
  • «As crenças sobre a realidade alteram a realidade, que altera depois, por sua vez, as crenças».
  • «Se queres evitar a crítica não digas nada, não faças nada, não sejas nada».
  • «Para descobrir os pontos mais fracos de um homem basta observar quais os defeitos que ele próprio descobre mais depressa nos outros».

14.12.06

Flashs: Adolescentes-Geração X


* Toda a gente pretende ser jovem a qualquer preço e para tal se reclama de ter ideias, gostos, vestuários e padrões de comportamento jovens. Ser de outra forma, é um pecado civlizacional. Por outro lado os que realmente são jovens, passam a vida a lamentar-se dos seus problemas juvenis. Dá para entender ?

* As "Spice Girls", as calças "Lewis" e o "McDonalds" conseguiram criar a primeira geração de adolescentes que pensa e age de forma idêntica, quer viva em Londres, Tóquio ou em Lima. (...) A geração global (jovem), se existe, não escapa, como o resto do mundo, ao peso planetário da cultura norte-americana.

* Então a maioria dos jovens havia perdido a sua crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido – sem saber porquê. (Fernando Pessoa)

* Agora precisam de jovens desembaraçados, de espírito mais atento ao «como» do que ao «porquê» das coisas, e que sejam hábeis a mascarar, quero dizer, a conciliar o seu interesse particular muito concreto com os vagos idealismos políticos.

* Ou os jovens estão a ficar mais burros, ou o sistema de ensino – com os professores à cabeça – emburreceu; ou então está tudo bem, e burros somos, os que achamos que é urgente corrigir o ensino em Portugal.

* O perfil tipo (dos mais de 500 adolescentes pobres, anualmente mortos a tiro no Rio de Janeiro), é o do jovem negro que deixa a escola cerca dos 9 anos e aos 13 já se droga, apesar de sonhar vir a ser jogador de futebol.

13.12.06

O Livro do Bispo Atanásio


A Bíblia, é preciso recordar – e isso aplica-se tanto ao Antigo como ao Novo Testamento – é apenas uma selecção de obras e, em muitos aspectos, uma selecção arbitrária. Na verdade podia incluir muito mais livros e escritos, do que inclui. Nem se coloca a questão de os livros em falta se terem “perdido”.

Pelo contrário, foram deliberadamente excluídos. Em 367 d.C, o bispo Atanásio de Alexandria compilou uma lista das obras a serem incluídas no Novo Testamento. Esta lista foi rectificada pelo Sínodo de Hippo em 393 e Cartago, quatro anos mais tarde. Nesses Sínodos, concordou-se com uma determinada selecção. Certas obras foram reunidas para formar o Novo Testamento tal como o conhecemos hoje, e outras foram soberbamente ignoradas.

Como pôde um conclave de eclesiásticos decidir infalivelmente, que certos livros pertencem à Bíblia enquanto outros não? Principalmente, quando alguns dos livros excluídos, têm um pretensão perfeitamente válida de veracidade histórica?

Sinopse. O Sangue de Cristo e o Santo Graal – Michael Baigent e outros

12.12.06

Comunicação Gestual


Quando nos emocionamos, executamos movimentos com as mãos que reflectem o nosso estado de espírito variável.
Podemos empregar uma forte contracção, batendo com o punho para realçarmos um argumento importante, ou empregar uma delicada contracção dos dedos indicador e polegar, para sublinharmos um argumento subtil.

Podemos agitar o indicador como um cacête simbólico para batermos na cabeça das pessoas, ou apontá-lo como um punhal para fazermos vingar um argumento.

A posição da palma das nossas mãos quando falamos pode implorar (palmas voltadas para cima), repelir (palmas para a frente), estender-se para uma audiência (palmas para baixo, dedos abertos e ligeiramente encurvados), aproximar a audiência (palmas para dentro em posição de solicitar aproximação).
Sinopse. O Animal Humano - Desmond Morris (zoólogo e antropólogo)

11.12.06

Do Brasil com... Humor (2)



  • Se andar fosse bom, carteiro seria imortal.

  • Se ferradura desse sorte, burro não puxava carroça.

  • Se me vir abraçado com mulher feia, aparta que é briga.

