Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

A minha foto
Nome:
Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

25.3.07

Pequenas reflexões a "Grandes (?!) Portugueses"


Aristides Sousa Mendes

Recordo o meu pai contar-me um episódio da sua participação na Revolução de 7 de Fevereiro de 1927.
O teatro das operações era a cidade do Porto e o principal núcleo das tropas revoltosas, comandadas pelo General Gastão Sousa Dias – que se opunha ao regime instalado no país pela revolução de 28 de Maio de 1926, o qual viria a dar origem ao Estado Novo e a António de Oliveira Salazar – encontrava-se na Praça da Batalha.

Ali tinham aberto trincheiras, orientadas para a previsão de que a aguardada investida das tropas fiéis ao governo surgiria de frente, e a partir de uma das ruas que convergiam para a Praça.
A rectaguarda da tropa estava devidamente assegurada, julgava-se.

Efectivamente, qualquer movimento que atacasse a tropa por esse lado, deparar-se-ia com um obstáculo intransponível para a época – o rio Douro. Suspeitava o Estado Maior de Sousa Dias que pudesse ocorrer um movimento de tropas através de um destacamento de cavalaria aquartelado na outra margem do rio na então Vila Nova de Gaia.

Essa tropa, para se dirigir para a Praça da Batalha teria que atravessar a ponte D.Luís que une as duas cidades, mas aí, entraria no enfiamento da área de tiro de uma metralhadora pesada que se encontrava posicionada no final da ponte. A guarnição dessa metralhadora era comandada por um sargento, um homem experiente que tinha já combatido na Grande Guerra.

As tropas fieis ao governo entenderam mesmo atacar o reduto da Praça da Batalha atravessando a ponte D.Luís. Ao sargento, encarregado de proteger a posição, coloca-se então um tremendo problema de consciência: a cavalaria adversária ao atravessar a ponte na sua linha de fogo era um alvo fácil, demasiado fácil. Umas quantas rajadas e maior parte da tropa atacante cairia ao rio.

Eram portugueses quem estava do outro lado. Hesitou, hesitou, e a metralhadora não chegou a disparar um único tiro. A cavalaria passa por ele – muitos deles sem se aperceberem sequer de que aquele humilde sargento tinha salvo as suas vidas.

A tropa rebelde, entrincheirada na Praça da Batalha é apanhada pelas costas e obrigada a render-se. Só muito mais tarde é que tomam conhecimento daquilo que tinha realmente acontecido na ponte. Nenhum historiador daquela revolução de 7 de Fevereiro, faz qualquer referência àquele sargento anónimo, que acabou por ser aprisionado como todos os outros revoltosos, sem que jamais alguém relevasse o seu feito humano.

Ao relembrar este acontecimento, encontro-lhe certo paralelismo com a agora mediática figura de Aristides Sousa Mendes, que alguns querem promover a maior figura da nossa História, num programa de TV.
O que impele Aristides para cima em direcção ao culto do heroísmo e da abnegação, é uma evidência conhecida: os inimigos dos nossos inimigos, são imediatamente nossos amigos e incensamo-los até onde é possível.

Aristides, com a sua desobediência às directrizes do governo de Salazar, pode ter salvo vidas e isso tem muito valor. Mas, a sua actuação, podia ter desencadeado em cadeia uma série de consequências desastrosas para Portugal e os portugueses, tal como as que sobraram para os revoltosos da Praça da Batalha no Porto, em consequência do “humanismo” do tal sargento anónimo.

Que sucederia se a evolução da II Guerra Mundial tivesse sido diferente e o III Reich recuperasse as posições entretanto perdidas na Europa? Poderíamos manter a nossa neutralidade, com um país cheio de refugiados judeus, muito por acção do “humanismo” de Aristides Sousa Mendes, mas considerados pelo Reich como inimigos? E que consequências poderiam vir do nosso alinhamento no conflito?

E para terminar, e “ainda que mal pergunte” como dizia a minha velha tia: - E se as pessoas que demandavam o consulado de Bordéus em busca do visto fácil do senhor cônsul Aristides, fossem civis alemães nacional-socialistas ou, se se quiser, nazis, que procuravam afastar-se da guerra, dos bombardeamentos e da fome, o senhor cônsul também daria com toda a facilidade um visto para eles? Algo no meu subconsciente me diz que – “nesse caso, não!

Aristides Sousa Mendes pode ter merecido a árvore que lhe plantaram em Israel. Mas, proporem-no para o maior português de sempre (?!!!) parece-me que justificava um teste de alcoolemia.

Etiquetas: ,

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial