Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

31.8.06

Entre Aspas

Os nossos amigos lembram-se que os amigos são para as ocasiões, sempre em ocasiões chatas.( Grafiti)

Mediolândia

Um jornal, uma estação de televisão ou de rádio, revestem o carácter de empresas cujas mercadorias que produzem, são os espaços reservados aos anúncios, estando a redacção encarregada de os manter atraentes e interessantes.

Mulata é profissão?

(..) O corpo da mulher passou a ser explorado e comercializado em alta escala, a fim de que ficasse corriqueiro e deixasse de ser erótico para o homem e ele, gradualmente, vá perdendo o interesse pelo sexo oposto. No caso da comercialização da mulher, vejamos especificamente o caso da mulata que há muito deixou de ser o nome atribuído à graciosa mistura de raças entre certo povo de origem céltica (os portugueses) e aqueles a que, segundo Camões, "o filho de Climene negou a cor do dia" (os negros africanos). Hoje, mulata é profissão, dá dinheiro e representa parcela considerável da receita total arrecadada pelo turismo brasileiro. Preparadas, produzidas e embaladas para serem consumidas por um público heterogéneo, constituído, principalmente, de turistas estrangeiros, a mulata passou a ser um mero objecto de consumo tendo sido, inclusive, contrabandeada para o exterior e apresentada como exótica curiosidade tropical. Em sua vida de operária da noite e do entretenimento, a mulata luta para sobreviver em um ambiente sempre hostil e de desleal concorrência. (Recorte)

Tudo isto é fado?

Fado, destino, predestinação, karma?.

Será que o nosso é mesmo “marcado” à nascença, tal como o juram os astrólogos e as pessoas que escrevem letras de fado? Pelo menos os astrólogos juram-no a pés juntos. Já a ciência e a filosofia não se exprimem de forma tão categórica.

Uns defendem o “determinismo biológico”, que exprime um estrito e directo controlo genético sobre os caracteres e manifestações do comportamento social. Em essência o determinismo biológico pergunta, porque são os indivíduos como são?, porque fazem o que fazem?. E responde que as vidas e acções humanas são a consequência inevitável das propriedades bioquímicas das células que compõem o indivíduo; e essas características, por sua vez, são determinadas unicamente pelos constituintes dos genes de cada indivíduo.

Outros opõem-se a esta teoria, afirmando que a biologia acaba no momento do nascimento e que a partir daí intervêm a cultura.

O sonho dos mecanicistas, para os quais uma parte ou a totalidade dos fenómenos naturais, pode ser reduzida a uma combinação de movimentos físicos ou mecânicos, por oposição às explicações teleológicas, parecia ter sido finalmente realizado, quando se fez a decifração do código genético e se pôde estabelecer um fio lógico de casualidade entre a molécula básica, o ADN. Isto permitiu que se “descesse” à molécula para explicar a inteligência, o comportamento social, os traços físicos, etc.

Independentemente de quem está certo ou errado, este continua a ser um assunto muitíssimo interessante particularmente quando recorre ao estudo de gémeos humanos, com uma estrutura genética praticamente igual, mas criados em ambientes diferentes. Ao que parece, para além de outras, há inegavelmente uma relação fundamental e directa entre o comportamento e os genes, mas também há, margem para haver condicionantes comportamentais relacionadas com o meio e o ambiente.A ciência e a filosofia prosseguem o seu trabalho.

Entretanto, também não vem mal ao mundo que os astrólogos e o letristas de fados continuem a achar que a vida das pessoas está dependente na hora em nascem (humm! – ainda não percebi como dão a volta a essa questão dos fusos horários), e os fadistas vão continuar a cantar “fado é sorte / e do berço até à morte / ninguém foge, por mais forte / ao destino que Deus dá.

30.8.06

Estante de Livros

A Prostituição Através do Tempo

«Porque é que a acção de alugar o corpo é considerada degradante, numa sociedade que promove o aluguer da alma a retalho, amestrando o ter ao ser»

«Se a prostituição é a mais velha profissão do mundo, de certeza que a segunda mais velha é a dos homens que escrevem sobre ela.»

«É pouco razoável insistir, como tantos fizeram, na afirmação de que a prostituição é a única forma degradante de trabalho. Pelo contrário. Para muitas mulheres, tornar-se prostituta independente era uma escolha muito acertada e, ainda hoje, é uma das mais lucrativas opções de carreira feminina, independentemente da classe social.»

«No século XIII, S.Tomás de Aquino dizia: a prostituição nas cidades é como a fossa nos palácios: se deixar de existir fossa, o palácio torna-se um local sujo e malcheiroso.»

