Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

27.11.08

Professor é...


Aquele chefe de repartição pública era um bom homem, sobretudo incapaz de fazer o que quer que fosse que pudesse prejudicar um colega de trabalho. Por isso, sempre que por imperativo da lei, tinha que fornecer aos seus superiores a avaliação daqueles com quem trabalhava, independentemente de, no seu íntimo, saber muito bem quem eram os bons e os maus funcionários, invariavelmente ele escrevia na informação individual – “capaz e idóneo”. Tinha a alcunha de “Capacidónio.

Mas a função pública estava cheia de “capacidónios” como é de calcular. E as apreciações profissionais dos funcionários públicas eram, na quase totalidade, de grau máximo - “excelente”. Aí começou a haver algum pudor por parte dos responsáveis superiores dos diversos Ministérios. Eram “excelentes” a mais! Havia que impor alguma moderação. E criaram-se quotas para os resultados das avaliações. Os “excelentes” só poderiam ser uns tantos. - "Até parecia mal!.. Os outros teriam que se conformara com valorizações mais modestas. Em regra não conformaram. O resultado foi o do costume: foram para a rua gritar palavras de ordem, que falavam de Cravos e Abril.

Tem que entender-se a os mecanismos mentais subjacentes: - superior hierárquico no sector público que, independentemente da informação que der, vai ter de conviver diariamente com essas mesmas pessoas que avalia, sejam competentes ou incompetentes; cuja produtividade não o afecta no seu próprio salário nem coloca em risco o seu emprego, só tem que não fazer inimigos nem criar um ambiente de hostilidade dentro do seu local de trabalho. Seria pouco prudente, se não seguisse aquele ensinamento do Evangelho expresso na Parábola do “Feitor Infiel” (Lucas XVI, 1.13).

Isto ocorre-me quando, enquadrado pelos sindicatos comunistas (há outros?!), um ruidoso movimento de professores está na rua, protestando contra as avaliações de desempenho que o Ministério lhes quis impor.Digo quis, porque de intenção, esta directiva não vai passar. O poder, e sobretudo os votos, não estão no Ministério... Como de costume o governo, com eleições por perto, vai tentar salvar a face e de recuo em recuo vai deixar andar até que a questão se esgote por si mesma.

Atenção que (dizem eles) não estão em protesto contra a existência de uma avaliação ao seu desempenho profissional (porque pareceria mal, digo eu)! Estão sim, contraestemodelo de avaliação. E estarão certamente também contra o próximo e outro que venha a seguir, que não consagre exclusivamente, a pura e simples auto-avaliação (os sindicatos de professores, já a propuseram) como único critério valorativo da sua competência profissional.

“Quem, melhor do que eu (pensa a maioria deles), tem competência para avaliar até que ponto sou excelente?!”. E dizem mais: - “Não queremos quotas!”.É, assim como o emergir de um novo direito laboral – o direito, sem restrições, dos professores serem proclamados "excelentes", ainda que essa avaliação provenha apenas dos respectivos umbigos. A psicose do igualitarismo contaminou de forma tão obsessiva o pensamento nos nossos dias, que parece razoável aplicá-la também nestes casos: “Todos Iguais Todos Excelentes!” ficava bem numa tarjeta de início de manifestação de rua, não ficava?

Mas, pergunta-se o país, quais os resultados reais e mesuráveis do trabalho destes “excelentes” profissionais e responsáveis pelo ensino no decorrer dos anos? A resposta é por demais conhecida. Trinta anos de educação com matriz de esquerda, de milhares de reuniões inconclusivas, de carradas de sábios que vem ganhando dinheiro à custa do ensino - supostos técnicos de tudo e mais alguma coisa, pedagogos, psicólogos, orientadores vários, - tudo gente tão bem paga quanto inutil, na generalidade - os indicadores do importante investimento que o país faz na escola, estão por aí. São conhecidos. Deixo à socióloga Maria Filomena Mónica a síntese: “ (...) cerca de um terço dos alunos que terminam a escolaridade obrigatória não sabe fazer contas, e um quinto, não sabe escrever”.

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