Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

26.3.07

Pequenas reflexões a "Grandes (?!) Portugueses"


Fernando Pessoa

Ao ver este poeta entre os propostos para a distinção de “Os Grandes Portugueses”, o polémico programa, dito de entretenimento, levado a cabo pelo canal público da televisão portuguesa, fico perplexo e confuso.
Interrogo-me: Qual o valor real deste homem, nas letras do meu país? Se houvesse qualquer coisa parecido com um “ranking”, que lugar lhe caberia?

De concreto, constato o seguinte: quem, nos anos 50 estudasse por uma “selecta literária” não encontraria lá qualquer referência a um tal Fernando Pessoa e implicitamente, nem a qualquer dos seus hoje tão famosos heterónimos. Porquê? Escrevia e publicava em Portugal há 26 anos; falecera há 15? Por essa altura, posso afirmar que no mundo em que vivia o comum das pessoas de cultura mediana, ninguém fazia a mínima ideia de quem era o futuro-passado “poeta fingidor”.

Então algures no espaço e tempo, não sei exactamente quando nem porquê, parece ter ocorrido um “click”. Pessoa começou a aparecer nos suplementos literários sm tudo o que era jornais, Pessoa para cá, Pessoa para lá, Pessoa revisitado, analisado dissecado e, a determinada altura, parece que todo o país bem pensante, em uníssono fez ouvir um sonoro “Eureka!” – temos um poeta à altura [ou acima) de Camões, que era então o decano deste género.

O Fernando Pessoa era um homem culturalmente bilingue, com nítida ascendência da língua de Shakespeare. Era uma daquelas pessoas que pensaria na sua língua nativa, que era o inglês. Sintomático, o facto de a sua derradeira frase escrita, tenha sido precisamente naquela língua. Como o poderíamos correctamente classificar? Como um português inglesado, ou como um inglês aportuguesado?

Eu, sobretudo quanto a poesia, sou um completo ignorante. Desconfio que há muitos outros para aí … mas como estão inscritos na Ordem dos Intelectuais, lá vão debitando umas asneirolas, com pompa e circunstância. Portanto, eu não sei se Pessoa era um grande poeta e ainda menos se era o maior. Sei, é que quando uma pessoa, ou uma marca, passa em pouco tempo do anonimato ao Pórtico da Fama, ou por ali há uma irreprimível qualidade ou talento, ou, mais correntemente, uma operação de marketing bem sucedida.

Pessoa seria aquele génio que todos esses clubes literários badalam por aí? Pode ser. Eu só posso reflectir que grande parte do seu sucesso, pode bem residir na aura de esoterismo em que se envolveu, com maçonarias, rosa-cruz e coisas assim pelo meio, a par da invenção dos heterónimos, que deslumbra e fascina os académicos e os “entendidos” da matéria.

Sabemos que Pessoa bebia o seu “copito”. Alguns, quando isso sucede, vêem a dobrar. Pessoa, em circunstâncias idênticas, talvez tivesse a faculdade de “pensar a dobrar e criar réplicas de personagens” e, quem sabe, no decorrer das suas lucubrações, tenha resolvido dar vida literária, nome e personalidade, a alguns desses autores-personagens. Transposto para os nossos dias e para os "vídeo-games", os heterónimos seriam uma espécie de “vidas” descartáveis, no seu universo da escrita.

Seja como seja. Mas, para a distinção de “O Grande Português” dos últimos dois séculos, tudo o que se sabe sobre Pessoa, é pouco substantivo, não acham?

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