Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

27.6.07

Música, Memória e Video-Clips (2)


Por oposição e contraste, uma cacofonia de acordes dissonantes e sons estridentes, desde que suportados por batidas rítmicas tipo “abana-cabeças”, tenderá a provocará impulsos para movimentos corporais epiletoformes


Ouvir música, induz em nós estímulos e sensações que são diferentes de uma pessoa para outra. Uma determinada obra musical feita dentro de princípios da física dos sons, - aquilo a que os músicos designam por “harmonia” – assentando num suporte melódico agradável ao nosso ouvido, poderá provocar sensações delicadas, relaxantes ou até mesmo românticas, no comum das pessoas, enquanto que para outras, inspirará apatia ou desinteresse.

Por oposição e contraste, uma cacofonia de acordes dissonantes e sons estridentes, desde que suportados por batidas rítmicas tipo “abana-cabeças”, tenderá a provocará impulsos para movimentos corporais epiletoformes, noutras pessoas, embora, na maior parte das vezes, esses tipos de comportamentos tenham motivações que pouco tem a ver com o tipo de música em si mesma e muito com fenómenos sociológicos de outra grandeza. Assim, como assim, até na reacção aos sons produzidos por instrumentos musicais, se evidencia que somos todos diferentes. E muito.

Para além disso, e sem nos afastarmos de observar as nossas capacidades sensitivas perante a música, as suas formas próprias de processamento dentro do cérebro humano, poderá, por pura especulação imaginativa - sem qualquer suporte científico - colocar-se uma hipótese:

Será que, a nossa mente, tem formas de organizar e armazenar a informação que recebe, de modo semelhante ao que ela é gravada nos nas memórias de silício dos computadores? E se, tal como estes, - que nada mais são do que uma réplica rudimentar da mente humana – retivéssemos essa informação através dos nossos neurónios, dendrites e axónios, organizada por um processo semelhante ao que se verifica nas memórias de silício, comportando igualmente um sistema de “endereços” neuronais e índices, com a função de racionalizarem e agilizarem as busca na memória?
Porque não?
E não se esperem respostas conclusivas dos neurologistas, porque eles parecem ainda estar a muitos anos-luz deste tipo de conhecimento do nosso cérebro.

Se assim fosse, esses endereços e índices neuronais, poderiam até comportar simultaneamente automatismos para o seu acesso rápido, através de algo a que, à falta de melhor, poderemos designar por “marcadores”.

Casos haveria em que o elemento marcador para um determinado acontecimento, que gerou uma quantidade de informação no nosso cérebro poderia ser uma música que, sempre que escutada, nos transportaria mentalmente até ao acontecimento marcado e simultaneamente a toda a sua envolvência – ambientes, pessoas, temporalidades.
Daí que poderemos especular, que bem pode haver no nosso cérebro, uma espécie de banda sonora que comporta uma parte das nossas vidas. No meu, há sem sombra de dúvida. Tenho tendência a associar temas musicais a momentos da minha vida.

Mas não só. Se, como todos temos experiência, tendemos a fantasiar as imagens que consideramos mais próprias para materializar os sons de uma música que escutamos; se damos corpo mentalmente às personagens de um livro que estamos a ler, - que certamente seriam diferentes na imaginação do autor do livro - então nós, ou a maior parte de nós, tem uma mente geradora de imagens virtuais, uma mente, diríamos, cinematográfica, que funciona da mesma forma da de um realizador de cinema, que, antes de começar uma obra assiste à sua projecção dentro da sua cabeça.

Onde quero chegar? A que, muito antes de eles servirem para apoiar técnicas de marketing, o nosso cérebro já produzia filmes e vídeo-clips feitos a partir da informação musical ou de ficção literária que ia absorvendo. A indústria discográfica iria fazer grande aproveitamento desta caracteristica.

18.6.07

Recado (atrasado) a Joaquim Letria


Acompanho há muito a sua carreira profissional, gosto do seu estilo e até da forma como expressa as suas ideias. Infelizmente não o vejo com frequência na TV, onde acho que continua a ter lugar, não obstante as "barbies" terem por ali invadido tudo. Vai restando o Mário Crespo, sabe-se lá até quando.

Porém caro Letria, eu não lhe escrevo só para lhe enviar elogios - que sinceramente acho que merece. Venho ajustar umas "pequenas contas" que tenho consigo, que, se não lhas referisse, iriam ficar-me atravessadas na garganta até ao fim da minha vida.

Ler a sua coluna "25ª hora" no "24 Horas", o artigo "Angola vista pela OCDE" fez-me viajar no tempo. Aí até ao ano 74 ou 75. Na RTP era anunciada uma "caixa sensacional" a transmitir no jornal da noite: «o nosso enviado especial Joaquim Letria, consegue a PRIMEIRA ENTREVISTA com o lider moçambicano Samora Machel»

Naquela altura as pessoas, eu pelo menos, nem sabíamos "de que terra eramos", tão desorientados e atónitos com os revolucionarismos e progressismos triunfantes. Havia ainda em nós, residual, um "portuguesismo" mais feito de raiva e resistência do que de opção política (eu, então, como hoje, só sabia que não era de esquerda), e pouco mais.

É nesse estado de espírito que aguardo o telejornal das oito, para ver a tal "caixa jornalistica". Ela surge. Algures na mata de Moçambique caminhava um personagem de opereta que dava pelo nome de Samora Moisés Machel - o tal, que ainda faria rir imenso muitos portugueses.

Enquanto caminhava, o tal lider, de forma displicente e algo sobranceira, ia falando para o nosso Joaquim Letria que, de microfone em punho, embevecido e subserviente esforçava-se por acompanhar o passo do "notável", que nem se dignava parar, para mostrar bem quem estava por cima e quem estava por baixo.

Então o microfone de Letria trouxe-nos palavras do ex-enfermeiro do exército português, permitindo-se dar conselhos a uma nação com oito séculos de história: «vocês portugueses devem cuidar de fazer escola, fazer hospital e não andar a discutir política ...» Era só isto a "entrevista".

Ouvi. Vexado. Um jornalista português a ser tratado daquela forma, quanto a mim, indigna, e com uma passividade total. Senti vergonha, raiva. Na altura fiquei furioso com vc. Letria.

Hoje, quando o vejo a referir-se à "corrupção endémica" e ao "crescente poder da elite presidencial", - eu sei que se refere a Angola mas, ...ali em Moçambique será muito diferente? - ao recordar a sua "caixa jornalística" desse tempo recuado e sobretudo a subserviência da sua atitude, ainda me ocorre uma só palavra. Letria: Porra! Ainda mantém essa nódoa no seu curricula profissional?...

Um abraço para si e votos de muita saúde.

16.6.07

Reflexões sobre Sexo e Sexos


* Nos EUA a lei proibe qualquer investigação sobre a conduta sexual das queixosas, nos casos de assédio sexual. (Violence Against Women Act – 1994)

* As divisões sexuais entre homens e mulheres, emergiram por selecção natural, como resultado dos diferentes papéis biológicos dos dois sexos na reprodução, e evoluiram no sentido da vantagem máxima para ambas as partes. (Steven Goldberg - The Inevitability of Patriarchy)

* (...) os homens negros heterossexuais são 14 vezes mais propícios que os homens brancos heterossexuais de serem portadores do vírus da SIDA. Está demonstrado também, que enquanto a SIDA entre brancos é maioritariamente uma doença de homossexuais, entre os negros é uma doença de heterossexuais. (Le Soir)

* Veio a liberação sexual, mas veio a masculinização da mulher e a feminização do homem, com a moda unisex, por exemplo, que por trás do facto de ser um sistema de merchandising altamente rentável, pretende que o homem e a mulher se despersonalizem e percam, cada um, sua identidade sexual. Daí essa tendência maior que vem ocorrendo ao homossexualismo. (anónimo)

