Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

2.12.06

Psicanálise – Um Curandeirismo Sofisticado


A psicanálise goza de inegável prestígio no mundo ocidental. Mas esse prestígio possui duas dimensões. Por um lado, é uma posição intelectual; por outro, um status social. O freudismo virou uma verdadeira cachaça intelectual – e os preços mirabolantes das consultas de analistas atestam que a implantação da terapia do divã é um sucesso de estrondo. Daí a conveniência de aquilatar o valor da psicanálise.
Em seu conjunto, a psicanálise nunca abdicou de suas pretensões científicas – e é de supor que a maioria de seus clientes ainda a tomem como um saber racional, e não como um simples curandeirismo sofisticado.
Testar a força explicativa das teorias de Freud significa medir seu coeficiente empírico. Neste ponto, uma primeira dificuldade refere-se ao próprio conceito básico, o de inconsciente.
Sendo, como é, por definição, estritamente privado e inacessível o exame directo, o inconsciente freudiano não é, em si, empiricamente investigável. No entanto, o obstáculo é menos terrível do que parece.
Também na física muitas entidades sub microscópicas têm sua existência postulada, sem que possam ser directamente observadas. A validez empírica da teoria cinética dos gases, por exemplo, repousa na construção teórica que engloba essas quantidades inobserváveis.
O importante é que, da teoria, podem ser derivadas hipóteses testáveis. O mesmo se passa com a teoria da estrutura atómica de Bohr. Numa palavra: tudo depende da capacidade que a teoria revele de prover entre pressupostos conceituais e o plano do fenómeno, do observável. Ora, essa capacidade, na teoria freudiana do inconsciente, é praticamente nula.
O mal da psicanálise é que ela padece de um tremendo apetite de inclusão: forceja por adaptar tudo, mesmo o contraditório, às suas pseudo-explicações.
Quando se vai ver, caímos no vício que Chesterton ridicularizava em certos biógrafos: a mania de achar tudo tão “significativo”, que, “se o biografado deixa cair seu cachimbo, isso é sinal de sua característica negligência; mas se ele o apanha, isso é típico de seus hábitos cuidadosos...”
Sinopse. Texto de José Guilherme Merquior, Professor universitário e Diplomata brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras.

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