Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

25.8.07

Perguntas, ouvidas e anotadas, por aí ...

  • Por que Deus não fala comigo? Se Ele pelo menos tossisse!" (Woody Allen)
  • Os índios já estavam no Brasil antes de os portugueses chegarem? Pois estavam. Como os mouros estavam em Lisboa antes de D. Afonso Henriques, ou os Visigodos antes dos Mouros e por aí adiante. Vamos sentir nos culpados por isso? Só se não tivéssemos o sentido do ridículo.
  • Acredita em fantasmas? Não, mas tenho medo deles.
  • Se eu amo o meu semelhante? Certamente que sim. Mas onde encontrar o meu semelhante? (Mário Quintana)
  • Enfim porque nos havemos de espantar pelo facto de os trabalhadores aceitarem ser colaboradores dos patrões, se os sindicatos e as associações patronais se chamam agora parceiros sociais, os aumentos salariais são apenas reposição do poder de compra, um vagabundo é uma pessoa sem domicílio fixo e um drogado é um tóxico-dependente ou uma pessoa com comportamento aditivo ? É o politicamente correcto no seu melhor.
  • O que penso da infalibilidade do Papa ? - Não sei bem. Só sei que a mim ele chama-me sempre “Spilma”. (Cardeal Speelman - E.U.)
  • Porque tenho que escrever ? Porque é uma forma de pensar alto sem o inconveniente de julgarem que estou a falar sozinho; depois... sempre confere um certo ar de intelectualidade...(Ambrose Bierce)
  • Acredito em sorte! Do contrário, como explicar o sucesso de pessoas das quais não gostamos? (Jean Cocteau)
  • O que é uma empresa do futuro? É uma empresa com mais tecnologia e menos pessoas, as quais farão mais em menos tempo, ganhando cada vez menos.
  • Como se pode governar um país que tem 246 espécies de queijo?" (Charles De Gaulle)

18.8.07

Coma menos. Mexa-se mais?


De geração em geração temos crescido alguns centímetros em altura e muitos mais em largura; logo, estamos a ficar gordos, ou obesos como agora se deve dizer, e menos saudáveis. Pior é que tudo isto começa a ser gritantemente evidente nas crianças.

As causas do fenómeno só são muito parcialmente conhecidas, mas as asneiras que sobre este assunto se têm dito e escrito, são imensas. Há uma obsessão compulsiva em relacionar aumento de peso com má alimentação e ausência de exercício físico. Não haveria então, obesos inocentes!

Mas há. O conhecimento do metabolismo humano é que está ainda na Idade Média e os “especialistas” – nutricionistas, endocrinologistas etc., não sabem por exemplo, explicar porque razão a mesma quantidade de alimentos faz aumentar o peso a uns e não a outros. Tão simples como isto.

Paralelamente, e tirando partido desta falta de conhecimento da ciência, desenvolve-se toda uma indústria baseada em produtos “light”, clínicas de emagrecimento, ginásios etc. Activas estão também as inefáveis comissões e grupos de trabalho anti-obesidade.

Na primeira linha destas tropeça-se imediatamente com Isabel do Carmo, médica, mais conhecida pelo seu passado político nas Brigadas Revolucionárias do que como endocrinologista. Não coloco em dúvida a sua competência técnica, mas, é bem evidente que não aplica a si própria as suas teorias. Assim como aquele senhor careca que vendia tónico capilar? Entendem?...

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9.8.07

Requiem Para um Assassino


(...) a senhora estava grávida e não havia maneira de morrer, a lâmina da catana abria-lhe o corpo mas, sabe-se lá porquê, não morria. Estava grávida, e ele (o capataz negro contratado no Bié e que – como reconhece mais tarde - até nem tem razão de queixa dos brancos. Dona Eugénia, trata-o muito bem. Come com ele na cozinha e confia-lhe os dois filhos) teve que acabar o serviço com a enxada. – «Mulher grávida tem duas vidas, é mais difícil de morrer.» - Os pequenos, esses não levantaram problemas, nem choraram. Levanta-os pelo pescoço, lançando-os ao ar, quando caem rebentam no cimento…

Um dos grandes assassinos em massa da história do século XX e principal mentor da carnificina de oito mil portugueses em Angola (1961), morreu de doença prolongada a 8 de Agosto. Chamava-se Holden Roberto.

Embora politicamente morto há muito tempo, no país do Presidente-Rei Eduardo dos Santos e da sua luxuosa corte de familiares e amigos, a oficialmente designada por República de Angola, ainda ali se ouviram alguns discretos elogios ao dito percursor da luta pela independência.

Até o inefável político português Almeida Santos, responsável pelas colónias na altura – um advogado que enriqueceu em África não se sabe rigorosamente como, que agora assume poses de Senador, - achou conveniente esquecer o massacre e homenageia o falecido, dizendo que “não era mal intencionado…”. Destas boas intenções certamente não é o céu que está cheio.
Uma nota: ao que julgo saber, só um jornal português – o Diário de Notícias – recordou com uma fotografia o massacre de Angola e a responsabilidade de Holden.

Se Holden foi o mentor, a matança teve o apoio moral e material do então Senador dos EUA J.F.Kennedy, que, no vernáculo de um refugiado angolano que conheci – “levou um tiro nos cornos” em 1963 – e nas palavras do General Kaulza de Arriaga, “deveria ter sido morto quatro anos antes para não ter havido o massacre”. Com 34 anos de diferença, o tempo acabou por fazer justiça. Que os mortos enterrem os seus mortos.

O que resta é História. A 15 de Março de 1961, bandos armados da UPA de Holden Roberto, destruiram fazendas e vilas e assassinaram dois mil colonos brancos e seis mil negros. Foi o início de uma insurreição armada em Angola contra o regime colonial português que viria a durar 14 anos. Arriada a bandeira portuguesa pela última vez na ex-colónia, outra, agora entre angolanos, mais cruel e violenta ainda, começaria então.

«(...) Holden Roberto embarcara dias antes para os EUA. O massacre estava concertado para o mesmo dia em que, na Assembleia das Nações Unidas, a Libéria apresentava uma moção de censura contra Portugal.»

«(...) Dois mil europeus e seis mil trabalhadores bailundos tinham sido mortos. Em NY uma estação de TV mostra imagens da tragédia. Holden, em frente ao televisor, assusta-se com o resultado das suas ordens. Confessaria mais tarde: - Vi homens esquartejados, crianças retalhadas e mulheres violadas. Estava no meio de brancos e não tive coragem de reivindicar a acção

(...) numa das fazendas, encontram o dono, Manuel de Matos, atado a uma árvore, sem cabeça e sem mãos. Ao lado o corpo nu da mulher com um pau no sexo, do filho quase nada sobrava, tinha sido assado e comido (...) Um homem tinha os testículos na boca, a mulher estava toda retalhada e, numa alcofa, um recém nascido cortado em cinco postas»
O texto em itálico, foi retirado de um trabalho de Felícia Cabrita para o semanário Expresso de 14 de Março de 1998.