Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

28.12.06

Testemunhas do Século XX (3)


José Hermano Saraiva

… continuado
Na crise estudantil de 69, era ministro. Como foi? - Foi um episódio menor, sem importância alguma. O Presidente da República foi lá inaugurar um edifício e houve ordens terminantes para a polícia não se meter naquilo. Nem à paisana nem fardada.


A crise académica não durou só uma tarde ? - Não estava cá o Marcelo (Caetano), estava em África. Quando veio três dias depois, eu disse-lhe: "Aquilo não foi intencional, não foi preparado, não é uma falta de respeito. E só tem a importância que a gente lhe der. Em minha opinião, não tem importância nenhuma."


Mas o Marcelo disse: "Mas em minha tem. O chefe de Estado é o chefe de Estado, e o senhor tem de suspender já..." "Mas quem é que quer que eu suspenda? Estavam lá todos." "Suspenda a Associação Académica." Suspenderam-se, nomeou-se um juiz para os ouvir. Eles entram em greve, uma greve tumultuosa, e aquilo avoluma-se. Há uma manifestação. O reitor alarmou-se e é pedida pela Universidade ao Ministério do Interior a presença da companhia de intervenção da Polícia.


A minha intervenção foi impedir isso. Pedi ao dr. Marcelo e fui à televisão fazer um "sermonete" que teve exactamente o resultado que esperava que tivesse. As famílias vieram buscar os filhos, foram-se embora, tudo calmo." A normalidade recomeça. Depois vieram os exames e os grevistas fazem piquetes para impedi-los, o que, a meu ver, é absolutamente contra a liberdade. As minhas ordens foram: quem quer fazer exame faz, quem não quer não faz. A única sanção é que quem não faz exame não passa.


José Hermano Saraiva ocupou cargos vários políticos e afirma que não concordava com a censura nem a PIDE mas que nunca foi da oposição.

Convidado para ocupar a pasta da Educação Nacional, tomou posse em Agosto de 1968, pouco antes do acidente que afastou Salazar que o tinha levado para o lugar, "o homem mais inteligente que conheci",


Continuou ministro com Marcelo Caetano, mas acentua as grandes diferenças entre os dois. Elogia em Américo Tomás um homem honrado, aluno distinto da Escola Naval, classificado com 20 valores em Matemática na Faculdade, mas acrescenta que não tinha o menor sentido político e ainda menos o dom da palavra.


Sobre os tempos actuais reflecte: "A verdade deixou de ser o mundo. A verdade passou a ser a notícia. A gente vive num mundo de realidade virtual. É como os jornalistas no-lo descrevem. No-lo inventam. No-lo servem."; O mundo mudou de uma forma "extremamente rápida no plano dos factos técnicos e muito mais lenta no plano das ideias e dos factos teóricos. É como um rodado de um carro em que uma roda anda mais depressa do que a outra.

Sinopse. Entrevista ao jornal O Público

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