Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

21.3.07

Histórias e Slogans de Abril 74


"A terra a quem a trabalha" - de inspiração marxista, abria o caminho à reforma agrária nas planícies alentejanas. "Operários e camponeses unidos vencerão" traduzia a clássica receita do movimento comunista para transformar as insurreições em revolução: a aliança operário-camponesa. Entretanto a esquerda militar incitava a efectuar ocupações e o Partido Comunista liderava-as.

Porém em Abril de 75, ocorre algo diferente em todo o processo revolucionário da chamada reforma agrária, quanto à iniciativa popular: povo de aldeias do concelho da Azambuja atreveu-se a fazer uma coisa que o Partido Comunista sempre abominou: resolveu agir sem perguntar ao partido – e logo para ocupar a Torre Bela, a mítica herdade do Ribatejo, de milhares de hectares, a maior área de terra agrícola murada do País pertença do duque de Lafões, patriarca dos Palmela.
Recebe, depois da ocupação consumada o apoio que lhe é dado pela LUAR (Liga de Unidade e Acção Revolucionária), um movimento extremista de esquerda, independente do Partido Comunista.

A LUAR tinha tido uma génese romanesca, à imagem dos seus fundadores, que, para financiarem as actividades do movimento de acção directa contra o Estado Novo de Salazar, tinham recorrido a um “financiamento” forçado desse mesmo Estado, efectuando em Maio de 67, através de Hermínio Palma Inácio (nota – depois de 74, aderiria ao Partido Socialista e … seria integrado na função pública em categoria elevada), um assalto, algo rocambolesco, à depêndência do Banco de Portugal na Figueira da Foz.
O assalto teve mais espectacularidade e impacto mediático do que própriamente lucros monetários. Com alguma imaturidade, o assalto acabou por se concretizar na parte mais substancial, em notas acabadas de emitir, com números de série fácilmente identificáveis que as tornavam de muito precária circulação.

Antes da formação do movimento Palma Inácio e alguns dos seus amigos revolucionários, como Henrique Galvão e Camilo Mortágua, já tinham levado a efeito duas actuações espectaculares as quais, seja qual for o juizo ético e político que delas se faça, reservam aos seus autores, enquanto percursores, um lugar na história moderna: efectuarem o primeiro desvio de um avião comercial – um ‘Super Constellation’ da TAP, voo Casablanca e Lisboa, e o primeiro acto de pirataria aérea dos tempos modernos, com o assalto e sequestro em alto mar, do paquete português Santa Maria com 612 passageiros.

Em apoio aos ocupantes da Torre Bela a LUAR envia para ali Camilo Mortágua, o militante mais talhado para transformar a herdade num modelo utópico de cooperativa revolucionária nunca antes experimentado. A ocupação da propriedade dos Palmela terminou ingloriamente em 1978, mas a Torre Bela, como nenhuma outra herdade ocupada pelo PCP, foi tema de reportagens na Imprensa estrangeira. Foi sobretudo o documentário realizado por Thomas Harlen, em 1976, que havia de serviria para perpetuar a “utopia” que Camilo Mortágua teimou em pôr em marcha.

Fora das utopias, ficaram também, para memória futura, recordações menos idealistas e românticas: Em certo momento, inebriado pela situação revolucionária ali criada, um dos ocupantes, um tal Sabú, abate a tiros de G3 o último veado selvagem existente em Portugal. Em seguida, com os seus camaradas de armas, delicia-se com um soberbo banquete servido em baixela da Companhia das Índias. Esta, no final do repasto serve de alvo num improvisado torneio de tiro ao pratos

Está-se em 1975. No Portugal de Abril decorre tempestuosamente o chamado PREC (Processo Revolucionário em Curso)...

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