* Em todas as sociedades humanas ao longo da História encontramos um patriarcado; a autoridade e a liderança setiveram desde sempre associadas ao Homem. Tal universalidade parece significar a forte possibilidade de que se trate de manifestações sociais inevitáveis da fisiologia humana. Qualquer tentativa para a criação de uma sociedade diferente terá que falhar por acção da pressão inexorável de poderosas forças biológicas, familiares e sexuais, que sempre acabarão por vencer a implementação temporária destas idéias utópicas. (Steven Goldberg - The Inevitability of Patriarchy)

* Com uma concentração no corpo dos homens negros de entre 3 e 17% de hormonas masculinas, "testosteronas e derivados" (as quais controlam ou regulam a impulsividade, o desejo sexual, os desejos primarios), não é difícil entender porque às vezes, nos resulta aparente o seu alto nivel confrontacional ou a violência da sua conducta en muitos casos; mesmo assim, não é raro ver as razões porque a maioria dos violadores em todas as partes do mundo, são negros. (in tese de mestrado na Universidade de Nantes)

* É certo que há mais liberdade sexual do que nunca, mas também é verdade que, nunca na História da humanidade houve tantos depravados, violadores, prostitutas e invertidos como nos nossos dias. È isto o progresso? (Revista Visão)

13.6.07

Reflexões sobre Liberdade



  • A liberdade é uma das poses mais preciosas da imaginação. (Ambrose Bierce)

  • Nenhum homem combate a liberdade; combate, quando muito, a liberdade dos outros. Sempre existiram todos os géneros de liberdade, só que umas vezes como privilégio particular e outras como direito universal. (Karl Marx)

  • Quem experimentar ser verdadeiramente livre arrisca-se a morrer de fome. (Vitor Cunha Rêgo - jornalista)

  • A quanta pobreza resiste a liberdade ? (Zélia Cardoso de Melo - Ministra Brasileira)

  • Onde o Estado começa acaba a liberdade individual e vice-versa. (Bakunin - Anarquista e revolucionário russo)

  • A liberdade existe sempre. Basta pagar o que custa. (Montherlant)

  • Logo que as pessoas têm dinheiro suficiente para não se preocuparem com a sobrevivência começam a preocupar-se com a liberdade. (Michael Hsiao - Académico chinês)

  • Liberdade é o direito de fazer tudo o que a lei permite. (Montesquieu)

  • É verdade que a liberdade é preciosa; tão preciosa que deve ser racionada. (Lenine)

  • A igualdade não pode existir sem se nivelarem as liberdades, desiguais por natureza.(Charles Maurras)

  • As leis não são medidads repressivas contra liberdade, da mesma forma que a gravidade não é uma lei repressiva contra o movimento. (Karl Marx)

  • De que adianta a liberdade política para quem não tem que comer ? Ela só tem valor para teóricos e políticos. (Jean Paul Marat)

  • Infelizmente a liberdade e a igualdade são princípios opostos. E quando a liberdade é suprimida em nome da igualdade, esta mesmo acaba por não existir. (Carl Popper)

10.6.07

Democracia é ...

  • ... o sistema que garante sermos tão bem governados como merecemos (Bernard Shaw)
  • ... um sistema social em que dizes aquilo que pensas e fazes aquilo que te dizem para fazer. (Gerald Barry)
  • ... aquela forma de governo em que toda a gente recebe aquilo que a maioria merece. (James Dale Davidson)
  • ... o menos mau dos sistemas políticos; aquele que permite aos cidadãos a escolha da oligarquia que os irá governar. (Bourbon Busset)
  • ... a arte de fazer crer ao povo que é ele quem governa. (L. Latzarus)
  • ... um sistema político que assenta no poder do número. (Alfredo Pimenta)
  • ... quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim. (Millôr Fernandes)
  • ... baseada na luta de classes e apoiada pelo hiper capitalismo que impôe a ditadura internacional do dinheiro. (Leon Degrelle)

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8.6.07

Música, Memória e Video-Clips (1)


De que forma a nossa memória interage com a música, particularmente com a música popular?

