Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

1.5.11

Lê, Vê, e Passa Já aos Teus Contactos


Recebo, como praticamente toda a gente que anda aqui pela Internet imensos emails-circular. Designo-os assim, porque de autênticas circulares se trata: a sua finalidade principal é mesmo difundirem-se pelo ciberespaço, utilizando como veículo as listas de endereços que cada um possui, e que, conforme as situações, decide voluntariamente enviar, por sua vez, cópias para os endereços dos seus correspondentes habituais. 

Está mesmo a ver-se que tudo isto se propaga através de  um mecanismo exactamente igual ao dos vírus informáticos, só que neste caso – salvo raras excepções – são tecnicamente inócuos, e por vezes até bastante interessantes. Desta forma, formam-se grandes cadeias de difusão por todo o planeta Net.  

A consagração do trabalho feito na produção destes conteúdos e, a um nível imediatamente abaixo, dos que individualmente colaboraram passivamente na construção destas cadeias de comunicação, obtêm-se no momento em que o conteúdo em causa lhes entra de novo na caixa de correio electrónico, agora procedente de endereços diferentes daqueles para quem o enviou; aí, cada um por si, pode imaginar que o conteúdo original já percorreu um enorme caminho, eventualmente até poderá ter dado uma volta (ou mais do que uma) ao longo do universo Internet.

Estaremos certamente perante uma das manifestações da globalização, neste caso, de conteúdos que contêm algo a que se poderá chamar genericamente de «informação», - ainda que a informação, com um mínimo de qualidade ali contida é bastante escassa e dominada por colecções de diapositivos fotográficos; o que sobeja é, em regra, pouco mais do que lixo comunicacional: maledicência, humor de mau gosto, conselhos e ensinamentos idiotas, colagens de recortes de gosto discutível, etc.»

Por norma, eu agradeço pessoalmente os envios destes «email-circulares». Não obstante, grande parte deles vão imediatamente para a lixeira. Outras, quando entendo que os meus remetentes directos a montante o merecem, junto algumas palavras em jeito de opinião e comentário, não só para lhes dar uma evidência de que prestei atenção ao material que me enviaram,  como para tentar fazer alguma pedagogia e sugerir que esta forma de comunicação (ainda que nitidamente integrada em cadeias do tipo «Lê e Passa Depressa a Outros»), não impede que sobre ela façamos um comentário crítico. 
 
Mas até aqui as surpresas acontecem. Uma amiga e familiar, pessoa com um estatuto intelectual superior à média, enviou-me uma dessas «correntezinhas». Agradeci e fiz um breve comentário, que não lhe deve ter agradado inteiramente. Contra-argumentou como entendeu, finalizando por tentar justificar a minha maneira diferente de ver a questão com um, supostamente humorado, remate:  “…És um filósofo!”.

O rótulo de “filósofo” não é novo para mim. Já o ouvi imensas vezes, e nunca o senti aplicado como uma prova de apreço ou elogio – pelo contrário. Provavelmente até terão razão na aplicação do epíteto, porque será difícil encontrar outra palavra para classificar alguém que, como eu, teima em andar na contramão do pensamento único ecorrecto. Será então como dizer, «excêntrico», «irrealista, «desfasado do tempo», «utópico» ou algo assim. Seja o que seja.

Onde a minha amiga e correspondente me surpreendeu, é que ela, de tão embrenhada no ciclo permanente do receber e reencaminhar mensagens, que afinal é só uma outra forma de as «descartar» (ainda que as venhamos a gravar no nosso disco para posterior consulta … que, em regra, jamais é feita, porque não dispomos de tempo para tal, face ao constante afluxo de novas mensagens), teve, possivelmente a contragosto, uma reacção de rejeição para a hipótese de aproveitar o mote fornecido por uma desses email-circular, para discutirmos a questão (que até era importante em si mesma) e, por fim, darmos alguma originalidade que este circulo automatizado e infinito de intercâmbio não tem, porque, na essência, nada mais faz que reproduzir «reproduções» exaustivamente. 

Robotiza o processo da comunicação interpessoal e praticamente nada acrescenta ao saber e à cultura das pessoas que vivem em torno da Internet:  «Lê, Vê, e Passa Já aos Teus Contactos». É pouco. Precisamos de inovar, introduzir algo de novo, antes que esta área da Net se transforme num enorme bocejo… 

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