Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

28.2.07

Figuras


José Magalhães

O Deputado José Magalhães abandonou o Partido Comunista logo que percebeu que por ali não havia futuro nem "jobs" interessantes para distribuir. Transferiu-se para o Partido Socialista, abandonou o punho fechado e adoptou a "rosa", mais "soft" e com muito mais perspectivas de futuro político. Fez bem. Magalhães é um homem inteligente, e um político divertido, o que não é frequente.
Constitui porém leitura interessante consultar a transcrição, no respectivo órgão oficial, dos seus apartes na Assembleia da Republica, durante a sua entusiastica fase Comunista, onde dizia “pérolas” do género:
"Que o senhor deputado berre como um porco berra por bolota, não me impressiona!...";
- ou sobre aquela sua técnica, mais tarde, no programa da TSF, “Flash Back” e no Parlamento de, como dizia Pacheco Pereira, conseguir falar primeiro do que pensa;
- ou ainda recordar como conseguia por vezes, assegurar a entrada nos telejornais das oito, fazendo “descobertas” sensacionais do género: "haver pirataria informática à volta do sistema do Partido Socialista ou da Assembleia da República", e fazer a chocante constatação, que os leitores de disquetes dos computadores da Assembleia da República, eram fabricados – imagine-se o horror!!! – na … Indonésia!
João Montanha -1997

Os Cravos Loucos do Abril 74 (3)


Otelo, um Revolucionário Mal Sentado
1974: Uma missão portuguesa negoceia com a Frelimo em Moçambique a transferência de soberania para aquela colónia. Entre os negociadores portugueses encontra-se Otelo, Melo Antunes e outros. O lado moçambicano é chefiado por Samora Machel. Entre ambos os grupos, uma comprida mesa. A determinada altura os negociadores portugueses começam a ficar constrangidos com as atitudes de Otelo Saraiva de Carvalho, que se comporta de uma forma estranha, colocando-se aberta e descaradamente ao lado das posições dos moçambicanos. O entusiasmo revolucionário de Otelo só deixa de se tornar insuportável para os portugueses presentes, quando, com sabedoria, Samora se lhe dirige dizendo: “Estás mal sentado aí. Passa antes para este lado!

27.2.07

Os Cravos Loucos do Abril 74 (4)


E o Morto Foi Condenado ...

1975. Cidade de Tomar. O tribunal prepara-se para julgar um homicida, José Diogo, um trabalhador rural alentejano acusado de ter assassinado à navalhada um proprietário rural de oitenta anos.
À hora do julgamento comparecem no tribunal, uma ruidosa multidão de manifestantes da esquerda revolucionária e os jornalistas.
O colectivo de juizes entende não estarem criadas condições para a realização do julgamento e, entre vaias e apupos, decide adiá-lo. Não pensa assim a multidão ululante que decide, ali mesmo, efectuar um julgamento popular e revolucionário. O julgamento é feito o veredicto final pronunciado: José Diogo é absolvido do crime e aclamado em delírio.
O morto é condenado.

Os Cravos Loucos do Abril 74 (2)


O Almirante Vermelho
O almirante Rosa Coutinho presidente da Junta Governativa de Angola dirige ao então presidente do MPLA, Agostinho Neto, uma carta (com a sua assinatura e em papel timbrado daquele órgão de Estado, em que aconselha aquele dirigente da guerrilha a “dar instruções secretas aos seus militantes para aterrorizarem por todos os meios os brancos de Angola, matando, pilhando e incendiando, afim de provocarem a sua debandada de Angola”. «Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos, para desanimar os mais corajosos»
(Documento publicado no Jornal Expresso de 21.02.98)

26.2.07

Mário Quintana - Homenagem



  • Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.

  • Há uns que morrem antes; outros depois. O que há de mais raro, em tal assunto, é o defunto certo na hora exata.

  • Não te abras com teu amigo
    Que ele um outro amigo tem.
    E o amigo do teu amigo
    Possui amigos também...

  • Ah, esses moralistas... Não há nada que empeste mais do que um desinfetante!

  • Não importa saber se a gente acredita em Deus: o importante é saber se Deus acredita na gente...

  • Eu estava dormindo e me acordaram
    E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...
    E quando eu começava a compreendê-lo
    Um pouco,
    Já eram horas de dormir de novo!

  • A indulgência é a maneira mais polida de desprezar alguém.

  • O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
    Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
    Nem mudar água pura em vinho tinto...
    Milagre é acreditarem nisso tudo!

  • Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer.

24.2.07

Recuperados do meu Album de Recortes (1)


O homem sempre reflectirá sobre a origem da vida. Já assim era desde a mais remota noite dos tempos de que ficou alguma memória, dos filósofos pré-socráticos aos pensadores modernos; o homem vulgar, ao longo da vida, mais cedo ou mais tarde sempre se interrogou sobre esta questão.
E, salvo para os menos exigentes e lúcidos, jamais encontrou uma resposta concreta, para lá dos dogmas que as religiões lhe propõem ou das falíveis teorias apresentadas pela ciência. No caso desta, fica um enorme espaço aberto onde cabe um infindável “talvez….”
- Talvez, há três ou quatro mil milhões de anos, a primeira célula viva se tenha formado (na tal poça de água quente a que Darwin se referiu), a partir de matéria orgânica, como resultado de uma longa e aleatória sucessão de causas e efeitos...
-Talvez um bloqueio mental de raciocínio, nos impeça de admitir, que pode nunca ter havido um Princípio, uma Criação; e que o universo e a vida “sempre existiram”. Se as todas coisas à nossa volta obedecem a uma mecânica de ciclos, de “eterno retorno”, porque razão essa, “lei universal não escrita”, há-de ser diferente, perante a origem da vida, sobre que tanto nos interrogamos?
- Talvez o tempo não siga uma linha recta, como estamos formatados para crer e não se tenha de procurar um começo para tudo.. Talvez o tempo siga um percurso circular e cíclico, onde palavras como “antes” e “depois” seriam relativas e não absolutas. Os sumérios, o hinduísmo e muitas outras correntes de pensamento acreditam nisso.
João Montanha -1997

21.2.07

Quando ...

  • Quando o sábio aponta para a luz o imbecil olha para o dedo.
  • Quando há dúvidas (sobre o "holocausto"), fazem-se leis a proibir as dúvidas.
  • Quando se muda (o poder), é para que tudo fique na mesma, igual ao que antes fora rejeitado, e a sua superioridade define-se exactamente por isso, por ser inútil mudar. Então, neste tipo de situação política, acaba por ficar o último que chegou, mesmo que não sirva para nada. (Joaquim Aguiar).
  • Quando apontares com um dedo, recorda que os outros três ficam a apontar para ti.
  • Quando um fenómeno de fundo está em curso, a pior posição que se pode tomar isoladamente, é não o compreender e interpretá-lo como uma agressão.
  • Quando tenho razão ninguém o recorda. Quando me equivoco ninguém o esquece.
  • Quando se trabalha não se tem tempo para ganhar dinheiro (Provérbio judeu)

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20.2.07

Os Cravos Loucos do Abril 74 (1)



O Advogado Fascista

Fins de 1974. O advogado de Lisboa necessitava de uma dactilógrafa. Publicou um anúncio no Diário de Notícias, convidando as candidatas a apresentarem-se no seu escritório, num 2º andar da baixa lisboeta, às 15 horas de um determinado dia.
Nesse dia, quando o advogado chega à porta da rua do velho prédio onde se situava o escritório, depara-se-lhe um espectáculo insólito: a escada do prédio estava completamente ocupada com candidatas ao emprego, de tal modo que teve dificuldade em chegar à sua porta.
A explicação para o fenómeno, era o desemprego que já grassava fortemente no país, razão porque qualquer anúncio oferecendo colocação, tinha invariavelmente centenas de respostas.
Incomodado com o que acontecia, que obstruía por completo o acesso ao seu gabinete, chama a secretária e ordena-lhe: -«escolha rapidamente entre as três ou quatro primeiras uma dactilógrafa, e mande embora as restantes porque esta enchente não pode manter-se!»..»
A secretária assim fez.