Resenha do livro «A Prostituição Através dos Tempos na Sociedade Ocidental» de Nickie Roberts (uma veterana do négócio do sexo)

Observatório do Ensino

Já tinha acabado o "carácter repressivo" dos exames. Agora, acaba a indisciplina que passa a chamar-se "conduta perturbante que extravasa o âmbito pedagógico", e acabam as penas disciplinares, substituídas pelas "intervenções educativas para a integração"

(...) Se o menino X mandar a professora àquela parte, o Ministério entende, que ele "extravasou o âmbito de autonomia pedagógica da professora" e aí impõe-se "intervenção educativa para a integração" (...) Acabaram-se as penas de exclusão temporária de frequência da escola

(...) Mesmo que o menino Y insista em tentar pegar fogo à escola, violar as colegas ou impingir heroína aos "putos", o Ministério, na sua nova "perspectiva pacificadora", entende que o menino Y deve ser recuperado é intramuros. O que, em lugar da suspensão, manifestamente se impõe é distribuir ao Y "actividades úteis à comunidade escolar (...)

(Miguel Sousa Tavares – Público)

29.8.06

Era Uma Vez na América

Desde a Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos lançaram bombas em 23 países. Estes incluem: China 1945-46, Coréia 1950-53, China 1950-53, Guatemala 1954, Indonésia 1958, Cuba 1959-60, Guatemala 1960, Congo 1964, Peru 1965, Laos 1964-73, Vietnam 1961-73, Cambódia 1969-70, Guatemala 1967-63, Granada 1983, Líbano 1984, Líbia 1986, El Salvador 1980, Nicarágua 1980, Panamá 1989, Iraque 1991-99, Sudão 1998, Afeganistão 1998 e Jugoslávia 1999.

Mediolândia

"A liberdade de expressão resume-se à liberdade de escrever e dizer coisas, desde que enquadradas no critério do grupo económico que detém o órgão de comunicação. É como tocar piano num instrumento a que o dono do piano retirou previamente as teclas passíveis de gerar acordes que lhe desagradam."

Canal da Memória

"Então, o Presidente da República, na ocasião Manuel Arriaga (1915), não tinha qualquer outro poder a não ser o de se ir embora."

Subsídios para O Livro Negro da Descolonização

Nas primeiras duas semanas de Agosto, mais de 3 mil imigrantes africanos chegaram às Ilhas Canárias, de barco. Este número é 10 vezes superior ao registado no mesmo período no ano passado.

Aqui, tal como noutros portos de acesso à União Europeia assistimos, à chegada de africanos - sub-saarianos em especial -, que, exaustos, famintos e desesperados, conseguem sobreviver às condições terríveis das viagens por mar em frágeis embarcações. Muitos, nem isso conseguem, porque entretanto o mar cobra o seu tributo em vidas humanas. Outros, em fronteiras terrestres, tentam ultrapassar de qualquer maneira as cercas electrificadas e altamente vigiadas, que ali estão colocadas para lhes barrar o acesso ao seu idílico destino.

Em regra, aquilo que aguarda o seu sonho de atingir terras onde impere a segurança e o bem estar, ainda que mínimo, é o internamento temporário em centros de acolhimento para imigrantes e, por fim, o regresso forçado aos seus países de origem. Designamo-los como imigrantes ilegais; mais propriamente os rotularíamos de refugiados económicos, que é o que na realidade são.

Dispensáveis para a União Europeia, onde já não há lugar para mais imigração, e encorajados, quando não ameaçados, nos seus países para o abandonarem, estas pessoas são verdadeiramente vítimas indefesas. De quê? De quem? De que políticas globais?

O sistema capitalista tem as costas largas e não pode “grosso modo” ser bode expiatório para todas as desgraças e migrações de esfomeados. Em termos de História e de pura geo-economia onde encontrar os culpados?

Faça-se um exercício mental extremamente simples: Quantos destes potenciais imigrantes, sentiria a urgente vital e imperativa necessidade de abandonar a sua terra, no momento em que os seus países ainda eram colónias?...

As descolonizações, tem sido consideradas acriticamente como um progresso indiscutível da humanidade. Terá sido assim? Que responsabilidade terão, mais de 50 anos após, os ventos ideológicos que sopraram a partir da Conferência de Bandung de 1955 (a génese das descolonizações em África), perante os desgraçados que actualmente aportam às Ilhas Canárias?

Urge que alguém escreva um Livro Negro sobre as descolonizações africanas.

Dito e anotado

"Ninguém se preocupa em ser chamado de 'anti-italiano' ou 'anti-francês' ou 'anti-cristão'.
Não são palavras que desencadeiam avalanches de vituperações, e fazem as pessoas deixar de fazer negócios com você.
É sem sentido perguntar o que 'anti-semita' significa.
Significa problema."
(Sobran)

28.8.06

Album de Recortes

(...) Seria cómica não fosse trágica a presunção de muito boa gente de que são os EUA e Israel o baluarte de defesa do Ocidente contra o expansionismo islamista. O que é certo é que a esses dois países só interessam os seus interesses particulares, prosseguindo-os nem que tenham que deixar o planeta a ferro e fogo. Para a maior glória do dólar e do "povo eleito"

Observatório do Ensino

Manuais escolares não Politicamente Correctos:

- Uns quantos «pinocas» reuniram as suas sabenças num debate na Associação Portuguesa de Antropologia ( quem está por detrás desta coisa ? ) e «urbi et orbi» concluíram: Os manuais escolares que andam por aí são brancos, masculinos e urbanos. Os livros que ensinam as criancinhas são antropocêntricos, eurocêntricos, urbanos e classe média. A visibilidade de outras culturas é praticamente inexistente. As mulheres surgem de forma estereotipada e em situações de inferioridade.

