Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

23.12.07

Greve e Terrorismo Selectivo


Terrorismo é um método que consiste no uso de violência, física ou psicológica, por indivíduos, ou grupos. Daí que, por exemplo, toda a acção deliberada para impedir o regular fornecimento a uma comunidade humana de produtos e servi-ços essenciais - água, electricidade, transportes públicos, serviços de saúde, educação, etc. – pode ser denominada terrorismo. A forma de “tor-near” esta questão e garantir aos seus autores completa impunidade, é designar este acto com o nome de "greve".

A greve – que para os sindicatos, é sempre uma “justa luta” - é um direito exorbitante consagrado constitucionalmente aos trabalhadores, sempre que agride violentamente direitos fundamentais das restantes pessoas e as toma como reféns e moeda de troca para a obtenção dos objectivos dos grevistas.

Talvez de uma forma redutora, muita gente pense que toda a greve, enquanto conflito social, sempre que ultrapassa estrictamente as relações entre quem trabalha e quem paga o trabalho (trabalhador vs. patrão) – é um acto de puro terrorismo selectivo.

Isto quer dizer que devia ser retirado aos trabalhadores do sector público socialmente estratégico, o direito de lutarem por melhores condições de trabalho e salariais, fazendo greve e tentando resolver pela força os seus conflitos com o Estado? A resposta é sim!

Vejamos: O que é uma greve, senão uma tentativa dos sindicatos de obtenção pela força, de regalias e benefícios para os trabalhadores? Refira-se aqui que, por razões mais historicas do que de outra natureza, a greve é o único tipo de conflito que a lei permite, que seja directamente derimido pelos contendores e por eles decidido na razão directa das suas força relativas. Para todos os outros confiltos existentes ou emergentes na sociedade, o estado de direito, avocou para si a exclusividade do exercício da justiça e para tal criou um poder independente – os tribunais.

Se há tribunais especializados nas múltiplas facetas do Direito, incluindo Tribunais do Trabalho, reformular o âmbito e competência destes tribunais, por forma a poderem também julgar e decidir sobre conflitos e diferendos abrangendo questões laborais em geral? Isso já é a norma em múltiplas situações perfeitamente equivalentes.

Haveria só que ter a coragem (e perder votos) para reformar profundamente a lei do direito à greve no sector público. Por alguma razão, actualmente só há greves na função pública. Isso justamente porque só os funcionários públicos a podem fazer com a total impunidade que lhes vem da garantia de emprego estável e para toda a vida.

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22.12.07

A Longa Noite da Inês



Oiço a Inês Pedrosa dizer num programa de rádio de que sou ouvinte e a que já fiz aqui uma vez referência, que - "ainda viveu 13 anos na longa noite”. Referia-se, (a que havia de ser?), à anterior República em Portugal. Coincidência! - Eu também vivi, só que muitos anos mais. E, posso garantir de que não havia tal noite. Pelo contrário.



Esta “boca” da Inês tem apenas o valor que tem e não seria de esperar muito mais porquanto a formatação abrileira teria que forçosamente limitá-la, como limitou e conduziu para zonas – essas sim obscuras – milhões de portugueses, entre os quais muitos daqueles que aplaudiam entusiasticamente no Estádio Nacional, Marcello Caetano durante a final da Taça de Portugal de Futebol, no domingo anterior ao pronunciamento militar de Abril.

Esta menina, foi mais uma que deve ter saído tão deslumbrada pela tal anterior ausência de luz que defrontada com toda a “iluminação” inaugurada em Abril de 74, desatou a escrever umas coisinhas, julgo que para a Crónica Feminina, uma pequena revista, muito conhecida por essa altura devido a um Consultório Sentimental, onde se escrevia (sentimentalmente, suponho) pornografia ao melhor estilo “hard core”. No resto da redacção rapidamente “update”, tudo muito socialismo, esquerda, muito Democracia, muito povo está com o MFA. Nestas e noutras publicações rodadas instantaneamente 180 graus, ficaram para o resto da vida, muitos dos “tiques” esquerdóides de algumas pessoas, como ela, que na altura se estreavam na escrita.

Recorde-se, para quantos tiveram a sorte de não viver a “longa noite” que o tal MFA que restabeleceu a luz, era à época uma espécie de clube militar onde, a par de algumas, poucas, pessoas dignas e respeitáveis, convivia a pior escória militar que escondia, sob um discurso populista e libertário, toda uma indisfarçável cobardia militar e um corporativismo, de raiz económica, que pretendia sobretudo eliminar a concorrência às suas carreiras profissionais.