Então foi à porta do escritório e anunciou: -«Já foi escolhida uma dactilógrafa. Podem ir-se embora!» Mal a frase havia terminado, uma onda de protestos reboou. -«Ir embora, o quê?! Então pensam que isto é como antigamente?! Então mandam vir as pessoas cá, e depois escolhe-se uma só pelos lindos olhos?! Isso era no tempo do fascismo, agora a gente não vai nisso!... Fascista, é o que o seu patrão é! »
O alarido era tal que o advogado vem à porta ver o que se passa. É recebido por uma imensa vaia da «justa indignação popular», em que a palavra «fascista» era insistentemente gritada por dezenas de bocas em fúria. Só teve tempo de fechar a porta para se colocar em segurança.
Mas, uma vez dentro do escritório, não sabe o que fazer, porque, do outro lado da porta, a onda da «justa indignação popular» não abrandava. E, pior do que isso, os transeuntes na rua, começavam também a aglomerar-se. «Há um fascista, lá em cima no 2º andar começou a correr de boca em boca».
Nesses tempos de grande excitação revolucionária, acontecia com frequência certas pessoas serem denunciadas por populares na rua como «Pides» ou «fascistas». Normalmente isso provocava gritos e correrias, que quase sempre acabavam na esquadra da polícia mais próxima, onde a pobre vítima da ira popular era identificada e depois mandada em paz.
O infeliz advogado sabia disso, mas não sabia o que fazer. Decide telefonar à polícia. Chega um carro com dois guardas. Descem do carro, olham em volta, ouvem os gritos de «fascistas», «fascistas» e percebem, que se permanecessem muito mais tempo onde estavam, corriam o risco de ser eles próprios, atacados pelas massas populares antifascistas. Abandonam rapidamente o local sob os insultos da multidão.
Lá em cima no seu escritório, o advogado assiste à cena. Começa a ficar inquieto. Volta a telefonar à polícia. De lá dão-lhe uma receita mágica: -«Olhe meu amigo, só tem uma solução, é telefonar para o COPCON» (de Otelo Saraiva de Carvalho).
Assim faz. De facto, minutos depois, surge um carro blindado «chaimite» com soldados e um tenente. São saudados pelos habituais gritos entusiásticos de «O Povo Está Com o MFA» (Movimento das Forças Armadas), e a palavra de ordem «-Está lá em cima um fascista», «tem que ser preso».
A patrulha atravessa a multidão e chega ao escritório onde se refugiava o perigoso «fascista». O tenente que a comandava compreende rapidamente a situação e toma a decisão adequada: propõe ao advogado deixar-se efectivamente prender para, deste modo, acalmar o povo.
Assim aconteceu: assomando à janela, o tenente anunciou que «o fascista» tinha sido preso e que o ia levar para as instalações do COPCON. Depois, enquadrado pelos militares, o infeliz refém «fascista» lá desceu a sua escada, no meio das imprecações das massas populares e entrou na viatura militar que, um km depois, parou, para libertar o «inimigo do povo» que lá foi à sua vida, meditando nos perigos que, em épocas revolucionárias, espreitam os imprudentes que publicam anúncios no «Diário de Notícias» pedindo dactilógrafas...

Sinopse sobre um texto de António Maria Pereira para o semánário Tempo

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19.2.07

História é ...

  • A história é uma galeria de quadros em que há poucos originais e muitas cópias (Tocqueville)
  • A História é uma versão do passado que as pessoas acordaram entre si. (Napoleão I)
  • A História é um círculo e não há nada que nunca tenha sido e que um dia não volte a ser. (José Luís Borges)
  • Os fenómenos históricos acontecem sempre duas vezes - a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. (Karl Marx)
  • Não são os monumentos que nos ensinam a História: são as ruínas. (Carl Hammaren)
  • Em vez de ensinar a História evocando as vitórias, uma nação aprenderia muito mais se estudasse as suas derrotas. (Edward de Bono)
  • A história é um produto de centros de poder que vão variando conforme no tempo, e cujos símbolos foram, ou são: O ceptro real, a tiara pontifícia, os livros sagrados, o bastão militar, a balança da justiça, e, sempre ... o carimbo.
  • A História já passou à história. (Bart Simpson)

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17.2.07

Tão Cruéis Que Eles Eram ...


Tive ocasião de rever o filme “A Escolha de Sofia”. Está tudo dito sobre a excelente interpretação de Meryl Steep, pela qual recebeu os merecidos prémios. Também não quero alargar-me em considerações sobre a realização que Alan Pakula fez, com base no livro homónimo de William Styron. Penso apenas que andou longe de ser brilhante, num certo registo de mediania, por vezes mesmo a rondar o sofrível.

Mas faço um breve comentário ao argumento. Na sua mensagem essencial nada há de realmente novo. Há muitas décadas que o cinema, sobretudo o politicamente engajado e financiado por judeodólares, repete à exaustão – alguns chamam-lhe lavagem ao cérebro – catadupas de filmes com a versão “conveniente” para os vencedores da II Guerra Mundial e seus amigos, de um determinado conjunto de acontecimentos, supostamente ocorridos durante o período envolvente ao conflito. O marketing político encontrou-lhe um nome: “holocausto”.

No fundo é mais um filme de maus e bons, de vilãos e de vítimas. Não é preciso ser bruxo para antever que os vilões são os nazis e vítimas são os judeus. Clássico. As personagens vivem em torno de um triangulo amoroso complexo e dos traumas daqueles tempos de guerra.
Novidade a meu ver – por inabitual – é a existência de uma personagem, um biólogo judeu, obcecado pelo história do “holocausto”.
Na realidade, porém ele é uma pessoa mentalmente perturbada; concretamente não é biólogo algum, mas apenas uma pessoa doente sofrendo de esquizofrenia paranóide, que acaba cometendo suicídio juntamente com a sua amante, a refugiada polaca que Meryl Steep protagoniza. Este humanismo da personagem – um judeu – causa-me alguma surpresa. Costumo vê-los representados em personagens bem diferentes … tirando os filmes do genial Woody Allen.