  • Seja dono de sua boca para não ser escravo de suas palavras!

  • Sexo demais prejudica a memória e outra coisa que não lembro mais.

  • Sexo não é tudo, mas tudo sem sexo não é nada.

  • Sogra não é parente, é castigo.

  • Sou pobre, mas sou feliz: uma das duas é mentira.

  • Toda mulher é bonita... depende da distância.

  • Todo o feminismo acaba com o primeiro pneu furado.

10.12.06

O Senhor Perigo


Nos últimos anos, a América Latina tem assistido a uma sequência de vitórias eleitorais de partidos de esquerda. Esta tendência explica-se por razões diversas. (...)
Mas parece haver ainda outro motivo: Hugo Chávez. O Presidente da Venezuela tem sido ele mesmo um incentivo à moderação de partidos de esquerda nos países da América Latina. O radicalismo alheio também pode ser uma fonte de aprendizagem.
Primeiro, Chávez tem pretensões em se assumir como um líder regional, esquecendo que os Estados sul-americanos não apreciam que outros se intrometam nas suas opções internas.
Segundo, o populismo chavista descende directamente de outros populismos de má memória da região: Perón na Argentina, Cardenas no México ou Vargas no Brasil (o cientista político Jorge Casteñeda chama a Chávez um Perón com petróleo).
Apesar de líderes populistas como Chávez, Morales ou Obrador, as esquerdas não querem repetir a experiência. (...) estiveram sempre demasiado presas a ideologias políticas revolucionárias largamente incompatíveis com a democracia constitucional.
(...) O que tem acontecido: no Brasil, Lula tem governado com realismo; no Chile, Bachelet é uma conservadora fiscal; no Equador, o vencedor das últimas eleições, Rafael Correia, pertence a uma esquerda cristã moderada; e na Nicarágua até a estrela de outras épocas, Daniel Ortega, não exclui um acordo comercial com os Estados Unidos, além de ter chegado ao poder em aliança com os liberais.
Não é na Europa que precisamos de uma esquerda moderna, é na América Latina. Hugo Chávez tem ajudado. Texto completo: http://dn.sapo.pt/2006/12/09/opiniao/o_senhor_perigo.html

9.12.06

Lembrando Clarice Lispector


Clarice Lispector nasce na Ucrânia, em 1920. A sua família vem para o Brasil em 1922, aí naturaliza-se brasileira. Muda o seu nome original "Haia", para Clarice.
É originária de uma família judaica e chega a frequentar em 1930 o "Collegio Hebreo-Idisch-Brasileiro", onde termina o terceiro ano primário. Estuda piano, hebraico e iídiche. Lê Drummond, Cecília Meireles, Fernando Pessoa e Manuel Bandeira.
Começa então uma profícua carreira literária, composta por romances, contos, novelas, crónicas, entrevistas, textos para a rádio e a televisão. Deixa-nos aos 57 anos. Neste dia. Fica-nos a sua vasta obra.

*Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. ..."
* Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo.
* Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
* Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.
* Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.
* E ninguém é eu, e ninguém é você. Esta é a solidão.
* Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso.

Canal da Memória - Portugal Anos 30


Em relatório enviado em 1931 ao “Foreing Office”, a embaixada britânica em Lisboa, reconhece que o regime do Estado Novo é uma ditadura, “mas é mais representativa do que qualquer dos desacreditados governos anteriores” (da I República)

Assim era realmente. Portugal, após o pronunciamento militar de 1926 que pôs fim ao degradado ambiente em que se esvaía a República, vivia em sistema de ditadura inteiramente assumida. Não era a única, numa Europa que vivia um período complicado, mal refeita ainda dos traumas da Grande Guerra (IGM). Salazar, é convidado para assumir a responsabilidade da direcção do país. Produzirá então, durante um discurso, a célebre frase: - “Sei muito bem o que quero e para onde vou”.

O Estado Novo que propõe ao país, começa de raiz, com a elaboração de uma nova Constituição. Esta é submetida a plebiscito e aprovada massivamente. A nação portuguesa estava farta dos partidos políticos e dos políticos, da desordem social, de finanças à beira da bancarrota, de uma moeda desacreditada. Queriam que alguém ou alguma coisa pusesse cobro à essa desordem.

