Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

9.3.07

Os Cravos Loucos do Abril 74 (5)


Quando Sequestraram o Parlamento - Parte I

Relato de Maria José Moreira Rato para o jornal Tempo

Naquele dia 12 de Novembro de 1975, - o dia do Sequestro da Assembleia da República – para cúmulo, até fui apanhada sem almoçar. Ocupando o cargo de secretária no Grupo Parlamentar do Partido Popular Democrata (PPD), tinha aproveitado a hora do almoço para dactilografar os trabalhos e as intervenções que iriam ser apresentadas no Plenário da tarde.
Sabia que estava convocada para essa tarde uma manifestação, dita da “cintura industrial de Lisboa”, e que ela estava convocada para o Ministério do Trabalho. Falava-se também que, possivelmente nos viriam “visitar” à Assembleia. Atravessávamos naquela altura os dias confusos e conturbados do ano 1975. As sessões parlamentares eram quase sempre agitadíssimas entre os apupos, os aplausos, os apartes por vezes desagradáveis entre os Deputados dos diversos Partidos e as galerias, que nessa altura se enchiam com apoiantes do Partido Comunista (PCP) e da União Democrática Popular (UDP, comunistas da extrema-esquerda). As sessões eram por vezes tumultuosas, e interrompidas para se mandarem evacuar as galerias, ou para certificar se havia ou não uma bomba na sala.
Por outro lado, muitas vezes em que estávamos na sede do Partido, éramos rodeados por “Chaimites” e pela tropa, que assim nos tentava proteger contra visitas hostis que se aproximavam ameaçadoramente. Estava portanto habituada ao desassossego das manifestações. Mas o “Sequestro da Assembleia da República”, marcou-me de forma especial; não pelas horas em que estive fechada, não pelo cansaço, fome e sono que tive, mas por todo aquele decorrer de horas de pura violência, de completa manipulação de toda uma massa animalesca que ululava e gritava slogans, absolutamente comandada por for forças e gente, que os usava, e nada tinha a ver com o seu conflito laboral.
Vezes sem conta durante a madrugada, quando o cansaço se apoderava deles, o silêncio se começava a sentir, se ouviam novamente os altifalantes com palavras de ordem, com incitações, com slogans, que eles repetiam horas afim, quase sem vontade já de falar, quanto mais de gritar.
Tudo começou eram cerca das 20 horas. Momentos antes eu começara a receber telefonemas de militantes nossos, informando-me do trajecto da manifestação. O último telefonema que recebi informara-me que a manifestação era grande. Fui prevenir os Deputados e recomendar-lhe que tirassem os carros da frente do Palácio. Quando regressei ao gabinete, já se ouvia ao longe como que um princípio de tempestade. Momentos depois, voltei à janela, e todo o largo em frente, todos os acessos, escadarias, estátuas, estavam repletos de toda uma massa de gente, nessa altura entusiasmada e viva, que trazia à frente o Deputado da UDP, Américo Duarte. (nota do editor – O mesmo que, mais tarde, berraria histéricamente no Hemiciclo, que todos os fascistas portugueses - ou seja todos aqueles que não eram comunistas - deveriam ser reunidos numa praça de touros de Lisboa para aí serem … democraticamente, fusilados)
Continuei calmamente o meu trabalho. Direito a manifestar-se toda a gente tem. Mas enfureci-me momentos depois, quando fui informada de que a Sessão terminara e nós, todos nós, estávamos impossibilitados de sair do edifício. Estávamos pura e simplesmente sequestrados. Aquela turba, lá fora, não deixava sair, nem os Deputados nem os funcionários. Ninguém estava autorizado a passar os portões lá em baixo. Esta foi a notícia que nos chegou. (continua...)

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