Mas quanto à crueldade dos diabólicos nazis, quem fez o guião do filme, desta vez exagerou. Está bem. Acreditamos, (que remédio, se acaso vivermos na Áustria ou na Alemanha, porque a dúvida dá cadeia) que os nazis, além de imensas outras coisas muitíssimo más, assassinaram 6 milhões de judeus. Porém não exagerem, até porque a maior parte das pessoas que vêm estes filmes, não os visionam como obras de ficção – que o são, mas como reconstituições mais ou menos históricas de acontecimentos reais.

É que, não se percebe bem, aquela cena crucial - de partir o coração – em que, acabados de chegar ao campo de concentração, um super cruel oficial nazi, começa por dizer à pobre refugiada polaca que gostaria de dormir com ela e, de repente, dá-lhe uma veneta, e coloca a angustiada mãe, ante o dilema de escolher qual dos dois filhos iria salvar, porque só poderá salvar um, visto que o outro iria direitinho para um “crematório” ...on-line.

Por favor… eu esforço-me por ser crédulo, mas não abusem. É que eu não percebi a cena. De todo. Culpa minha? Os nazis, certamente já conheciam a “gestão por objectivos”. Então só podia tratar-se disso?! Em direcção ao “objectivo” deles, - que não conhecemos, mas ao que nos dizem, deviam ser os tais seis milhões, - e para preencher a quota referente àquele dia, faltava “apagar” um pessoa. Aliás, falando de crematório, apagar não é uma palavra muito apropriada, se me é permitido ironizar com algumas coisas de “faz-de-conta” e que “nunca aconteceram”, manifestando simultaneamente todo o meu respeito pelas outras – as que, infelizmente aconteceram.

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16.2.07

Terror, Cravos e Loucura em Abril


Noite de Cristal … no Porto, em pleno PREC * (4)

… continuado. Enquanto decorria o ataque, Freitas do Amaral, que em circunstância alguma perde a calma e a coragem, toma a palavra para denunciar o assalto em forma à democracia, em curso em Portugal: «os acontecimentos que estamos a viver» - diz o «leader» centrista – podem representar o início de um plano inclinado que conduzirá ao sossobrar da democracia pluralista em Portugal. Se as autoridades do País – militares, governantes e Polícia – não são capazes de exercer, a tempo e horas, o poder público de que dispõem, o País corre o risco de, a breve trecho, cair na pior das ditaduras, que é a ditadura da rua…»

Felizmente que os telefones não foram cortados, o que permite aos congressistas estrangeiros telefonar às suas Embaixadas, que alertam os governos respectivos. Giscard d’Estaing é acordado em plena noite. De todo este movimento telefónico resultou, já de madrugada, uma reunião de emergência de Estado-Maior General das Forças Armadas, que decidiu enviar, por avião, uma força de pára-quedistas a qual interveio com decisão, conseguindo finalmente e em pouco tempo afastar a multidão para longe do Palácio. Cerca de 200 automóveis retiraram do edifício 500 democratas-cristãos lívidos que acabam de passar a mais longa noite da sua existência.

No dia seguinte os «Grupos de Acção antifascista» realizam um comício de emergência no qual foi deliberado dirigirem-se ao Quartel General da Região Militar para solicitar a dissolução do CDS (!).
Após estes acontecimentos, o CDS não mais ousou manifestar-se em público. O PC, em aliança táctica com os partidos da extrema esquerda, tinham-no praticamente reduzido ao silêncio. Mais uma fatia do salame estava completamente cortada.

Os acontecimentos do Palácio de Cristal tiveram uma importância decisiva para a tomada de consciência da Europa sobre o ataque em forma comunista à democracia em Portugal. Com efeito, as dezenas de jornalistas e congressistas presentes, depois da noite de insónia e terror que tinham passado, puderam relatar com conhecimento de causa que, contrariamente ao que certos órgãos bem pensantes da imprensa europeia afirmavam – entre eles o consagrado «Monde» - as acusações de que a democracia estava em perigo em Portugal não eram uma invenção da reacção saudosista do antes do 25 de Abril …

* PREC (Processo Revolucionário em Curso) Acrónimo com que se designa correntemente o período ocorrido entre 11 de Março e 11 de Novembro de 1975 dominado pela esquerda comunista militar e civil)
Fonte: Texto de António Maria Pereira no Semanário Tempo

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15.2.07

Pensando com... OSWALD SPENGLER*



  • (...) o racionalismo, os regimes demo-liberais e o capitalismo estariam a provocar a desagregação da Civilização Ocidental. Seria assim urgente olhar para o passado e encontrar nos períodos históricos fundadores da superioridade do Ocidente um novo paradigma ético-moral e uma diferente modalidade de organização política, social e económica.

  • (...) Cada cultura é um organismo autónomo que segue leis biológicas de crescimento, florescimento e queda. Todas começam com uma primeira época, o período arcaico, elevam-se depois até uma alta cultura e acabam num período de ruína, no fim do qual o território é invadido por um povo jovem que começa um novo ciclo de cultura.

  • (...) O auge da evolução do Ocidente encontra-se na Idade Média, o período de alta cultura europeu em que a nobreza e o clero dominavam a flor da humanidade europeia. Nada se assemelha às obras religiosas e artísticas que essa época produziu, nem ao magnífico estilo de vida guerreiro da sua nobreza.

  • (...) A analogia da actual cultura ocidental com a antiga mostra que estamos a entrar na última fase, talvez a que corresponde ao fim da Antiguidade. A cultura das grandes cidade é paralela a Alexandria e aos últimos tempos de Roma: formigueiros de massas, predomínio de tipos inferiores, intelectualismo, cepticismo, mau gosto, busca do prazer e utilitarismo, soberania do dinheiro - alguns dos indícios comuns.

  • (...) Com a ascensão do "terceiro estado" começa a decadência (...) a era barroca ainda traz uns restos de criação cultural; depois a cultura passa a pura "civilização". Nesta prosperam o comércio e a indústria, a técnica e o militarismo, a ciência e a organização, mas não mais se criaram valores espirituais.

* Pensador alemão. Viveu entre 1880 e 1936. Formou-se nas universidades de Munique e Berlim. Pertencem às suas obras mais marcantes, “O Declínio do Ocidente”, e a “Lei Vital das Culturas” as ideias vertidas para os destaques acima .
Oswald Spengler concebe fundamentalmente a existência de uma ordem natural intrínseca a qualquer sistema e a todos os níveis da realidade, ordem essa. a que estariam sujeitas desde as plantas no seu crescimento até às civilizações humanas, passando inclusivamente pelo Cosmos.

O declínio – a passagem da «cultura» para a «civilização» - ocorrera com o crescimento da cidade e da burguesia (uma não-ordem) que se revolta contra as potências do sangue e da tradição, e se esforça por estabelecer o reino do Dinheiro com o regime democrático. Os partidos políticos, que dependem estreitamente do Dinheiro, prosseguem a destruição da ordem antiga com o fim de quebrar todos os obstáculos que se opõem ao poder dos Financeiros.

Mais realista que pessimista, Spengler prevê o fim do reino do Dinheiro - forma de pensamento e não coisa concreta - que será vencido pelo sangue, por um novo cesarismo, em virtude das forças naturais que, a seu tempo, sempre se impuseram.