Diga-se, como contraponto, que então a percentagem de cidadãos com direito a voto era então, muitíssimo inferior à de hoje, embora cobrisse qualitativamente todo o universo social da nação. Só que a dignidade de eleitor não era concedida a qualquer um. O sistema “um-homem-um-voto” não se colocava na altura. Ainda está por demonstrar, que a actual banalização do direito ao voto teve resultados políticos positivos, ao induzir as chamadas “numerocracias”. Naquela altura era considerada mais importante, a qualidade da massa dos votantes que a quantidade.

Do plebiscito do ano 1933, sai uma Constituição para Portugal. De cariz presidencialista, - embora na prática seja o Presidente do Conselho de Ministros e chefe do Governo, o verdadeiro detentor do poder, -, estabelece a existência de uma Assembleia Nacional (Parlamento), constituída por 90 deputados e de uma Câmara Corporativa (um organismo com características mais técnicas do que políticas, cuja função era a de elaborar “pareceres” para os órgãos de soberania). Ambas as câmaras políticas são naturalmente compostas por elementos próximos do regime.

O parlamento, detém a capacidade legislativa e elabora leis, mas não tem qualquer função de fiscalização do governo. O Presidente da República que é empossado através de sufrágio directo por um período de sete anos, pode, em qualquer altura dissolver a Assembleia Nacional.
O regime iria auto-designar-se como uma “democracia orgânica”. Temporalmente durou até 1974, altura em que um outro pronunciamento militar, com iniciais motivações laborais que posteriormente seriam camufladas de reivindicações também políticas, derrubou o regime saído da Constituição de 1933.

8.12.06

A Lista de Schindler Nunca Existiu


Biografia sobre Oskar Schindler, o alemão que salvou mais de mil judeus das mãos dos nazistas, mostra faces menos heróicas do benfeitor consagrado postumamente pelo filme de Steven Spielberg.

A Lista de Schindler nunca existiu. Pelo menos não a lista ficcionada pelo romance de Thomas Keneally, fonte do filme A Lista de Schindler, de Steven Spielberg. Esta é apenas uma das novidades levantadas pela biografia escrita por David M. Crowe e recém-lançada nos Estados Unidos sob o título Oskar Schindler – The True Story Behind the List – o relato não narrado de sua vida, atividades durante a guerra, e a verdadeira história por detrás da lista.

Na verdade, existiram nove listas, das quais quatro foram feitas por Marcel Goldberg, um membro corrupto do chamado Serviço Judaico de Ordem (Jüdisches Ordnungsdienst), a tropa policial do gueto de Cracóvia. Schindler só pôde ter sugerido alguns poucos nomes de judeus a serem salvos, pois na época estava preso, acusado de tentar subornar o comandante da SS, Amon Göth. Crowe confirma que a versão de uma lista única, foi propagada pelo próprio Schindler depois da guerra.


O livro não questiona a coragem civil de Schindler, no entanto refere que, antes de se tornar benfeitor, Schindler fora um espião e comandante da unidade do serviço secreto que planeou a invasão da Polônia. O autor destaca que Schindler teria-se-ia oposto à deportação de judeus, também para evitar o desfalque no quadro de funcionários das suas fábricas.


Algo que a biografia de 766 páginas também destaca, é o proveito que Schindler tirou da sua amizade com judeus depois da guerra. O autor não hesita em sentenciar o biografado: "Devo admitir que fico consternado com o oportunismo de Schindler, sobretudo quando se tratava de usar os seus contatos de amizade com judeus para conseguir vantagens económicas após a guerra.

7.12.06

Dito e anotado

  • Não digas apenas meia verdade, porque te acusarão de estares a mentir, e quando disseres a outra metade, vão acusar-te de estares a mentir duas vezes. (Dito mexicano)
  • Acredita naqueles que procuram a verdade; duvida daqueles que a encontram. (André Gide)
  • Diga a verdade e fuja. (Provérbio anglo-saxónico)
  • Há tantas maneiras de dizer a verdade, que não há necessidade de mentir.
  • A verdade, é aquilo que eu conseguir meter na cabeça dos outros.
  • Não há verdades eternas.

