Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

4.6.07

Portugal Anos 50 (2)



Damas ao Chá !




Composto de gente o recinto, o “mestre de sala” – um dos organizadores mais respeitados na vizinhança – dava início ao baile. Quem controlava o gramofone, colocava então o primeiro disco. Tocado este, havia uma breve pausa para dar oportunidade de os pares dançantes se refazerem.

As gravações “non-stop” ainda não existiam e os “Dj’s” também não. Nem estes últimos faziam falta, de resto tal como hoje – penso eu – que percebo mal, o que de substantivo vem trazer à audição de um disco, planeado ao pormenor por criadores, músicos e engenheiros de som, um tipo qualquer com um boné de basebol voltado para trás e tiques esquizóides, que com as manápulas sobre a superfície do disco, altera a sua rotação natural dando origem a guinchos, choros e outros “efeitos sonoros” perversos.

A forma como os pares se constituíam, era inicialmente por iniciativa do homem, que se dirigia à dama sentada no recinto do baile, utilizando, ainda que com variações, mais ou menos a fórmula clássica – “a menina dança?” – frase que deu, anos depois, o título a um conhecido programa de Jazz. Em rigor, parece que com o tempo essa frase foi sintetizada, porque originalmente, a fórmula seria – “a menina dança, tem moço, ou descansa?

Então a “menina” aceitava ou rejeitava, consoante o grau de simpatia que o convidante lhe merecia ou, algumas vezes, obedecendo a instruções sussurradas pelos familiares mais velhos que a custodiavam. Estes, podiam não gostar da forma demasiado exuberante e aproximada como determinado pretendente a dançarino, enlaçava os seus pares, e vetavam-no. Nessas situações, havia uma recusa liminar e o rejeitado, encabulado, voltava deprimido para a zona onde estavam os restantes homens que, o podiam brindar com troças e remoques.

Tecnicamente, e em linguagem de baile popular, ele abara de levar levara “uma tampa”. Se outras se sucedessem, o melhor mesmo, seria ele abandonar o baile, porque a uma determinada altura nenhuma mulher quereria dançar com alguém que estava a ser rejeitado por outras.

Fora isso tudo decorria em bom e animado ambiente. Mas havia também os seus pequeninos dramas, vividos pelos homens que dançavam no recinto. É que, aleatoriamente, a qualquer momento, o “mestre de sala”, podia suspender a música que se dançava e ordenar: – “Damas ao Chá!”

Isto, que acontecia para aumentar a rentabilidade do baile através do consumo no bar, significava que o “par” homem, teria que conduzir ali a sua parceira no momento, onde ela (e ele se quisesse) tomariam uma bebida que, por ironia, nunca era chá, porque tal não havia no bar. Os meus leitores, nem imaginam a angústia que esse “Damas ao Chá!” causava em alguns rapazes e homens que, no momento, não tinham um centavo no bolso mas somente uma grande vontade em dançar. Momentos de puro pânico. Refiro-os por experiência própria, mas não espalhem isso por aí (riso) ...

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