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Terror, Cravos e Loucura em Abril


Noite de Cristal … no Porto, em pleno PREC * (3)
… continuado. Vários carros, de boa marca, dos congressistas, são incendiados e os fumo das labaredas misturam-se às nuvens dos gases lacrimogéneos.

Chegam os bombeiros. A sua acção é porém impedida pelos esquerdistas que lhes gritam: «Os carros dos fascistas têm que ser destruídos!»

A atmosfera é irrespirável, mas o ataque prossegue implacável.
Chegaram, entretanto, reforços militares, chamados pela Polícia, que estabeleceram um cordão de defesa, em torno do Palácio. Eram, nessa altura, 8 horas da noite e os congressistas estavam, como se compreende, profundamente inquietos e mais que ansiosos por abandonarem aquele inferno. Por isso, o anúncio da chegada das forças do Exército foi sentido com um profundo alívio. Estava para breve a libertação.

Sucede, porém o inacreditável: em vez de imporem a ordem, os soldados … confraternizam com os assaltantes! Pois não são eles também filhos do povo, explorados – e não estão lá dentro do Palácio os fascistas exploradores?... – dizem-lhes os revolucionários.
Perante a situação, inesperada – que depois se repetiria com frequência, ao longo da Revolução – da incapacidade de se fazerem obedecer pelas suas tropas, os oficiais que comandavam a força armada resolvem entabular diálogo com os atacantes. Apanham, porém, pela frente, com uma resposta bem revolucionária: - «os antifascistas não dialogam com oficiais, só com soldados!». E a conversa terminou logo aí.
Entretanto, a ameaça ao portão do Palácio acentua-se. Há tentativas de arrombamento, que obrigam alguns dos militares a disparar rajadas de G-3 para o ar.
A noite já ia avançada; dentro do edifício, os congressistas estavam a atingir os limites da inquietação, e nas faces de muitos deles o terror estava estampado.

A certa altura alguns oficiais do exército entram e pedem para falar com a direcção do CDS para lhe transmitir a única possibilidade que havia para resolver a situação: a suspensão do Congresso.
Claro que a proposta foi aceite, de acto contínuo, com alívio: o que toda a gente queria, naquele momento, era safar-se o mais depressa possível daquele terrível pandemónio.

A proposta é comunicada para o exterior através da amplificação sonora. Mas, como resposta, apenas se ouvem, através dos megafones dos revolucionários, os gritos de «o Congresso acabou, mas não acabou o CDS». «Faça-se justiça popular!...»
Aí o medo e o pânico generalizou-se nos congressistas. Já se viam arrastados pelas massas populares ululantes e fuzilados na praça pública, perante a complacência dos militares revolucionários.

Mas o clímax do terror atingiria o seu auge quando, às 3 da manhã, os comandantes militares aconselharam os lívidos congressistas a barricarem-se no interior do edifício. Imediatamente os mais expeditos sobem para as galerias, logo seguidos pelos restantes. Todos se precipitam para uns colchões que, por sorte, ali estavam empilhados e num ápice são levantadas barricadas. Os mais ousados procuram paus e ferros decididos a venderem cara a vida.

Pela primeira vez na Revolução Portuguesa as barricadas são erguidas, não pelas massa populares esquerdistas, mas por gente elegante da democracia cristã …continua

Fonte: Texto de António Maria Pereira no Semanário Tempo

14.2.07

"Classe" ...escreve-se com caneta

A caneta-tinteiro ou caneta de tinta permanente como é vulgarmente designada em Portugal acaba de fazer 123 anos. Na sua origem haverá algo de verdade e de lenda.
Para a história ficou um acontecimento que, como em tantos outros casos, acabou por dar lugar a um novo invento.
O acontecimento aqui, seria um dia de particular azar do corrector de seguros nova-iorquino Lewis Waterman que, ao fim de muito trabalho e horas de argumentação, no preciso momento em que tinha conseguido a anuência para a subscrição de uma importante apólice de seguro, e esta ia ser assinada, um inoportuno borrão de tinta caiu acidentalmente sobre o documento, cuidadosamente manuscrito, inutilizando-o.
Havia que refazê-lo completamente e isso demorou algum tempo. Tanto bastou para que um concorrente de Waterman, se lhe antecipasse e conseguisse para a sua empresa o contrato de seguro.
Naturalmente desagradado com o ocorrido, começou de imediato a conceber um utensílio para escrever, que dispensava ser mergulhado na tinteiro e não borrava. E a 12 de Fevereiro de 1884, Waterman patenteou a sua revolucionária invenção – a caneta-tinteiro - que viria a torná-lo num homem rico.
A sua invenção foi lançada no mercado e conquistou imediatamente os escritores. "Que equipamento útil!" – elogiou Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes. Também Thomas Mann começou a usar "um desses engenhosos distribuidores de tinta".
Após a II Guerra Mundial, as canetas esferográficas conquistaram os bolsos e as mesas de escritórios. Nos anos 60, a caneta-tinteiro chegou a ser considerada obsoleta mas hoje vive um renascimento.
Schnädter, da Montblanc, explica a razão: "As pessoas hoje querem ter mais tempo. Escrever com uma caneta-tinteiro, retoma algo do perdido prazer na escrita, que, embora mais demorado, traz também o inefável sentimento de comunicar de uma forma verdadeiramente personalizada.
A Microsoft, diz o executivo, foi, sem querer, um dos nossos grandes veículos de propaganda.
Além de ser objecto cobiçado pelas casas de leilões, as canetas-tinteiro já têm até museus só para elas, por exemplo em Paris.
Os fabricantes de material de escritório facturam rios de dinheiro, vendendo produtos que imitam os clássicos. A Montblanc lança apenas 4.810 exemplares por ano, exactamente a altura em metros da montanha francesa – o pico mais elevado da Europa e que dá nome à caneta. Os aficionados dispõem-se a pagar preços exorbitantes por um exemplar raro.

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13.2.07

Terror, Cravos e Loucura em Abril


Noite de Cristal … no Porto, em pleno PREC * (2)

… continuado. Receosos do que lhes pudesse acontecer vir a acontecer, desconfiados da protecção das autoridades, os centristas, além de reforçarem a sua própria segurança, tem uma ideia de génio: convidam destacadas personalidades estrangeiras dos meios democrata-cristãos e conservadores, designadamente parlamentares europeus, para assistirem ao Congresso.
A Europa não fazia ainda, nessa altura, nenhuma ideia da conspiração comunista em desenvolvimento em Portugal. E quanto aos excessos já verificados – sobretudo as centenas de prisões do 28 de Setembro – a tendência tinha sido para acreditar que tinha havido, realmente, um golpe armado contra-revolucionário, contra o qual a jovem democracia tinha tido que se defender.

Por isso, os ilustres convidados estrangeiros aceitaram de bom grado o convite do CDS, julgando tratar-se de mais uma agradável viagem turística àquele pequeno e simpático país, com banquetes, fados e guitarradas à mistura…
Tudo começou da melhor maneira, cerca das 15 horas, com o Palácio de Cristal, cheio com cerca 500 centristas, tudo gente civilizada e de bom tom, envergando fatos de bom corte em contraste flagrante com o ambiente habitual dos comícios dos partidos da esquerda em que os «jeans», as gaforinas desgrenhadas e as barbas mal tratadas eram sempre a nota dominante.