6.12.06

Flashback IIGM - A Noite das Facas Longas


No dia 30 de junho de 1934, foi preso Ernst Röhm, um capitão, ex-colaborador de Hitler. Levado para a prisão de Stadelheim, negou-se a cometer suicídio e foi fuzilado.

Foi o culminar de um golpe militar no interior da Alemanha profunda, que ficou conhecido pela Noite das Facas Longas. Os nazistas executaram sumariamente 85 pessoas, algumas sem qualquer ligação com Röhm.

Este, fora o autor da transformação das SA (SturmAbleilung – Secções de assalto) – inicialmente uma espécie de força paramilitar privada do partido nacional-socialista, numa milícia popular formada por combatentes de rua, e alguns arruaceiros. O número de integrantes das SA subiu então de 70 mil para 170 mil em apenas 18 meses. As fileiras da milícia eram engrossadas, principalmente, por desempregados, mas eram recrutados também marginais. Uma espécie de "exército plebeu".

Röhm, um típico representante da chamada "geração perdida" da Primeira Guerra Mundial, acreditava no ideário nazista, quando aderiu ao partido em 1918; demonstrava um desprezo profundo pelo que chamava de "farisaísmo e hipocrisia burguesa" mas, secretamente nutria ambições. O sonho de Ernst Röhm era ser o comandante supremo de uma enorme força armada, resultante da fusão da SA com o exército regular. Hitler seria então "apenas" o chefe político.

A sua demagogia populista era rejeitada pela classe média e preocupava os militares e industriais, que formavam a base do regime nazista. A reivindicação de Röhm de transformar a SA numa milícia autónoma alarmou os generais, indispensáveis para os planos de longo prazo de Hitler.Como o chanceler demorasse a agir, o Exército fez-lhe ver que, se uma medida enérgica não fosse tomada, um golpe de Estado militar tiraria os nazis do poder. Foi aí que Hitler decidiu liquidar "Röhm e seus rebeldes"

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5.12.06

Psicanálise - Uma ôca e Lucrativa Superstição


Segundo Carl Schorske (em Fin-de-Siècle Vienna, 1979), Freud voltou-se para a psicologia da profundidade como uma compensação para seus ressentimentos e frustrações de judeu liberal na Áustria do fim de século; a psicanálise seria um meio de reduzir os conflitos políticos a fenómenos da psique.
Restaria saber se a psicanálise, apesar de tão precária como ciência, possui valor terapêutico. Infelizmente o “recorde” psicanalítico nesse campo é tão desanimador quanto o outro. A própria meia dúzia de casos clínicos discutidos a fundo por Freud só contém uma instância de êxito terapêutico indiscutível.
Críticas mais recentes salientam a incidência, na psicanálise, do efeitoiatrogênico”: do mal causado pelo próprio tratamento clínico. No caso do freudismo, isso parece estar bastante ligado à frequência, com que os pacientes partem para a análise já familiarizados com a doutrina, ou passam a estudá-la no curso do tratamento.
Comummente, o analisando ou ex-analisando vira um analista amador, maniacamente propenso a interpretar o seu comportamento, e o alheio, com as categorias de Freud (para não falarmos na chatice com que insiste no proselitismo). Certamente, o poder de sugestão da psicanálise é enorme – e no mínimo, bem maior do que a sua capacidade de cura.
O próprio número – escasso – de “curas” psicanalíticas não deixa de recair sob fortes suspeitas. A mais simples delas é a de que, com a longa duração que caracteriza o tratamento analítico, o paciente melhora porque melhoraria de qualquer maneira, devido à simples passagem do tempo.

Bem sei que muitos fanáticos reagiriam com o maior desprezo a estas nossas preocupações com eficácia terapêutica. Para a maioria dos analisandos “esclarecidos” de hoje, a questão da cura já era. “O importante é a gente se conhecer a si mesmo”, inclusive porque, como sabemos, neurose por neurose, “todo mundo é neurótico.” …

Hoje , torna-se cada vez mais difícil evitar a conclusão de que, em seu conjunto, ela constitui apenas uma oca e lucrativa superstição. Para o prémio Nobel Peter Medawar, o “dinossauro” representado pelo freudismo é “o mais estupendo embuste intelectual do século XX”.

Sinopse. Texto de José Guilherme Merquior, Professor universitário e Diplomata brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras.

