Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

22.12.07

A Longa Noite da Inês



Oiço a Inês Pedrosa dizer num programa de rádio de que sou ouvinte e a que já fiz aqui uma vez referência, que - "ainda viveu 13 anos na longa noite”. Referia-se, (a que havia de ser?), à anterior República em Portugal. Coincidência! - Eu também vivi, só que muitos anos mais. E, posso garantir de que não havia tal noite. Pelo contrário.



Esta “boca” da Inês tem apenas o valor que tem e não seria de esperar muito mais porquanto a formatação abrileira teria que forçosamente limitá-la, como limitou e conduziu para zonas – essas sim obscuras – milhões de portugueses, entre os quais muitos daqueles que aplaudiam entusiasticamente no Estádio Nacional, Marcello Caetano durante a final da Taça de Portugal de Futebol, no domingo anterior ao pronunciamento militar de Abril.

Esta menina, foi mais uma que deve ter saído tão deslumbrada pela tal anterior ausência de luz que defrontada com toda a “iluminação” inaugurada em Abril de 74, desatou a escrever umas coisinhas, julgo que para a Crónica Feminina, uma pequena revista, muito conhecida por essa altura devido a um Consultório Sentimental, onde se escrevia (sentimentalmente, suponho) pornografia ao melhor estilo “hard core”. No resto da redacção rapidamente “update”, tudo muito socialismo, esquerda, muito Democracia, muito povo está com o MFA. Nestas e noutras publicações rodadas instantaneamente 180 graus, ficaram para o resto da vida, muitos dos “tiques” esquerdóides de algumas pessoas, como ela, que na altura se estreavam na escrita.

Recorde-se, para quantos tiveram a sorte de não viver a “longa noite” que o tal MFA que restabeleceu a luz, era à época uma espécie de clube militar onde, a par de algumas, poucas, pessoas dignas e respeitáveis, convivia a pior escória militar que escondia, sob um discurso populista e libertário, toda uma indisfarçável cobardia militar e um corporativismo, de raiz económica, que pretendia sobretudo eliminar a concorrência às suas carreiras profissionais.

A Inês viveu 13 anos na tal noite? Eu vivi muitos mais. E honestamente não vi noite nenhuma. Mais, hoje assalta-me um desconfortável sentimento de ter sido politicamente injusto para portugueses muito dignos como Marcello Caetano e Salazar. Na altura eu era dos devorava o “República” e o “Diário de Lisboa”. Tentava ler nas entrelinhas das “Redacções da Guidinha” no suplemento do DL, que mais tarde vim a saber serem da autoria do Sttau Monteiro, ainda hoje, uma espécie de alter-ego para mim.

Participei na campanha do Humberto Delgado e fui delegado da candidatura numa das mesas de voto; conheci de muito perto (ele não sabia, que eu conhecia a sua actividade) um dos inspectores da PIDE que foram mandados por Salazar para o porto brasileiro do Recife quando ali aportou o paquete Santa Maria, desviado em alto mar por um comando chefiado pelo dissidente português capitão Henrique Galvão.

Passou por mim muita História. Tudo isso ainda estas "Inês" brincavam com bonecas e cá fora, trabalhando às escuras na tal noite, os portugueses faziam a economia crescer a taxas de 9% ao mesmo tempo que o país suportava uma guerra de soberania em três frentes. Não era fácil na altura ser comunista. Pois não! Tal como hoje não o é simpatizar com fascismo, coisas muitíssimo semelhantes entre si.

Com o distanciamento possível passados todos estes anos, após o tal Abril das liberdades, ao reviver aqueles anos, e ao constatar todos os dilates que sobre eles continuam a escrever-se, e percebendo toda a dimensão de figuras grandes do Estado Novo (reconheço que muita gente daquela até não era melhores do que os políticos actuais) tenho que reconhecer toda a sabedoria da sentença “As montanhas só se vêem ao longe”

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