Eis porém que aos ouvidos dos congressistas, suspensos do verbo eloquente de Adelino Amaro da Costa, começam chegando estranhos rumores do exterior, que em breve se transformariam num imenso e surdo reboar de multidões em fúria. Gritos de «abaixo a reacção», «o congresso fascista não passará», «morte ao CDS», eram vociferados através dos megafones por próceres vermelhos, excitando ao rubro as massas populares antifascistas, no meio da quais de distinguiam bandeiras dos partidos da extrema-esquerda: MES e FSP (próximos do PCP), LUAR, LCI, PRP(BR) etc.

O Palácio de Cristal foi totalmente cercado pelas turbas progressistas. Dentro, os congressistas confiavam na protecção policial, que lhes havia sido assegurada e na solidez de uma dupla barreira: a vedação exterior do Palácio e o portão de ferro do edifício.
Mas as hordas esquerdistas vão engrossando, compreendendo agora milhares de revolucionários em fúria antifascista, excitados pelos megafones com palavras de ordem revolucionárias. A massa humana, levando de roldão alguns guardas que tentam, em vão, barrar-lhes o caminho, avança ameaçadora para os jardins do Palácio. O portão é arrombado e os revolucionários correm em direcção ao edifício. Reforços da polícia precipitam-se em defesa do Palácio e as primeiras granadas de gás lacrimogéneo fazem ouvir os seus estampidos característicos.


Trava-se então uma autêntica batalha campal, com a multidão a ripostar à Polícia com pedras, paus e tudo o que fosse contundente ou de arremesso. Perante o ocupação dos jardins do palácio, a Polícia recua tacticamente para junto do portão, para o proteger, mas a fúria esquerdista não cede. Ao apelo dos manifestantes, os moradores das redondezas lançam-lhe para a rua limões para cortar o efeito dos gases lacrimogéneos nos olhos. Uma boca de incêndio é aberta e nela os atacantes lavam os olhos congestionados pelos gases e voltam freneticamente ao ataque. Há autenticas lutas corpo a corpo e, entrecortando os estampidos das granadas de gases lacrimogéneos, começam a ouvir-se os primeiros autênticos tiros de armas de fogo. Um chefe da PSP e quatro agentes, bem com vários manifestantes são atingidos e têm que recolher ao hospital. Continua...
Fonte: Texto de António Maria Pereira no Semanário Tempo

Desafabos ... "Off the records"

  • Ele pode ser um filho da puta (fdp), mas é o nosso (fdp). A essência da política externa é decidir qual o (fdp) a apoiar e qual o (fdp) a combater. (Franklin Roosevelt)
  • Pertenço a um clube em extinção: o dos heterossexuais, fumadores e apreciadores de vinho tinto e das mulheres que gostam de homens. (Victor Espadinha)
  • Não se muda o curso da História virando a faces dos retratos para a parede. (Jawharlal Nehru)
  • Eu concordaria de bom grado em reconhecer que as mulheres nos são superiores, se isso fizesse com que desistissem de tentar imitar-nos. (Sacha Guitry)
  • De tudo o que afirmei ao longo da vida, não tenho a retirar a mínima palavra (Metternich)
  • Todos os filmes sérios portugueses fazem rir (Adolfo Casais Monteiro)
  • As leis são como as teias de aranha; caem nelas os pequenos insectos, os grandes atravessam-nas. (Anacharsis)
  • "Não mijar aqui" - inscrição vulgar em paredes da cidade de Luanda.

12.2.07

Terror, Cravos e Loucura em Abril


Noite de Cristal … no Porto, em pleno PREC * (1)
Ao desencadear a caminhada para o poder a partir da crise de 28/9/74 o Partido Comunista (PC) português seguia à risca a estratégia colhida na tomada do poder pelos PC’s nas democracias populares. Nestes foi utilizada a «táctica do salame» que consiste na destruição sistemática dos restantes partidos, através da sua eliminação progressiva, a partir da direita. A mesma táctica foi usada em Portugal.
O PC conseguiu destruir todos os partidos à direita do Centro Democrático Social (CDS): o Partido do Progresso, o Movimento da Acção Portuguesa, o Movimento Popular Português, o Partido Liberal e o Partido Nacionalista Português viram as suas sedes saqueadas e incendiadas pelas milícias comunistas e esquerdistas e, dos seus «leaders», só não foram presos os que não conseguiram fugir para o estrangeiro. A partir daí ficaram na sua linha de mira os restantes partidos democráticos, isto é o CDS, o Partido Popular Democrático (PPD) e o Partido Socialista (PS).

Quanto aos dois primeiros a táctica para a sua destruição consistiu em os desacreditar perante a opinião pública e o Movimento das Forças Armadas (MFA) acusando-os na media controlada pelo PC de serem reaccionários; em paralelo e aliados à extrema esquerda, passam a boicotar todos os comícios daqueles partidos, numa escalada de violência cuja intensidade aumentava à medida que a data fixada para as eleições se aproximava.
O CDS, partido mais pequeno que o PPD e, por outro lado mais vulnerável – por fazerem parte dos seus quadros algumas personalidades com ligações ao antigo regime – tornou-se um alvo fácil para os ataques totalitários.

A sua sede foi destruída e saqueada na rescaldo da crise do 28 de Setembro. Mal refeitos do ataque, os centristas tentam reagir e organizam um comício no Teatro S. Luís em 4 de Novembro de 1974. Apenas começado, eis que uma horda de maoístas do MRPP, com comunistas à mistura, irrompe no meio da função, munidos de barras de ferro, correntes de bicicletas e armas de fogo disfarçadas.
Foi tal a violência do ataque que a sessão foi pouco depois interrompida, com vários feridos, que tiveram que ser hospitalizados. Só a intervenção da PSP comandada então pelo coronel Casanova Ferreira e dos Comandos da Amadora, comandados por Jaime Neves, evitou que tudo terminasse num massacre. Impedidos , pela PSP e pelos Comandos de prosseguirem no seu ataque, os esquerdistas dirigiram-se para a sede do CDS no Largo do Caldas, que de novo destruíram e saquearam.

A partir daí o CDS pediu ao COPCON (nota – Comando Operacional do Continente um organização militar-policial dirigida por Otelo Saraiva de Carvalho) segurança para as suas instalações, que lhe foi fornecida sob a forma de alguns militares os quais, em admirável afirmação de proselitismo anti-fascista, acabaram por subtrair dos locais confiados à sua guarda o que tinha escapado dos assaltos precedentes.
O Partido tinha programado a realização do seu primeiro Congresso em 25 de Janeiro e, como medida de prudência, depois do que tinha acontecido em Lisboa, resolve efectuá-lo no Porto, no Palácio de Cristal. Continua …
Fonte: Texto de António Maria Pereira no Semanário Tempo

10.2.07

Porque o NÃO perdeu


Assumindo todos os riscos que comporta esta afirmação, “postada” 32 horas antes do conhecimento dos resultados das sondagens que abrem os períodos especiais de transmissão das TVs e Rádios sobre o referendo ao aborto, eu mantenho–a. O NÃO perdeu, por múltiplas razões certamente, mas sobretudo porque cometeu o maior dos erros estratégicos possíveis no confronto que manteve com a parte que apoiava o SIM: assumiu e tomou para si a parte mais substancial do suporte filosófico do adversário: as mulheres que abortavam não deviam ser condenadas.