Porque motivo algumas músicas conseguem estabelecer connosco uma relação imediata de empatia, ou, como se diz, nos “entram facilmente no ouvido” ao escutá-las logo pela primeira vez e outras, obedecendo também às mesmas actuações promocionais das editoras, mau grado os nossos ouvidos serem massivamente bombardeados com elas, não conseguem ultrapassar a barreira da nossa indiferença, quando não da nossa rejeição?

O factor qualidade? Não creio. O factor repetição, forçando uma habituação, saturação, e finalmente a aceitação pelos nossos sentidos? Também não. Tem que haver outras respostas ...

O ministro da Propaganda do III Reich alemão Joseph Goebbels, demonstrou que uma estratégia de comunicação massivamente repetitiva, funciona muito bem na veiculação de ideias políticas. A publicidade, o marketing e os partidos políticos, usam essa técnica exaustivamente. Até admito que ela possa impor, a um “consumidor” audiófilo pouco exigente, um determinado estilo, um artista. Duvido porém, que a melhor das campanhas de marketing consiga realmente produzir um verdadeiro êxito “musical” – com impacto, para além daquela faixa de consumidores chamados "early-adopters", ou seja dos fanáticos do novo. do modismo, e dos “tops”; um grupo paricularmente volátil, porque logo-logo estará a caminho do próximo modismo.

Claro que se eu soubesse a resposta para produzir um sucesso musical, tornava-me compositor de canções e editor musical. Porém, muitos anos a “consumir” todo o género de música, levam-me a questionar algumas questões.

O maestro António Vitorino de Almeida, com a sua habitual ironia, dizia: -« algumas músicas entram-nos tão facilmente no ouvido, que é como se, remotamente, já lá estivessem!» E é muito possível que tenha razão. Nada sei de música, mas, é óbvio que o número de variações que se podem obter com sete notas musicais, não é infinito.

Por outro lado, é um facto evidente, que ninguém que componha música, tem o seu "ouvido-memória" totalmente virgem. Lá dentro, residem já milhares de acordes, melodias, cadências etc., num registo histórico de toda a música que ele foi ouvindo no decorrer do tempo.

Logo a "autêntica originalidade", em obras musicais, deve ser um fenómeno muito raro; portanto, na grande parte das obras musicais que ouvimos, e que até em certos casos fazem os êxitos do momento, há enormes probabilidades de estas não serem mais do que colagens, misturas, arranjos e versões pseudo-originais, de outras obras musicais que já existiam.

Eu delicio-me a imaginar, um cenário em que alguém tivesse a iniciativa de fazer um programa de computador, contendo uma base de dados digitalizada das obras musicais de que há registo e memória e, a partir dela, fizesse um cruzamento analítico com as músicas supostamente originais, editadas durante os últimos 30 ou 50 anos, utilizando, por exemplo, como critério de selecção, aquele número de “compassos” sucessivos, que as leis de protecção
da propriedade intelectual, consideram suficientes, para se determinar como um mínimo de segurança, estar perante uma situação de plágio.

Seria interessantíssimo. Imaginem um computador a analisar e comparar, musica a música, apenas as partituras ou as partes de piano das "novidades musicais" que fossem surgindo no mercado da música espectáculo - entretanto digitalizadas -, olimpicamente insensível ao "chantilly" composto a partir dos efeitos cénicos e visuais que geralmente as decoram e tentam originalizar?!...
Hmmm... Estão a antever os mesmos resultados que eu?...

