Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

5.12.06

Psicanálise - Uma ôca e Lucrativa Superstição


Segundo Carl Schorske (em Fin-de-Siècle Vienna, 1979), Freud voltou-se para a psicologia da profundidade como uma compensação para seus ressentimentos e frustrações de judeu liberal na Áustria do fim de século; a psicanálise seria um meio de reduzir os conflitos políticos a fenómenos da psique.
Restaria saber se a psicanálise, apesar de tão precária como ciência, possui valor terapêutico. Infelizmente o “recorde” psicanalítico nesse campo é tão desanimador quanto o outro. A própria meia dúzia de casos clínicos discutidos a fundo por Freud só contém uma instância de êxito terapêutico indiscutível.
Críticas mais recentes salientam a incidência, na psicanálise, do efeitoiatrogênico”: do mal causado pelo próprio tratamento clínico. No caso do freudismo, isso parece estar bastante ligado à frequência, com que os pacientes partem para a análise já familiarizados com a doutrina, ou passam a estudá-la no curso do tratamento.
Comummente, o analisando ou ex-analisando vira um analista amador, maniacamente propenso a interpretar o seu comportamento, e o alheio, com as categorias de Freud (para não falarmos na chatice com que insiste no proselitismo). Certamente, o poder de sugestão da psicanálise é enorme – e no mínimo, bem maior do que a sua capacidade de cura.
O próprio número – escasso – de “curas” psicanalíticas não deixa de recair sob fortes suspeitas. A mais simples delas é a de que, com a longa duração que caracteriza o tratamento analítico, o paciente melhora porque melhoraria de qualquer maneira, devido à simples passagem do tempo.

Bem sei que muitos fanáticos reagiriam com o maior desprezo a estas nossas preocupações com eficácia terapêutica. Para a maioria dos analisandos “esclarecidos” de hoje, a questão da cura já era. “O importante é a gente se conhecer a si mesmo”, inclusive porque, como sabemos, neurose por neurose, “todo mundo é neurótico.” …

Hoje , torna-se cada vez mais difícil evitar a conclusão de que, em seu conjunto, ela constitui apenas uma oca e lucrativa superstição. Para o prémio Nobel Peter Medawar, o “dinossauro” representado pelo freudismo é “o mais estupendo embuste intelectual do século XX”.

Sinopse. Texto de José Guilherme Merquior, Professor universitário e Diplomata brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras.

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