Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

20.12.07

O Ano da Descoberta de Fernando Pessoa


Quem consultasse uma Selecta Literária no Portugal dos anos 60 não encontraria qualquer referência a Fernando Pessoa, não obstante o poeta já ter falecido há cerca de 30 anos e ter publicado, Mensagem, o seu único livro editado ainda em vida.

De um momento para o outro, no final da década de 60 do século anterior, alguém “descobriu” Pessoa.
O homem, ou porque era mesmo bom no que escrevia - e aí fico a interrogar-me sobre o porquê de um reconhecimento tão tardio dos seus méritos - ou então, porque passou numa espécie de "casting" literário, organizado por alguns “entendidos” nestas coisas (que de todo não é o meu caso), de braço dado com mais uns quantos, ditos críticos, e ainda os invariavelmente presentes, editores de livros – embora estes por razões menos literárias como se perceberá. Objectivo: refrescar o “plantel” das letras nacionais, cansado já de sucessivas edições dos eternos clássicos – Camões, Camilo, Eça etc.

Entenderam então ter chegado o momento de abanar o mercado das letras. Para tal, Pessoa servia perfeitamente: uma personalidade estrangeirada e discreta, completamente ignorada durante a sua vida, mas com uma faceta a puxar para o místico, para exoterismos, e por fim, embora não em último lugar, com mal esclarecidas ligações à sempre poderosa Maçonaria.

Então, aí pelos finais da década de 60, Pessoa começou a ser recorrentemente “revisitado” em tudo o que era suplemento literário dos jornais. Com o tempo, o novo icone das letras foi-se consolidando. Ao que parece, sobretudo devido aquela sua invenção dos heterónimos - que era uma coisa que quase ninguém percebia mas todo a gente explicava - quiçá à falta de alguma genialidade e substância nos conteúdos da sua escrita.

Depois, como já acontecera com tantas outras figuras das letras, os pórticos da fama foram-se alargando para o poeta. Aparecem referências na topomínica, tertúlias, universidades com o seu nome, especialistas em “estudos pessoanos”, exaustivas referências ao seu “pensamento”, e as inevitáveis citações de coisas que ele escreveu e certamente de muitas outras que jamais passaram pela sua cabeça e pela sua escrita, etc.

Todos as comunidades linguisticas necessitam de grandes referências culturais. Nas últimas décadas Pessoa preencheu esse desiderato. Com mérito? Possivelmente. Até quando? Julgo que até ao momento em que os superiores interesses, exactamente, "interesses", da edição literária e do seu mundo, entenderem que o “produto” Fernando Pessoa vende.

Depois virá outro, ou mais previsivelmente “outra”, de tal forma as mulheres desataram frenéticamente a escrever e encher os escaparates das livrarias, aproveitando o maná que lhes veio da actual visibilidade da cultura islâmica e da sua organização social e de género.

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