A Inês viveu 13 anos na tal noite? Eu vivi muitos mais. E honestamente não vi noite nenhuma. Mais, hoje assalta-me um desconfortável sentimento de ter sido politicamente injusto para portugueses muito dignos como Marcello Caetano e Salazar. Na altura eu era dos devorava o “República” e o “Diário de Lisboa”. Tentava ler nas entrelinhas das “Redacções da Guidinha” no suplemento do DL, que mais tarde vim a saber serem da autoria do Sttau Monteiro, ainda hoje, uma espécie de alter-ego para mim.

Participei na campanha do Humberto Delgado e fui delegado da candidatura numa das mesas de voto; conheci de muito perto (ele não sabia, que eu conhecia a sua actividade) um dos inspectores da PIDE que foram mandados por Salazar para o porto brasileiro do Recife quando ali aportou o paquete Santa Maria, desviado em alto mar por um comando chefiado pelo dissidente português capitão Henrique Galvão.

Passou por mim muita História. Tudo isso ainda estas "Inês" brincavam com bonecas e cá fora, trabalhando às escuras na tal noite, os portugueses faziam a economia crescer a taxas de 9% ao mesmo tempo que o país suportava uma guerra de soberania em três frentes. Não era fácil na altura ser comunista. Pois não! Tal como hoje não o é simpatizar com fascismo, coisas muitíssimo semelhantes entre si.

Com o distanciamento possível passados todos estes anos, após o tal Abril das liberdades, ao reviver aqueles anos, e ao constatar todos os dilates que sobre eles continuam a escrever-se, e percebendo toda a dimensão de figuras grandes do Estado Novo (reconheço que muita gente daquela até não era melhores do que os políticos actuais) tenho que reconhecer toda a sabedoria da sentença “As montanhas só se vêem ao longe”

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20.12.07

O Ano da Descoberta de Fernando Pessoa


Quem consultasse uma Selecta Literária no Portugal dos anos 60 não encontraria qualquer referência a Fernando Pessoa, não obstante o poeta já ter falecido há cerca de 30 anos e ter publicado, Mensagem, o seu único livro editado ainda em vida.

De um momento para o outro, no final da década de 60 do século anterior, alguém “descobriu” Pessoa.
O homem, ou porque era mesmo bom no que escrevia - e aí fico a interrogar-me sobre o porquê de um reconhecimento tão tardio dos seus méritos - ou então, porque passou numa espécie de "casting" literário, organizado por alguns “entendidos” nestas coisas (que de todo não é o meu caso), de braço dado com mais uns quantos, ditos críticos, e ainda os invariavelmente presentes, editores de livros – embora estes por razões menos literárias como se perceberá. Objectivo: refrescar o “plantel” das letras nacionais, cansado já de sucessivas edições dos eternos clássicos – Camões, Camilo, Eça etc.

Entenderam então ter chegado o momento de abanar o mercado das letras. Para tal, Pessoa servia perfeitamente: uma personalidade estrangeirada e discreta, completamente ignorada durante a sua vida, mas com uma faceta a puxar para o místico, para exoterismos, e por fim, embora não em último lugar, com mal esclarecidas ligações à sempre poderosa Maçonaria.

Então, aí pelos finais da década de 60, Pessoa começou a ser recorrentemente “revisitado” em tudo o que era suplemento literário dos jornais. Com o tempo, o novo icone das letras foi-se consolidando. Ao que parece, sobretudo devido aquela sua invenção dos heterónimos - que era uma coisa que quase ninguém percebia mas todo a gente explicava - quiçá à falta de alguma genialidade e substância nos conteúdos da sua escrita.

Depois, como já acontecera com tantas outras figuras das letras, os pórticos da fama foram-se alargando para o poeta. Aparecem referências na topomínica, tertúlias, universidades com o seu nome, especialistas em “estudos pessoanos”, exaustivas referências ao seu “pensamento”, e as inevitáveis citações de coisas que ele escreveu e certamente de muitas outras que jamais passaram pela sua cabeça e pela sua escrita, etc.

Todos as comunidades linguisticas necessitam de grandes referências culturais. Nas últimas décadas Pessoa preencheu esse desiderato. Com mérito? Possivelmente. Até quando? Julgo que até ao momento em que os superiores interesses, exactamente, "interesses", da edição literária e do seu mundo, entenderem que o “produto” Fernando Pessoa vende.