Outdoors, Letreiros e Letrei...ratura

Se hoje os anúncios são publicados em jornais e na Internet, e a publicidade usa outdoors, colunas rotativas e os mais variados recursos multimédia, isso não quer dizer que sempre tenha sido assim. Em Atenas e na Roma antiga, por exemplo, leis, editais e as decisões do Senado eram gravadas em placas de mármore ou metal e afixadas em lugares públicos.

Com a invenção do papel, começou a produção de cartazes, não apenas para a divulgação de avisos de carácter oficial. Na Roma do Renascimento, os cartazes serviram de veículo para grandes controvérsias, travadas com o bom humor de sátiras e caricaturas, enquanto na Alemanha, cartazes ilustrados e panfletos ajudaram a divulgar a Reforma protestante.

A importância dos cartazes aumentou com os séculos, à medida em que avançou sua utilização como reclame de produtos. Ao mesmo tempo, faltava espaço para colocá-los nas cidades. Até meados do século XIX, os "affiches", como eram chamados na França, eram afixados realmente em tudo quanto é parede, portão, muro ou árvore, por mais que as autoridades tratassem de regulamentar a propaganda no espaço público, cobrando taxas e concedendo licenças, os cartazes, colados. Uns sobre os outros, eles infestavam (e continuam a infestar) as metrópoles.

4.12.06

Gestos & Sentimentos



Em algumas culturas, a supressão da linguagem corporal, torna-se uma ostentação de classe social. O auto-controle torna-se um sinal de estatuto elevado.

Monarcas e estadistas podem ser vistos com frequência a executar alguns sinais reveladores de apreensão e ansiedade ligeiras, quando participam em acontecimentos importantes.

Um sinal claro de ansiedade é fornecido por essas pessoas, no momento em que têm de atravessar um espaço aberto, pêra serem saudadas pelos seus anfitriões. Ao fazerem-no, executam aquilo que se chama o “sinal da barreira”. Criam um “pára-choques” protector em frente ao corpo.

Os homens fazem-no normalmente puxando por um punho da camisa, ajustando um botão de punho ou o relógio de pulso, como se a figura inconsciente estivesse com os braços, a construir uma barreira, uma protecção corporal.
As mulheres importantes, ao chegarem a esses acontecimentos e na falta de botões de punho, corrigem frequentemente a posição da mala de mão no antebraço, ou executam outros minúsculos ajustes na roupa, que fazem erguer o braço como defesa inconsciente contra a pensão do momento.
Sinopse. O Animal Humano - Desmond Morris (zoólogo e antropólogo)

3.12.06

Neste dia ...


No dia 3 de Dezembro de 1954, Marlon Brando, então com 23 anos, fez sua estréia como actor na Broadway com a peça de Tennessee Williams,"Um Eléctrico (Bonde) Chamado Desejo", mais tarde levada ao cinema.

A interpretação da personagem Stanley Kowalski, marcou a segunda metade do século 20. Para o crítico de cinema Richard Schinkel, "com seu carácter rudimentar e honesto, Brando deu uma nova dimensão à dramaturgia". Ganharia o primeiro Óscar com o filme On the Waterfront (Sindicato de Ladrões no Brasil e Há Lodo no Cais em Portugal), dirigido pelo director Elia Kazan.

Nascido no Nebraska, numa família destruída pelo alcoolismo, Marlon Brando ingressou no mundo do teatro depois de ter sido expulso da escola militar, mas nunca atigiu a sua ambição de representar o Hamlet. "Ele acabou por ceder à obesidade e ao mau humor, à falta de amor próprio e à auto-paródia", escreve Schinkel. Personificou um estilo de personagem que se descontrolava tanto no palco quanto na vida privada.

Politicamente, a super-estrela dos anos 50 era um liberal. Lutou contra a discriminação racial no sul dos Estados Unidos e negou-se a continuar trabalhando com o director de “Um Eléctrico Chamado Desejo”, Elia Kazan, depois que este denunciou artistas de Hollywood, supostamente comunistas, diante da Comissão McCarthy.