5.6.07

Memória - O Flashback da TSF


Tentando dar alguma organização aos meus suportes magnéticos onde guardo muitas gravações áudio, dou comigo a ouvir algumas cassetes, com registos do programa “Flashback” que até 2003 passava regularmente na TSF, com os comentadores residentes da actual “Quadratura do Círculo”, exceptuando Jorge Coelho, que veio substituir José Magalhães, quando este entrou para o governo. Deus meu! Aquele José Magalhães era, (ainda é?!) mesmo um “cromo”. Anda actualmente um pouco apagado dentro do governo, mas este homem é um verdadeiro político-espectáculo.

Dizia-se que Marcelo Rebelo de Sousa, era capaz de escrever com ambas as mãos, ao mesmo tempo, textos independentes e diferentes. O José Magalhães realiza um feito semelhante: raciocinar sobre algo, que nada tem a ver com o discurso que entretanto vai saindo sai da sua boca, como se deixasse desenrolar uma fita magnética previamente gravada (resquícios da fase PC) , sobrepondo esse som, em forma de ruído de fundo ininterrupto, às tentativas de comentários contraditórios dos seus parceiros de programa. Pacheco Pereira, definiu um dia esta característica do José Magalhães com a frase –«José Magalhães consegue falar mais depressa do que pensa».

Saído em 1990 de um Partido Comunista enfraquecido e sem perspectivar carreiras políticas atraentes, José Magalhães, que escolhera abraçar a política como profissão, adere ao socialismo de gaveta da versão Partido Socialista.

Entre os dois emblemas, Magalhães cuida da sua imagem, cultivando um aparente periodo de nojo político, integrando as listas eleitorais dos socialistas com o rótulo de independente, o que convenha-se, era uma estratégia com ganhos para ambos os lados.

Mas Magalhães, quiçá justamente, tinha ambições mais altas do que uma bancada de deputado, e o estatuto de independente podia ser um entrave à gestão da sua carreira política e a vôos mais elevados dentro do partido. Então, como um jogador de xadrês, move a peça certa: em 1999 preenche a sua ficha de miliante do PS. A recompensa para essa estratégia não tardaria a surgir. O Partido Socialista ganharia eleicões e formaria o XIV Gogerno Constitucional e o "militante" José Magalhães obteria a pasta de Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.

Goste-se ou não do estilo político de José Magalhães tem que reconhecer-se-lhe o mérito de ter subido na carreira através de uma gestão inteligente. Não se lhe conhecem grandes ideias para a gestão da "polis" mas, nesse pormenor não é muito diferente da generalidade dos políticos de carreira portugueses. Aonde Magalhães faz a diferença, é no seu interesse pelas novas tecnologias da informação e no seu esforço de as democratizar. Escreveu alguns livros interessantes abordando esse assunto, nomeadamente um Roteiro para a Internet.

Em regra, por onde passa deixa marcas, nem sempre as melhores, mas tenta não passar despercebido. Recordo os seus “apartes” parlamentares – “Que o senhor deputado grunha como um porco na altura da matança, não nos afecta”. Ou ainda quando convocou os telejornais para lhes comunicar a descoberta sensacional, de que os computadores da Assembleia da República tinha “drives” feitos na Indonésia, que na altura era a “bete noir” da política externa portuguesa por causa de Timor.

No programa que sucedeu ao Flashback, a “Quadratura do Círculo” (SIC) o substituto de José Magalhães, Jorge Coelho tem, embora defendendo a mesma bandeira e as suas ambiguidades políticas, tem uma postura diferente. Hoje, Coelho está diferente. Tem hoje uma certa pose de estado. A experiência política e humana – julgo que teve graves problemas de saúde – tornaram-no num político mais moderado. Para trás ficou, felizmente, a sua fase caceteira quando gritava: - “quem se mede com o PS leva!”, e também, o seu deplorável português de ministro: - “hadem ver, hadem ver!...”

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4.6.07

Portugal Anos 50 (2)



Damas ao Chá !




Composto de gente o recinto, o “mestre de sala” – um dos organizadores mais respeitados na vizinhança – dava início ao baile. Quem controlava o gramofone, colocava então o primeiro disco. Tocado este, havia uma breve pausa para dar oportunidade de os pares dançantes se refazerem.

As gravações “non-stop” ainda não existiam e os “Dj’s” também não. Nem estes últimos faziam falta, de resto tal como hoje – penso eu – que percebo mal, o que de substantivo vem trazer à audição de um disco, planeado ao pormenor por criadores, músicos e engenheiros de som, um tipo qualquer com um boné de basebol voltado para trás e tiques esquizóides, que com as manápulas sobre a superfície do disco, altera a sua rotação natural dando origem a guinchos, choros e outros “efeitos sonoros” perversos.

A forma como os pares se constituíam, era inicialmente por iniciativa do homem, que se dirigia à dama sentada no recinto do baile, utilizando, ainda que com variações, mais ou menos a fórmula clássica – “a menina dança?” – frase que deu, anos depois, o título a um conhecido programa de Jazz. Em rigor, parece que com o tempo essa frase foi sintetizada, porque originalmente, a fórmula seria – “a menina dança, tem moço, ou descansa?

Então a “menina” aceitava ou rejeitava, consoante o grau de simpatia que o convidante lhe merecia ou, algumas vezes, obedecendo a instruções sussurradas pelos familiares mais velhos que a custodiavam. Estes, podiam não gostar da forma demasiado exuberante e aproximada como determinado pretendente a dançarino, enlaçava os seus pares, e vetavam-no. Nessas situações, havia uma recusa liminar e o rejeitado, encabulado, voltava deprimido para a zona onde estavam os restantes homens que, o podiam brindar com troças e remoques.

Tecnicamente, e em linguagem de baile popular, ele abara de levar levara “uma tampa”. Se outras se sucedessem, o melhor mesmo, seria ele abandonar o baile, porque a uma determinada altura nenhuma mulher quereria dançar com alguém que estava a ser rejeitado por outras.

Fora isso tudo decorria em bom e animado ambiente. Mas havia também os seus pequeninos dramas, vividos pelos homens que dançavam no recinto. É que, aleatoriamente, a qualquer momento, o “mestre de sala”, podia suspender a música que se dançava e ordenar: – “Damas ao Chá!”

Isto, que acontecia para aumentar a rentabilidade do baile através do consumo no bar, significava que o “par” homem, teria que conduzir ali a sua parceira no momento, onde ela (e ele se quisesse) tomariam uma bebida que, por ironia, nunca era chá, porque tal não havia no bar. Os meus leitores, nem imaginam a angústia que esse “Damas ao Chá!” causava em alguns rapazes e homens que, no momento, não tinham um centavo no bolso mas somente uma grande vontade em dançar. Momentos de puro pânico. Refiro-os por experiência própria, mas não espalhem isso por aí (riso) ...

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3.6.07

Portugal Anos 50 (1)


A Menina Dança?...

Como eram os bailaricos populares no Portugal urbano dos anos 50?

Invariavelmente realizavam-se em Junho e por ocasião dos santos populares, que constituía uma verdadeira “saison” para este divertimento do povo.
Havia-os por todo o lado, para todos os gostos e bolsos, desde os sofisticados bailes organizados por clubes e sociedades recreativas, aos levados a cabo por grupos de vizinhos, abarcando um bairro, uma rua, por vezes até um pátio comum a várias habitações.

Ao seu nível mais modesto – o bailarico de rua – era realizado por aquilo a que hoje chamaríamos de “comissão ad-oc”, formada muitas vezes por um único vizinho com iniciativa e gosto por esta forma de divertimento, que planeava a festa e distribuía tarefas pelos outros vizinhos que colaboravam.

