Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

6.2.07

Kaulza - O Último Centurião


«(...) Salazar teve uma importância enorme para a derrota dos comunistas na guerra de Espanha. Se assim não fosse, teríamos os comunistas por toda a Península Ibérica. Imediatamente a seguir, dá-se a Segunda Guerra Mundial. E, aqui, há um pormenor curioso: o Salazar impede a comunização de Espanha, e durante a Segunda Guerra Mundial impede a nazificação de Espanha. O (Pedro) Teotónio Pereira conseguiu impedir que a Península Ibérica fosse aberta às tropas nazis, porque o Hitler tinha uma ideia persistente: dizia que era uma vergonha que Gibraltar fosse inglesa. E queria invadir a Península para libertar Gibraltar! E o Teotónio Pereira consegue convencer o Franco a não ir nessa conversa do Hitler. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, começam os problemas das colónias ultramarinas. Foi preciso segurar o Ultramar. E foi isso que me levou a colaborar com o Estado Novo. Ficou claro?»

O senhor general é daqueles que chama aos capitães de Abril traidores à pátria? - Não. Chamo-lhes outra coisa: presumíveis delinquentes de crime de alta traição. A eles e a outros. O poeta (Manuel) Alegre quis pôr-me em tribunal porque, quando disse isso, encaixou como se fosse dirigido a ele e ao (Mário) Soares, sendo o Soares, à época, Presidente da República.


«(...) Álvaro Cunhal é dos menos maus de todos, porque, embora laborando toda a vida num erro, foi sempre fiel a esse erro. Mário Soares é um salta-pocinhas. Sobre Sá Carneiro, vou-lhe contar uma história: estava no comando-chefe, em Moçambique, e o meu ajudante-de-campo era o Francisco Pinto Balsemão. E o Balsemão aparece-me, um dia, com um recado do Sá Carneiro. Esse recado dizia que ele, Sá Carneiro, era preponderante na ala liberal da Assembleia Nacional, e queria que eu fosse candidato à Presidência da República pela ala liberal.


A minha resposta foi esta: era amigo do almirante Américo Tomás, e nunca aceitaria ser candidato sem falar com ele primeiro. Depois, a palavra liberal dá para tudo, e eu não sabia qual era a política da ala liberal. Só depois de a saber é que poderia dar uma resposta. Passados uns tempos, voltei a Lisboa. O Balsemão e o Sá Carneiro souberam disso, e o Balsemão veio até minha casa repetir o convite. E a minha resposta foi: "Mantenho o que lhe disse antes. Mais uma coisa: não conheço o Sá Carneiro, e o tio dele, o Lumbralles, não me dá umas referências muito brilhantes.

É melhor conhecer o Sá Carneiro para lhe dar uma resposta."Combinou-se um almoço em Vila do Conde, e lá fui. Estavam lá umas quarenta pessoas. No fim do almoço, fomos tomar café, eu, o Sá Carneiro e o filho do Manuel Fino. O Sá Carneiro diz-me assim, de caras: "O senhor general não se esqueça de que eu o considero como comandante de tropas de ocupação de um território estrangeiro, que é Moçambique." Dizer isto a um comandante-chefe é uma coisa espantosa. E disse-lhe: "Você tem imensa sorte, porque se me dissesse isso em Moçambique, já estava na cadeia!" De modo que esse almoço não correu nada bem.»

«(...) Conheci um (capitão de Abril), que trabalhou na Operação Fronteira. O Mário Tomé foi meu major-de-campo, por ser o melhor capitão operacional em Moçambique. A mulher dele puxava um bocadinho para o socialismo. Ela era formada em Direito, era mais inteligente do que ele, de modo que lhe deve ter dado a volta. Ele era muito rígido, chamavam-lhe "o capitão nazi", mas foi sempre lealíssimo e um óptimo oficial.»

«(...) - Quando sucede Wiriamu, estava em Lisboa. Quando cheguei a Nampula, o brigadeiro Videira, que era o comandante da zona operacional de Tete, disse-me, mal cheguei ao aeroporto: "Há rumores de que as tropas fizeram abusos, num local chamado Wiriamu." "Onde era Wiriamu?", perguntei. "Não sei. Ninguém sabia onde ficava esse local. Até há quem pense que isso foi inventado." Fiz o que fazia sempre, porque, desde que chegara a Moçambique pela primeira vez, já tinha havido dezoito rumores de abuso das tropas. Ordenei, em todos os casos, que os serviços competentes investigassem esses rumores. E, desses dezoito rumores de abuso das tropas, três foram provados. E os prevaricadores foram a tribunal, e foram condenados. Também neste caso, ordenei ao serviço de justiça que abrisse um inquérito. Após um mês de investigações, concluiu-se que não havia nenhuma matéria que justificasse a existência desse rumor, logo, que houvesse algum crime. Mandei arquivar o inquérito, até que houvesse melhor prova.»

«(...) quando o Marcello Caetano foi a Londres, em visita oficial, na véspera, saiu no "The Times" uma coisa terrível sobre Wiriamu. Foi nessa ocasião que se deu o célebre incidente, em que dizem que, numa manifestação contra o Marcello Caetano, o Mário Soares pisou a bandeira nacional. Não sei se isso é verdade, mas o Mário Soares estava nessa manifestação, isso é um facto. Essa notícia, enviada para Londres pelo padre Hastings, fora mandada pelos padres espanhóis de Burgos, que eram nossos inimigos. Esses padres apoiavam os terroristas, guardavam o seu armamento, socorriam-nos. Tive de fechar quatro missões dos padres de Burgos, o que os deixou furiosos, e dois padres foram julgados em tribunal. Esses mesmos padres afirmaram em tribunal que eram inimigos de Portugal. Esses padres afirmaram que não queriam a nossa presença em Moçambique, que não queriam "perder o comboio", expressão deles. Foram os padres de Burgos que organizaram o escândalo de Wiriamu.

O Marcello Caetano ficou arreliadíssimo, porque esperava fazer uma viagem triunfal, e não teve triunfo nenhum. (...) No fim de Agosto veio cá o Jorge Jardim, e disse ao Marcello Caetano, ao ministro da Defesa, Sá Viana, ao ministro do Ultramar, Silva Cunha, que houve uma coisa em Wiriamu mais grave do que aquilo que se pensava. O Sá Viana afirmou, depois, para os jornais, que parecia ter havido qualquer coisa grave em Wiriamu. O Marcello Caetano mandou fazer um inquérito, mas com gente daqui, o brigadeiro Nunes da Silva, com a sua equipa, que fizeram o terceiro inquérito de Wiriamu. E esse inquérito teve a mesma conclusão que os outros: não ocorreu nada em Wiriamu. Não houve nenhum crime em Wiriamu.»
Extractos de uma entrevista do General Kaulza de Arriaga ao jornalista Batista-Bastos

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