No show de Larry King Live do dia 5 de Abril de 1996 afirmaria que "Hollywood é dirigida por judeus - é dos judeus!". Adicionou que os judeus haviam caluniado todos os outros grupos raciais, "mas são sempre cuidadosos em que nunca haja qualquer imagem negativa do judeu". Isso valeu-lhe ser rotulado de "anti-semita" e, perante os problemas que daí lhe advieram, viu-se forçado a pedir desculpas aos judeus, que controlam o Centro Simon Wiesenthal do Holocausto em Los Angeles.

O seu estilo como actor alcançaria o auge do sucesso e da fama nos anos 70, com “The Godfather” (O Poderoso Chefão, no Brasil, e O Padrinho em Portugal) e O Último Tango em Paris, entre outros, tendo sido premiado com dois Óscares pela Academia de Hollywood.

O modo característico de falar de Brando, rendeu-lhe o segundo Óscar, mas o actor recusou o prémio e, na festa de entrega, atacou a política dos Estados Unidos. Em O Último Tango em Paris, rodado no mesmo ano, revelou os primeiros sinais de decadência, em controvertidas cenas de sexo explícito. O seu falecimento ocorre em 1 de Julho de 2004.

Memória - "Leiteiro à poooorta..." (pregão)


Portugal: em 1931 proíbe-se a venda de leite mungido à porta do cliente, porque era dessa forma que o abastecimento de leite se fazia em muitos locais urbanos.
O leiteiro, rebocava uma ou várias vacas leiteiras e ordenhava-a directamente para o recipiente que o cliente lhe apresentava. Era o conceito de “leite fresco” levado ao extremo.
As autoridades sanitárias da época tinham outra opinião e, a partir de então, o leite para consumo passou a ser obrigatoriamente canalizado para centrais de recolha do leite, onde o mesmo era analisado por veterinários.
As vasilhas destinadas ao transporte e distribuição, também foram normalizadas e seladas pela autoridade sanitária. A partir daí, no fornecimento porta-a-porta, o cântaro metálico de que alguns ainda se lembram, ocupou o lugar anteriormente preenchido pela vaca leiteira.

2.12.06

Psicanálise – Um Curandeirismo Sofisticado


A psicanálise goza de inegável prestígio no mundo ocidental. Mas esse prestígio possui duas dimensões. Por um lado, é uma posição intelectual; por outro, um status social. O freudismo virou uma verdadeira cachaça intelectual – e os preços mirabolantes das consultas de analistas atestam que a implantação da terapia do divã é um sucesso de estrondo. Daí a conveniência de aquilatar o valor da psicanálise.
Em seu conjunto, a psicanálise nunca abdicou de suas pretensões científicas – e é de supor que a maioria de seus clientes ainda a tomem como um saber racional, e não como um simples curandeirismo sofisticado.
Testar a força explicativa das teorias de Freud significa medir seu coeficiente empírico. Neste ponto, uma primeira dificuldade refere-se ao próprio conceito básico, o de inconsciente.
Sendo, como é, por definição, estritamente privado e inacessível o exame directo, o inconsciente freudiano não é, em si, empiricamente investigável. No entanto, o obstáculo é menos terrível do que parece.
Também na física muitas entidades sub microscópicas têm sua existência postulada, sem que possam ser directamente observadas. A validez empírica da teoria cinética dos gases, por exemplo, repousa na construção teórica que engloba essas quantidades inobserváveis.
O importante é que, da teoria, podem ser derivadas hipóteses testáveis. O mesmo se passa com a teoria da estrutura atómica de Bohr. Numa palavra: tudo depende da capacidade que a teoria revele de prover entre pressupostos conceituais e o plano do fenómeno, do observável. Ora, essa capacidade, na teoria freudiana do inconsciente, é praticamente nula.
O mal da psicanálise é que ela padece de um tremendo apetite de inclusão: forceja por adaptar tudo, mesmo o contraditório, às suas pseudo-explicações.
Quando se vai ver, caímos no vício que Chesterton ridicularizava em certos biógrafos: a mania de achar tudo tão “significativo”, que, “se o biografado deixa cair seu cachimbo, isso é sinal de sua característica negligência; mas se ele o apanha, isso é típico de seus hábitos cuidadosos...”
Sinopse. Texto de José Guilherme Merquior, Professor universitário e Diplomata brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras.