Psicanálise – Um Curandeirismo Sofisticado
A psicanálise goza de inegável prestígio no mundo ocidental. Mas esse prestígio possui duas dimensões. Por um lado, é uma posição intelectual; por outro, um status social. O freudismo virou uma verdadeira cachaça intelectual – e os preços mirabolantes das consultas de analistas atestam que a implantação da terapia do divã é um sucesso de estrondo. Daí a conveniência de aquilatar o valor da psicanálise.
Em seu conjunto, a psicanálise nunca abdicou de suas pretensões científicas – e é de supor que a maioria de seus clientes ainda a tomem como um saber racional, e não como um simples curandeirismo sofisticado.
Testar a força explicativa das teorias de Freud significa medir seu coeficiente empírico. Neste ponto, uma primeira dificuldade refere-se ao próprio conceito básico, o de inconsciente.
Em seu conjunto, a psicanálise nunca abdicou de suas pretensões científicas – e é de supor que a maioria de seus clientes ainda a tomem como um saber racional, e não como um simples curandeirismo sofisticado.
Testar a força explicativa das teorias de Freud significa medir seu coeficiente empírico. Neste ponto, uma primeira dificuldade refere-se ao próprio conceito básico, o de inconsciente.
Sendo, como é, por definição, estritamente privado e inacessível o exame directo, o inconsciente freudiano não é, em si, empiricamente investigável. No entanto, o obstáculo é menos terrível do que parece.
Também na física muitas entidades sub microscópicas têm sua existência postulada, sem que possam ser directamente observadas. A validez empírica da teoria cinética dos gases, por exemplo, repousa na construção teórica que engloba essas quantidades inobserváveis.
Também na física muitas entidades sub microscópicas têm sua existência postulada, sem que possam ser directamente observadas. A validez empírica da teoria cinética dos gases, por exemplo, repousa na construção teórica que engloba essas quantidades inobserváveis.
O importante é que, da teoria, podem ser derivadas hipóteses testáveis. O mesmo se passa com a teoria da estrutura atómica de Bohr. Numa palavra: tudo depende da capacidade que a teoria revele de prover entre pressupostos conceituais e o plano do fenómeno, do observável. Ora, essa capacidade, na teoria freudiana do inconsciente, é praticamente nula.
O mal da psicanálise é que ela padece de um tremendo apetite de inclusão: forceja por adaptar tudo, mesmo o contraditório, às suas pseudo-explicações.
O mal da psicanálise é que ela padece de um tremendo apetite de inclusão: forceja por adaptar tudo, mesmo o contraditório, às suas pseudo-explicações.
Quando se vai ver, caímos no vício que Chesterton ridicularizava em certos biógrafos: a mania de achar tudo tão “significativo”, que, “se o biografado deixa cair seu cachimbo, isso é sinal de sua característica negligência; mas se ele o apanha, isso é típico de seus hábitos cuidadosos...”
Sinopse. Texto de José Guilherme Merquior, Professor universitário e Diplomata brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras.
Sinopse. Texto de José Guilherme Merquior, Professor universitário e Diplomata brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras.
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