Isto é a meu ver, em termos de estratégia, o clássico tiro no pé ou a corda branca e a túnica de penitente, exibida humildemente perante o adversário e a população. Um erro tremendo. Que, diga-se, até é relativamente recorrente entre nós – recordo que num determinado momento da nossa História recente, os bravos militares do MFA (Movimento das Forças Armadas), também se assumiam como Movimentos de Libertação do povo português, exactamente a designação dos movimentos nacionalistas que os combatiam nas nossas ex-colónias.

Não devem as mulheres que cometem aborto ficar sujeitas (teoricamente, mas não na prática) a uma pena de prisão? Talvez não. Mas, só elas?

Deixem-me abrir um parêntesis: não há muito tempo visitei na prisão uma pessoa que ali estava condenada por pratica de crime; que crime? Emitira um cheque de 17.200$00, sem cobertura.
Conduzir um automóvel a uma velocidade elevada, constitui crime punível com prisão. Porquê crime? Porque a conduta deste condutor “pode matar” (ainda que o “crime” tenha sido cometido numa moderna auto estrada, ao volante de um automóvel topo de gama ultra seguro). E a prisão espera-o por algum tempo.

Reclamando também para mim o “direito a estar errado”, acho que esta designação de “crime” precisava de ser revista e actualizada dos códigos jurídicos. Muito daquilo que hoje se designa por crime, melhor ficaria se passasse a chamar-se “práticas reprováveis”. Caberão dentro do mesmo “saco dos crimes”, os crimes contra a vida, contra os costumes, contra a honra, contra o património, contra o Estado?

O aborto é, segundo o Código Penal um crime contra a vida. Querem descriminalizá-lo na prática? Então, e todos os outros que são na realidade “crimes por legislação avulsa” e não ofendem as leis naturais? Ficam, não é? Que peso tem a palavra mulher (com M) nestes tempos !...

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8.2.07

Maneiras de ver

  • Se você tem que perguntar quanto custa, é porque não deve comprar. (J.P.Morgan)
  • Quando era pequeno os meus pais descobriram que eu tinha tendências masoquistas; então passaram a bater-me todos os dias para ver se eu parava com aquilo (Woody Allen)
  • Comecei uma dieta: cortei na bebida e em comidas pesadas e, em 14 dias, perdi duas semanas.
  • Bebo, apenas para tornar as outras pessoas mais interessantes.
  • Intelectual é alguém que descobriu alguma coisa mais interessante do que as mulheres.
  • Os deputados deveriam ganhar o salário médio nacional. Como representantes do povo, deveriam desfrutar de condições representativas desse mesmo povo. (Pedro Arroja - economista)
  • Não se preocupe demasiado com a perfeição, porque provavelmente você nunca a vai atingir.
  • A Vénus de Milo granjeou através dos séculos a fama de ser a mais bela mulher do mundo, justamente porque não fala. Arriscava-se a deitar tudo a perder se abrisse a boca.

7.2.07

Você Anda a Mastigar Cigarros ?!!...


Talvez sejam os economistas que efectivamente “fazem” a economia como é mais ou menos consensual, na medida em que as suas teorizações, cedo ou tarde. acabam por influenciar as causas económicas que, por sua vez, se transferem para os efeitos – a economia do dia a dia. Talvez. Já tenho a certeza que o humor, o melhor do humor, não é feito por humoristas encartados, porque, como diz o povo, o que mais há por aí são “cómicos” que não sabem que o são.

Hoje, algo deste humor espontâneo e inesperado, arrancou-me um amplo sorriso. Oiço o conteúdo de um noticiário do tipo “ração informativa”, desses que são distribuídos a retalho pelas rádios, televisões e jornais, - que por sua vez os repetem, em regra sem qualquer tratamento, palavra por palavra, imagem por imagem - por uns armazenistas desse produto agora industrializado, que designamos por agências noticiosas. Estas fazem naturalmente, uma gestão dos seus stocks noticiosos e, para além daquilo que realmente constitui informação urgente e actual, guardam umas quantas peças, para injectarem no mercado em períodos de menor densidade noticiosa. Normal. Hoje apanhei uma dessas.

“Portugal é o país da União Europeia com maior incidência de casos de cancro no aparelho digestivo …”. Como era inevitável, complementando a peça, vem as conclusões sobre as causas onde, à frente dos suspeitos do costume, vem – e aqui não pude reprimir o tal sorriso divertido – …“o consumo de cigarros” (sic).

Eu já estou habituado a que o nome moderno do demónio seja cigarro ou tabaco. Eu até compreendo que, por um passe de mágica, se angelicalize aquilo que realmente pode causar danos à saúde na inalação do fumo proveniente da queima do tabaco – os Óxidos de Carbono – porque, por azar, são exactamente os mesmos que fazem as fortunas da indústria petrolífera, e nós inalamos através dos tubos de escape dos automóveis e muitas outras origens.

Nada a fazer. Há Óxidos de Carbono que são bons e toleráveis; há os que são irredutivelmente maus, como os provenientes do tabaco. É um axioma. Custou muito dinheiro a impor. Eu compreendo.

O que me torna confuso, é os portugueses terem problemas gástricos, devido ao uso de cigarros. Humm !!? Como é possível? Noutras áreas da saúde – pulmões, sistema cardiovascular, etc. - ainda estaríamos na zona do admissível. Mas cigarros e estômago ?!...

Será … que devido ao facto de a histeria americana anti-tabagista já ter invadido a Europa, e o preço dos cigarros estar exorbitante para o bolso do comum do cidadão português, estes, num reflexo de auto-defesa, começaram a achar que era uma desperdício estar a queimar uma mercadoria de custo tão elevado, e optaram por aproveitá-la ao máximo passando a mastigar (mascar) e a diglutir os cigarros que antes fumavam? Ou perante mais um episódio desta "conversa da treta"?. Digo eu …

6.2.07

Kaulza - O Último Centurião


«(...) Salazar teve uma importância enorme para a derrota dos comunistas na guerra de Espanha. Se assim não fosse, teríamos os comunistas por toda a Península Ibérica. Imediatamente a seguir, dá-se a Segunda Guerra Mundial. E, aqui, há um pormenor curioso: o Salazar impede a comunização de Espanha, e durante a Segunda Guerra Mundial impede a nazificação de Espanha. O (Pedro) Teotónio Pereira conseguiu impedir que a Península Ibérica fosse aberta às tropas nazis, porque o Hitler tinha uma ideia persistente: dizia que era uma vergonha que Gibraltar fosse inglesa. E queria invadir a Península para libertar Gibraltar! E o Teotónio Pereira consegue convencer o Franco a não ir nessa conversa do Hitler. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, começam os problemas das colónias ultramarinas. Foi preciso segurar o Ultramar. E foi isso que me levou a colaborar com o Estado Novo. Ficou claro?»