Fonte: Expresso

27.8.06

Fabricando mentes de massa

Os média tornaram-se altifalantes gigantes, cujo poder é utilizado para estandardizar as imagens que flúem na corrente mental da sociedade.

Certas imagens visuais são tão vastamente distribuídas em massa e implantadas em tantos milhões de memórias particulares que se transformam em ícones: a imagem de Lenine com o queixo atirado para a frente, Che Guevara, Charlot, os corpos empilhados em Buchenwald, Marilyn Monroe tufada pelo vento.

Tudo isso se tornou um arquivo de imagens universal, injectado no cérebro das massas. Os média criam “mentes de massas”. As sondagens, as estatísticas e os “opinion markers”. formam a opinião pública.

Canal da Memória

"Em Portugal não há monárquicos nem republicanos. Em Portugal só há bandidos!"
Assim escrevia Francisco Homem Cristo no "Povo de Aveiro" de 2 de Janeiro de 1910. O mesmo autor, já anteriormente, num número do mesmo jornal de 13 de Julho de 1909, classificava vários líderes republicanos com o epíteto de "pulha", "gatuno", "falsificador", "canalha" e "chulo". Homem Cristo raramente tratava os políticos pelo nome: Brito Camacho era o "Kabrito Macho", Bernardino Machado era o "Bombardino Rachado" etc...

Mouros, Cristãos e Sexos

A natureza tem horror ao vazio. Também a "mídia". Para esta um ambiente em que impere o vazio informacional, é potencialmente letal, e estimula o seu instinto de sobrevivência. Talvez por isso, continua a a rodear-se de equívocos a discussão sobre se, em geral, a grande "mídia" se limita a relatar os acontecimentos, ou se, por ínvios caminhos, participa activamente na génese e ocorrência dos mesmos, para os poder posteriormente relatar em “timming” privilegiado. Um pouco da lógica subjacente ao do “bombeiro pirómano”.

As guerras recorrentes que os EUA e os seus mordomos ingleses vêm fazendo no médio oriente, estão exaustas em termos mediáticos. Israel e os palestinianos estão a tornar-se uma espécie de história interminável, repetitiva e que vende mal.

Ainda o que vai dando, e a "mídia" explora exaustivamente, é o pré-anúncio de uma verdadeira catástrofe civilizacional latente: Os EUA, entenda-se sobretudo a América WASP (white, anglo-saxon and protestant) enfrentam mais uma vez demónios planetários. Desta vez a ameaça vem dos bárbaros provenientes do Islão, que constituem, gorada a pantomina das armas de destruição maciça, o eixo do mal para a América WASP e para o mundo, porque só o que é bom para a América é que é bom para o mundo.

Interrogo-me: que será que transformou os árabes, que viveram e conviveram pacificamente durante vários séculos na Europa, que aqui deixaram sinais indeléveis da sua arte, cultura e saber e tradições – nas bestas negras nos nossos dias? A religião, o petróleo, a indiferença perante a sacrossanta democracia, a rejeição da Coca-Cola, a acção dos extremistas de qualquer dos lados? Acho que não.

Aquilo que de mais concreto separa – e paradoxalmente aproxima ambas as concepções de vida e de sociedade, daí a sua mútua rejeição – é um fundamentalismo, fanático, exagerado como compete a qualquer fundamentalismo -, sobre o papel atribuído às mulheres em qualquer das civilizações. E aí, mais uma vez os campos opostos se encontram: no erro. Ambas estão profundamente erradas.

Citando

João amava Teresa
que amava Raimundo
que amava Maria
que amava Joaquim
que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos,
Teresa para o convento.
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia.
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J.Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.

(Poema “Quadrilha” de Drummond de Andrade)

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

(José Régio)

Porque não vou por aí…
Frequentemente encontro-me em rota de colisão com a opinião pública (ou será com a opinião publicada?), totalmente incapaz de aderir à lógica dominante, ao pensamento único, aos novos valores de referência pseudo-éticos. Daí, poderia concluir que sou eu quem marcha em sentido proibido e invertê-lo, poderia simplesmente engrossar o grupo dos cínicos sociais e dos indiferentes. Ou poderia escrever um blogue, acreditando que uma bandeira é sempre mais bonita se erguida contra o vento.