Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

9.11.09

Sexo na Estrela



A cidade também teve o seu bairro vermelho, onde as prostitutas, legalizadas e devidamente recenseadas pelas autoridades policiais e sanitárias, residiam e desenvolviam a sua "arte" e negócio. 

Esta “arte” , viria a conhecer mais tarde, por parte de movimentos emancipatórios das trabalhadoras do sexo e de alguns sociólogos - só bem mais tarde, porque a rígida moral  de então, não o permitia -, uma denominação menos estigmatizante socialmente do que a habitual designação de “putas”. Pretendeu-se, e bem, dar alguma dignidade e segurança a uma profissão que se diz ser a mais antiga do mundo, propondo inclusivamente classificar em sede fiscal estas profissionais, como “prestadoras de serviços afectivos”.

Entretanto, nesses anos 50 de que se ocupa esta crónica, a Rua da Estrela - o Bairro Vermelho local -, era para a gente do burgo: a “Rua das Putas” e ponto final. Já sem as ditas, metade da rua sobreviveu até ao presente, porque o camartelo municipal derrubou a outra metade.

Por esse tempo, “ia às putas” gente muito diversificada: homens em busca de sexo puro e duro, operários, soldados, pessoas solitárias, tímidas ou mais desfavorecidas quanto ao aspecto físico, incapazes por si mesmas, de estabelecer relacionamentos que possibilitassem uma relação sexual normal e, por isso, tinham de recorrer a sexo mercenário, e também gente anónima no geral.
Não eram tão raros assim, casos de homens conhecedores do meio, que, por conhecimento próprio ou por indicação de alguém, confiavam a algumas dessas mulheres mais experientes, a iniciação sexual dos seus jovens filhos.

Em razão do que se oferecia e se comprava por ali, estranhamente não eram conhecidos na cidade escândalos ou alterações da ordem pública de qualquer espécie naquele local. Este, era vigiado regularmente pela polícia para protecção, quer das prostitutas quer dos seus clientes ocasionais, impedindo o proxenetismo, essa praga incontrolável da prostituição de rua.

Evidentemente, cada pequeno bordel da Rua da Estrela tinha uma “madama” que geria o negócio às claras, e a quem podiam ser pedidas responsabilidades tal como a qualquer outro empresário de diversões. Por sua vez as “meninas” iam obrigatoriamente a inspecções sanitárias regulares, por razões de saúde pública e para prevenir a contaminação de doenças venéreas. Na realidade aquela actividade era um serviço público, e é necessário ser-se muito hipócrita ou ignorante, para o não entender como tal.

Em Setembro de 1996, um dos Decretos mais cretinos e disparatados que a folha oficial alguma vez publicou, proibiu a prostituição. As iluminadas cabeças ministeriais afinal não tinham aprendido nada com a História. A prostituição nunca acabou nem acaba. Apenas muda de forma quando necessário. Foi o que aconteceu em Portugal. Da relativa Ordem que se vivia adentro desses bordéis legalizados, passou-se para o vale-tudo dos engates de rua, para os estabelecimentos de restauração ou diversão apenas como camuflagem para locais de oferta e procura de sexo, para o total descontrole sanitário do sexo público, para o tráfico de mulheres, a marginalidade e inevitavelmente a proliferação de drogas de hoje. Formalmente e de acordo com o preâmbulo do decreto, tudo para “salvaguarda da moral pública”... 

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3.11.09

O Sexo e Esta Cidade


Por aqui, durante a década dos anos 50, verificaram-se alguns escassos vislumbres do que viria a ser a revolução sexual do pós-guerra nas décadas seguintes. Entre nós, essas coisas, sejam costumes, cultura ou ciência, vem normalmente tarde e de fora para dentro. Como dizia Eça de Queirós: importamos tudo a começar pelas ideias.

Havia e continuou a haver uma moral sexual pública, oficiosa e supostamente conforme com os bons costumes, muito formatada pelas doutrinas da Igreja Católica, que sempre entendeu que sexo e demónio eram sinónimos ou andavam por perto. Paralelamente coexistia uma outra moral privada, mais livre de dogmas, em que cada um fazia aquilo que em consciência achava melhor, e a própria sociedade enquanto tal, tolerava, desde que se mantivesse um mínimo de decência e recato.

Para o exterior, vinham somente os médios ou grandes desvios às normas morais instituídas, quando caíam no domínio público e se constituíam então em escândalos à escala local, quando protagonizados por figuras conhecidas, ou ainda pequenas histórias picarescas, apimentadas com algum sexo, que o “contaram-me” e o “ouvi dizer” ia propagando pela cidade.
Na altura ficou famosa e correu gerações, uma cantiga contendo uns versos brejeiros que envolviam sexualmente um comerciante, o Francisquinho da Padaria com uma outra pessoa. Os que ainda recordam a cantiga e os versos, sabem a quem me refiro ...

Outra história picaresca teria ocorrido aqui nesses anos 50; quem conheceu a senhora em questão diz que ela negava a veracidade da história. Seja como for, a que circulou era assim: a senhora, à época, trabalhava na fábrica do industrial José Vicentino – um ex-operário que conseguira ascender ao empresariado têxtil - de quem seria também amante, ... com a “tolerância” do marido, porque, enfim, a vida estava má e dali sempre entrava “algum” para a casa.


Num certo dia o nosso Zé Vicentino, parou o carro lá à porta a uma hora inusitada. Enquanto subia a escada, a senhora teria dito ao marido: - “Esconde-te que vem aí o senhor Zé!”; o referido não precisou que lhe repetissem a ordem e, como a casa era pequena e não havia outro sítio para se esconder (nas comédias de costumes costuma haver um roupeiro que salva a situação, mas neste caso não havia), meteu-se rapidamente debaixo da cama do casal.

O patrão Zé entra para o quarto e começa logo por dizer à operária, que estava com bastante pressa porque ia dali directamente para Lisboa. – “Passei só para perguntar se precisas que traga alguma coisa para ti?” - Ela responde que não. – “E o teu homem precisará de alguma coisa?" – Ela, hesita, pensa um pouco e diz: - “Só se fossem uns sapatos senhor Zé!...”. O outro pergunta: - “Que número é que ele calça?”. – “É.... (pensa um pouco), 39!”. O marido, debaixo da cama já se está a ver com uns sapatos apertados e não se contém: do seu esconderijo diz: - “Ó minha burra! Não é 39, é 40 !” ....

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