O senhor general é daqueles que chama aos capitães de Abril traidores à pátria? - Não. Chamo-lhes outra coisa: presumíveis delinquentes de crime de alta traição. A eles e a outros. O poeta (Manuel) Alegre quis pôr-me em tribunal porque, quando disse isso, encaixou como se fosse dirigido a ele e ao (Mário) Soares, sendo o Soares, à época, Presidente da República.


«(...) Álvaro Cunhal é dos menos maus de todos, porque, embora laborando toda a vida num erro, foi sempre fiel a esse erro. Mário Soares é um salta-pocinhas. Sobre Sá Carneiro, vou-lhe contar uma história: estava no comando-chefe, em Moçambique, e o meu ajudante-de-campo era o Francisco Pinto Balsemão. E o Balsemão aparece-me, um dia, com um recado do Sá Carneiro. Esse recado dizia que ele, Sá Carneiro, era preponderante na ala liberal da Assembleia Nacional, e queria que eu fosse candidato à Presidência da República pela ala liberal.


A minha resposta foi esta: era amigo do almirante Américo Tomás, e nunca aceitaria ser candidato sem falar com ele primeiro. Depois, a palavra liberal dá para tudo, e eu não sabia qual era a política da ala liberal. Só depois de a saber é que poderia dar uma resposta. Passados uns tempos, voltei a Lisboa. O Balsemão e o Sá Carneiro souberam disso, e o Balsemão veio até minha casa repetir o convite. E a minha resposta foi: "Mantenho o que lhe disse antes. Mais uma coisa: não conheço o Sá Carneiro, e o tio dele, o Lumbralles, não me dá umas referências muito brilhantes.

É melhor conhecer o Sá Carneiro para lhe dar uma resposta."Combinou-se um almoço em Vila do Conde, e lá fui. Estavam lá umas quarenta pessoas. No fim do almoço, fomos tomar café, eu, o Sá Carneiro e o filho do Manuel Fino. O Sá Carneiro diz-me assim, de caras: "O senhor general não se esqueça de que eu o considero como comandante de tropas de ocupação de um território estrangeiro, que é Moçambique." Dizer isto a um comandante-chefe é uma coisa espantosa. E disse-lhe: "Você tem imensa sorte, porque se me dissesse isso em Moçambique, já estava na cadeia!" De modo que esse almoço não correu nada bem.»

«(...) Conheci um (capitão de Abril), que trabalhou na Operação Fronteira. O Mário Tomé foi meu major-de-campo, por ser o melhor capitão operacional em Moçambique. A mulher dele puxava um bocadinho para o socialismo. Ela era formada em Direito, era mais inteligente do que ele, de modo que lhe deve ter dado a volta. Ele era muito rígido, chamavam-lhe "o capitão nazi", mas foi sempre lealíssimo e um óptimo oficial.»

«(...) - Quando sucede Wiriamu, estava em Lisboa. Quando cheguei a Nampula, o brigadeiro Videira, que era o comandante da zona operacional de Tete, disse-me, mal cheguei ao aeroporto: "Há rumores de que as tropas fizeram abusos, num local chamado Wiriamu." "Onde era Wiriamu?", perguntei. "Não sei. Ninguém sabia onde ficava esse local. Até há quem pense que isso foi inventado." Fiz o que fazia sempre, porque, desde que chegara a Moçambique pela primeira vez, já tinha havido dezoito rumores de abuso das tropas. Ordenei, em todos os casos, que os serviços competentes investigassem esses rumores. E, desses dezoito rumores de abuso das tropas, três foram provados. E os prevaricadores foram a tribunal, e foram condenados. Também neste caso, ordenei ao serviço de justiça que abrisse um inquérito. Após um mês de investigações, concluiu-se que não havia nenhuma matéria que justificasse a existência desse rumor, logo, que houvesse algum crime. Mandei arquivar o inquérito, até que houvesse melhor prova.»

«(...) quando o Marcello Caetano foi a Londres, em visita oficial, na véspera, saiu no "The Times" uma coisa terrível sobre Wiriamu. Foi nessa ocasião que se deu o célebre incidente, em que dizem que, numa manifestação contra o Marcello Caetano, o Mário Soares pisou a bandeira nacional. Não sei se isso é verdade, mas o Mário Soares estava nessa manifestação, isso é um facto. Essa notícia, enviada para Londres pelo padre Hastings, fora mandada pelos padres espanhóis de Burgos, que eram nossos inimigos. Esses padres apoiavam os terroristas, guardavam o seu armamento, socorriam-nos. Tive de fechar quatro missões dos padres de Burgos, o que os deixou furiosos, e dois padres foram julgados em tribunal. Esses mesmos padres afirmaram em tribunal que eram inimigos de Portugal. Esses padres afirmaram que não queriam a nossa presença em Moçambique, que não queriam "perder o comboio", expressão deles. Foram os padres de Burgos que organizaram o escândalo de Wiriamu.

O Marcello Caetano ficou arreliadíssimo, porque esperava fazer uma viagem triunfal, e não teve triunfo nenhum. (...) No fim de Agosto veio cá o Jorge Jardim, e disse ao Marcello Caetano, ao ministro da Defesa, Sá Viana, ao ministro do Ultramar, Silva Cunha, que houve uma coisa em Wiriamu mais grave do que aquilo que se pensava. O Sá Viana afirmou, depois, para os jornais, que parecia ter havido qualquer coisa grave em Wiriamu. O Marcello Caetano mandou fazer um inquérito, mas com gente daqui, o brigadeiro Nunes da Silva, com a sua equipa, que fizeram o terceiro inquérito de Wiriamu. E esse inquérito teve a mesma conclusão que os outros: não ocorreu nada em Wiriamu. Não houve nenhum crime em Wiriamu.»
Extractos de uma entrevista do General Kaulza de Arriaga ao jornalista Batista-Bastos

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4.2.07

Destacados...

  • A imprensa é uma arma; por quê haveria eu de dar uma arma aos meus inimigo?" (Lev Bronstein)
  • O que penso da infalibilidade do Papa? - Não sei bem. Só sei que a mim ele chama-me sempre “Spilma”. (Cardeal Speelman - E.U.)
  • O aumento de ordenado para um homem é o aumento de preços para outro. (Harold Wilson)
  • A grande vantagem de se ser inteligente, é que um inteligente pode comportar-se como um imbecil, enquanto que o contrário é totalmente impossível (Woody Allen)
  • Se as prostitutas soubessem escrever não precisavam de vender o corpo; eram jornalistas ou escritoras. (Jornal da Benetton)
  • Infelizmente a liberdade e a igualdade são princípios opostos. E quando a liberdade é suprimida em nome da igualdade, esta mesmo acaba por não existir. (Carl Popper)
  • Se aqueles que dizem mal de mim soubessem o que penso deles, passariam a dizer ainda pior. (Sacha Guitry)
  • Uma coisa são os homossexuais, outra são os maricas. (Agustina Bessa Luis)

2.2.07

Para Além do Aborto


Aquilo que todas as pessoas estão discutindo calorosamente em Portugal (a liberalização do aborto), é apenas um episódio, talvez menor, de um longo período da história da evolução humana, que terá começado em África, há cerca de 200.000 anos, quando ali terá aparecido finalmente uma espécie que já podia ser considerada como um antepassado directo do homem moderno. Um período em que aconteceram progressos e retrocessos. Mais dos primeiros do que dos segundos.
Mais tarde, julga-se que há 100.000 anos alguns destes nossos antepassados já tinham atravessado uma fase evolutiva tão importante, que muitos deles deram início ao grande salto em frente – o abandono de África em direcção às terras do Norte e do Oriente – onde os esperavam novos territórios, novos climas, novos obstáculos e desafios, a que tiveram que se adaptar, e evoluir no sentido da preservação da vida.