Depois virá outro, ou mais previsivelmente “outra”, de tal forma as mulheres desataram frenéticamente a escrever e encher os escaparates das livrarias, aproveitando o maná que lhes veio da actual visibilidade da cultura islâmica e da sua organização social e de género.

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7.12.07

Tenha Opinião! (consulte o regulamento)

(...) Diz-se que, em troca, ganhámos imensas coisas preciosas.
E começam a enumerá-las.
Temos liberdade de opinião. Mas o que é uma opinião?
O pensador Jean-Paul Sartre abriu, brilhantemente, o caminho explicando que o anti-semitismo não era uma opinião.
E, hoje em dia, não é uma opinião o fascismo,
o princípio do chefe não é uma opinião,
o colonialismo não é uma opinião,
o fundamentalismo não é uma opinião
e o velho aforismo "o interesse geral está acima do interesse particular" não é uma opinião.
Na Áustria, esse modelo de liberalismo, um partidozinho foi logo proibido porque proclamava «Gemeinutz von Eigenutz».
Isso foi considerado filo-nazismo que, pelos vistos, também não é uma opinião.
E assim sucessivamente. A liberdade de opinião é a liberdade de ter a opinião deles, a que governa o mundo.
As outras opiniões… não são opiniões! (AJ Brito)

5.12.07

Dois Tiros ... na Cabeça ?!...


Fala-se de Antero de Quental na "Universidade Aberta", um programa transmitido no 2º Canal da Televisão Portuguesa, sob a legenda - “Porque aprender é um processo constante para o esclarecimento”. Como aprender é comigo, fiquei...

Recordei, aprendi e interpretei, que Antero (1842-1891) foi uma personalidade literária controversa no seu tempo. Muito influenciado pelo jacobinismo imanente da Revolução Francesa, e de ideais que metiam fraternidade, igualdade e, agora também … marxismo, aparece como co-fundador do Partido Socialista Português em 1875, partido que passaria a chamar-se em 1878, Partido Operário Socialista Português e que de cisão em cisão acabaria por desaparecer do espectro político.

Dissidentes políticos do Estado Novo de Salazar, auto-exilados na Europa reformulam um movimento político ali construído por eles, a Acção Socialista, e numa cidade alemã fundam em 1973 um remake do velho Partido Socialista, agora já com certo aparato mediático vindo do apoio de poderosos políticos europeus, hostis ao regime de Salazar e sobretudo à sua política de tentar manter as colónias de África.

Entre o pequeno grupo de fundadores está o casal Mário Soares – que viria a ser Presidente da III República - e mais alguns opositores do regime português. Um ano após, todos estes, poderiam regressar a Portugal reclamando-se de triunfadores, ainda que não se saiba muito bem de quê. O regime português entretanto caíra às mãos de alguns militares, que inicialmente estavam apenas preocupados com as suas carreiras profissionais e que depois foram retocando a imagem do pronunciamento castrense, com uns laivos de democraticidade, liberdade e todas essas coisas úteis, para evitar que as pessoas os pudessem vir a apelidar de mercenários.

A Universidade Aberta - talvez por o Partido Socialista ser governo em Portugal neste momento … (!) - ao seguir o percurso de Antero de Quental de quem os socialistas portugueses se reclamam da herança ideológica, não foi suficientemente ao fundo do destino dado à herança. Pelo menos não me tirou uma dúvida que tenho.

Os Partidos Políticos são no geral conhecidos pelas siglas da sua denominação oficial, geralmente três letras. Julgo que quando da refundação do Partido Socialista Português, surgiu um problema que não era menor. A sigla lógica seria “PSP”. Mas essa sigla era também a da polícia civil (PSP), Assim, imagine-se só a confusão que surgiria, quando os militantes socialistas começassem a gritar PSP! PSP! … Estariam a empolgar o seu partido ou a chamar a polícia?

Podia surgir a dúvida legítima entre as pessoas que estivessem nas proximidades, e não seria impossível que algumas colocassem protectoramente a mão sobre as respectivas carteiras. Inconveniente mesmo … Daí que os dirigentes resolveram, e bem, que o Partido Socialista Português tivesse oficialmente a sigla “PS”. Compreende-se.

Já não se compreende tão bem o remate da biografia de Antero de Quental feita na tal Universidade Aberta. É sabido que o escritor, sofria de neurose depressiva e terminou precocemente os seus dias, suicidando-se. Mas – eu ouvi ali, juro! – “com dois tiros na cabeça”!!! Pode?! Como diriam os meus amigos brasileiros?… Não anda por aí um tiro a mais? Esta nossa mania das grandezas, Deus meu …

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