O espaço destinado ao baile, fechava uma área onde havia cadeiras – para as “damas” se sentarem, a zona para dançar e um espaço para os homens, que, de pé, aguardavam a oportunidade de dançar.
Alguns destes, não sabiam dançar – lembremos que todas as danças eram efectuadas por pares, idealmente em sintonia. Era então quase um delito vergonhoso, pisar o pé da parceira da dança e, por isso, os dançarinos menos hábeis, aproveitavam as tecnicamente pouco exigentes “marchas”, para exibirem os seus fracos dotes de bailadores.

Por vezes, a entrada para esses recintos era paga. O preço era o mínimo possível para custear as despesas da festa: electricidade, licença da autarquia, e a parte da decoração do recinto que tinha que ser comprada, porque tudo o restante, festões, grinaldas e balões de papel, era feito pelos vizinhos organizadores.

Do conjunto-tipo, fazia ainda parte uma zona interna pomposamente chamada bar, que muitas vezes, pouco mais era do que uma mesa, onde alguns alguidares cheios de água, cumpriam a dupla missão de “refrigerar” as bebidas e de “enxaguar” os copos, e uma tábua assente num cavalete, à laia do balcão, onde as bebidas eram consumidas.

Um gramofone e uma rudimentar e nada “hi-fi” instalação sonora, transmitia os tangos, marchas, valsas, e ritmos sul-americanos, que os bailarinos procuravam dançar da melhor forma que sabiam.

A “garrafeira” do bar era extremamente modesta: laranjada, gasosa – que à época se chamava “pirolito” e tinha uma garrafa de vidro com um design fabuloso digno do pincel de um Andy Warhol – cerveja de garrafa e “ginjinha”. Em regra, a organização do baile, fazia questão de ética, que não se fornecesse vinho ou aguardente no bar, para que ao ambiente e a boa disposição reinante não fosse perturbada por alguém com uns “copitos” a mais. Naturalmente, a ninguém ocorreria incluir chá entre as bebidas disponíveis e este pormenor, como veremos, era particularmente curioso.

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1.6.07

Canal da Memória - Eventos



  • França. Junho de 1936. Ganha as eleições legislativas a Frente Popular, uma coligação de republicanos radicais, socialistas e comunistas. Forma-se um governo de centro-esquerda presidido pelo socialista Leon Blum. Consegue concretizar algumas reformas sociais (férias pagas, direito à contratação colectiva e semana laboral de 40 horas). Cai em junho de 1937 devido à crise económica interna e às cisões no seu interior. "Antes Hitler que a Frente Popular" foi a palavra de ordem mais ouvida na França de Blum até à sua queda.

  • Portugal. Abril 1939. O governo do Estado Novo recusa, o convite oficialmente apresentado pela embaixada italiana em Lisboa, para que Portugal aderisse ao Pacto Anti-komintern, aliança de estados fascistas, já subscrito pela Alemanha, Japão, Itália e Espanha que teria por principal objectivo destruir - diplomática e militarmente, a ameaça comunista e a URSS.

  • Alemanha. Setembro de 1939. Tem início na Alemanha o programa de eutanásia do III Reich, um dos pilares da política eugénica (ou de higiene rácica) que resultou na eliminação física de centenas de milhar de cidadãos deficientes. Aprovado pelos mais importantes dirigentes nacional-socialistas, planeado e coordenado por médicos e professores universitários de medicina, foi aplicado na Alemanha e nos países da Europa de Leste ocupados pelas tropas germânicas.

  • Portugal. Fevereiro 1946. Chegam a Lisboa em Fevereiro de 1946, libertados do campo do Tarrafal 110 presos políticos no seguimento da amnistia de 1945. Ficam ainda lá 52 deportados.

  • Grã Bretanha. Novembro 1959. A convite do Partido Trabalhista britânico, Humberto Delgado faz uma visita ao Reino Unido onde procura chamar a atenção da comunidade internacional para a falta de liberdade política em Portugal. Tenta em seguida prosseguir essa missão na Holanda, França, RFA e Suécia, mas esses países impedem-lhe a entrada.