Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

24.3.07

Pequenas reflexões a "Grandes (?!) Portugueses"


Por princípio não vou participar na votação incentivada pela produção do programa televisivo “Os Grande Portugueses”.
A mistura de História com entretenimento é muito sensível, porque se corre o risco de serem adulterados qualquer dos seus componentes, de forma a que um e outro sirvam interesses que, ao que de julga aqui, estavam nas intenções da produção do programa, e tinham mais a ver com uma cerimónia de atribuição dos Óscares do cinema – neste caso a personagens da História de Portugal - do que a estimular uma perspectiva crítica da História, aos telespectadores.

Não voto, mas observo. Dá para conhecer melhor o país que somos, não com a dimensão e a competência com que o vai fazer a equipa de António Barreto no “Portugal – Um Retrato Social”, mas, ao menos, para entender o que pensa o “Portugal que telefona” para estes programas.

Entre as 100 personagens iniciais – iniciais, porque alguém na TV as seleccionou previamente e, ao que se diz, com tanta falta de isenção que, à última hora tiverem que incluir lá o nome dum “inominável”, justamente aquele que, para o bem ou para o mal segundo a perspectiva histórico-política, esteve à frente dos destinos do Portugal do século XX, durante quase 50 anos.

Em contrapartida, ali se encontravam, como candidatos sugeridos para receberem a distinção de “melhor português”, durante um espaço temporal que abarca quase dois séculos, mais precisamente 1964 anos, nomes como Catarina Eufémia (!), Hélio Pestana (!) [quem poderá esquecer a sua obra mais emblemática – a dobragem da voz do carro de corridas Chick Hicks num filme da Disney, ou mesmo o seu lugar numa eliminatória do programa Dança Comigo] e António Variações (!). Por ninguém da RTP foi dito que o programa tinha também uma vertente humorística. Parece que tinha ...

No meu entender mereceria, mais do que ninguém, a distinção de “Grande Português” uma personagem que prefiro denominar de “Português Desconhecido”. A História, tal como as estórias da infância também começam pelo clássico era uma vez … Depois vem os grandes [mais do que os pequenos] feitos, de reis, descobridores, governantes, políticos, poetas, cientistas, generais. São eles que ganham batalhas, fazem conquistas, descobertas, escrevem poemas, inventam, investigam, fazem política, ficam na História.

E o povo anónimo? Aquele que combateu como soldado de todas as guerras sem se interrogar sobre se eram justas ou injustas [há guerras justas?], semeou a terra ou foi buscar peixe ao mar, fez progredir o comércio, navegou, foi operário, artesão, estudioso, empresário, técnico, salvou vidas em hospitais, foi emigrante, trabalhou, e com o produto dos seus impostos tornou possíveis os brilharetes das classes dirigentes, foi realmente, quem fez e manteve ao longo de séculos esta nação, algumas vezes motivado por dirigentes, na maior parte das vezes, apesar da existência deles …

Os soldados portugueses que caíram em nome de Portugal na I Guerra Mundial ainda têm um monumento que os recorda: o Soldado Desconhecido. Aos grandes portugueses anónimos, que os houve em todas as épocas, nem nas nossas memórias têm lugar.
Mas teriam o meu voto neste programa de televisão.

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