Enquanto em África o tempo parece ter parado durante muitos milhares de anos após o êxodo dos últimos dos seus emigrantes ancestrais, na Euro-Ásia, onde as condições eram propícias ao desenvolvimento de culturas diversificadas e florescentes, estas desenvolveram-se durante séculos, até chegarmos aos tempos actuais. É então que, a terem razão os defensores da teoria do caos, ter-se-á atingido o tal “ponto de equilíbrio e começo de degradação”, que prosseguiria até um limite – o ponto de caos – só a partir do qual de dará a reorientação do movimento para a ordem e o equilíbrio.

A que vem aqui chamada a teoria do caos? Porque a sabedoria acumulada dos antigos, levou-os a imaginar o mundo em que eles viviam e nós continuamos a viver, dividido em duas metades: masculino e feminino. Os seus deuses e deusas esforçavam-se por manter o equilíbrio do poder «Yin e Yang», porque quando o masculino e o feminino estavam equilibrados, havia harmonia no mundo. Quando se desequilibravam, sucedia a desordem e o caos. E este equilíbrio está manifestamente rompido.

É a dimensão e as consequências da alteração deste paradigma fundamental da forma de viver das sociedades humanas, que torna ínfimo, quase insignificante, o pormenor sobre o número de semanas com que discricionariamente as mulheres podem “Deletar” (parece-me apropriado o termo usado no Brasil), o embrião que germina dentro delas.

Sobretudo nas últimas décadas do século XX, forças muito poderosas, - que não adiante nomear, porque são tão extremamente hábeis e discretas, que prevendo este género de denúncias, as desacreditaram previamente sob o rótulo sarcástico de “teorias da conspiração”) - induziram factores de perturbação no relacionamento entre mulheres e homens, tendentes a conseguir um ambiente de hostilidade e desconfiança entre o feminino e o masculino nas sociedades modernas.

Desfraldando bandeiras e slogans insidiosos de libertação sexual, igualdade, sexismo, descriminação, emancipação e opressão, conseguiram, inicialmente instalar a dúvida e a suspeita em muitos espíritos de ambos os sexos. Não tardou a evoluir-se para comportamentos agressivos, sobretudo da parte de movimentos radicais, ditos feministas.

Impuseram-se estereótipos para uma “nova mulher” e uma escala de valores para ela, onde predominavam a carreira profissional, uma sexualidade livre e descomprometida, independência económica e estatuto social. Valores de referência tradicionais das sociedades como a família, a maternidade e o casamento (uma instituição opressora das mulheres, segundo as feministas), apenas faziam parte do “kit” de opções que a “nova mulher” podia adoptar, na sua forma clássica ou segundo variantes definidas por ela própria.

Como consequência de tudo isto as coisas mudaram: nas mentalidades, nos comportamentos, na cultura, no relacionamento entre homens e mulheres e … sobretudo nos valores estatísticos da reprodução humana, em que os níveis de fecundidade feminina estão já alarmantemente abaixo do nível mínimo que possibilita a renovação das populações. Atingimos o “ponto de caos”? Que se seguirá?

1.2.07

Evangelhos e Evangelistas


Os Evangelhos do Novo Testamento, derivam de uma realidade histórica concreta e reconhecível de opressão e descontentamento cívico e social, de agitação política, de perseguição incessante e de rebelião intermitente. Era também uma realidade inundada de promessas, esperanças e sonhos, da vinda de um rei legítimo, um líder espiritual e secular que conduziria o povo à liberdade.

Os estudiosos modernos são unânimes em concordar que os Evangelhos não datam do tempo da vida de Jesus. Na maioria datam do período entre as duas grandes revoltas na Judeia – 66 a 74 e 132 a 135 – embora se baseiem quase certamente em relatos anteriores.
Estes relatos, podem ter incluído documentos escritos que se perderam posteriormente, mas incluiriam com certeza, também tradições orais. Algumas foram, sem dúvida, grosseiramente exageradas e/ou distorcidas, recebidas e transmitidas em segunda, terceira ou quarta mão. Outras contudo, podem ser provenientes de indivíduos que tivessem vivido no tempo de Jesus e que, podem mesmo tê-lo conhecido pessoalmente.
Quem eram os evangelistas?


Marcos
Considera-se geralmente que o mais antigo dos Evangelhos é o de Marcos, composto durante a revolta 66-74 ou pouco depois. Embora Marcos não tivesse sido um dos discípulos originais de Jesus, o seu Evangelho teria sido composto em Roma e dirigia-se a uma audiência greco-romana.
Por forma a garantir a sobrevivência da sua mensagem, ter-se-ia obrigado a exonerar os romanos de todas as culpas pela morte de Jesus – a branquear o regime existente e a culpar certos judeus pela morte do Messias. Este estratagema, foi adoptado não só pelos autores dos outros Evangelhos, mas também pela Igreja cristã nos seus primórdios..Sem tal estratégia, nem a Igreja nem os Evangelhos teriam sobrevivido.

Lucas, Mateus e João
Os estudiosos datam o Evangelho de Lucas aproximadamente no ano 80. Lucas parece ter sido um médico grego. Quanto ao Evangelho de Mateus, parece ter sido composto por volta de 85. Mais de metade do Evangelho de Mateus, na verdade deriva directamente do de Marcos, embora tenha sido originalmente composto em grego. O autor parece ter sido judeu - não confundir com o discípulo Mateus que vivera muito antes.

Os Evangelhos de Marco, Lucas e Mateus são conhecidos como os Evangelhos Sinópticos, implicando que os seus autores concordavam, ou viam apenas “com um olho”. Certamente derivam de uma fonte comum – tradição oral ou qualquer outro documento posteriormente perdido. Isto distingue-os do Evangelho de João, que revela origens significativamente diferentes.

Não se sabe nada sobre o autor do Quarto Evangelho. Na verdade, nem há razões para presumir que o seu nome fosse João. Excepto em relação a João Batista, o nome de João, nunca é mencionado no próprio Evangelho e, aceita-se de uma forma geral, que a atribuição da sua autoria a um homem chamado João, é uma tradição posterior.

O Quarto Evangelho, é o mais recente dos que constam no Novo Testamento, composto por volta do ano 100, nos arredores da cidade grega de Éfeso. Exibe várias características bastante distintas. Não inclui a cena da Natividade, por exemplo, ou qualquer descrição do nascimento de Jesus.

Contém vários episódios que não figuram nos outros Evangelhos – o casamento em Canaã, os papeis de Nicodemus e José de Arimateia e a ressurreição de Lázaro. Pode bem ser o mais fiável e historicamente correcto dos quatro.