Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

18.1.07

Testemunhas do Século XX


Edmundo Pedro (2)
(entrevista a João Pedro George. Sinopse)
A primeira vez que entrou numa prisão tinha 15 anos?
- Fui preso por estar envolvido na tentativa de greve geral revolucionária de 18 de Janeiro de 1934. Pretendia ser uma greve contra a fascização dos sindicatos, levada a cabo pela antiga CGT de influência anarquista, pela intersindical de influência comunista e pelos sindicatos autónomos que representavam alguns sindicatos de influência ainda socialista. Eles juntaram-se todos e tentaram desencadear uma greve geral.
Ficou preso quanto tempo?
- Fui condenado num tribunal militar especial a um ano de prisão e perda dos direitos políticos. Tinha 15 anos, o que face à Constituição que Salazar elaborou em 1933 era ilegal. Face à Constituição, só aos 21 anos é que se tinha direitos políticos, ainda que fosse apenas em termos formais. Agora é aos 18. Eles tiraram-me aquilo que ainda não me tinham dado. Um absurdo.
Quando saiu continuou as actividades conspirativas?
- Sim, fui eleito para a direcção da Juventude Comunista com o Álvaro Cunhal. Repare que eu pertencia a uma família de comunistas. O meu pai, Gabriel Pedro, e a minha mãe, eram comunistas, eram funcionários do Partido Comunista. Foi um dos fundadores da ARA, Acção Revolucionária Armada, o braço militar do Partido Comunista.
Durou muito pouco tempo. Antes de morrer ainda veio por uma bomba no Cunene, o primeiro barco que foi sabotado contra a guerra colonial. Veio sozinho de Paris até Lisboa e voltou a Paris atravessando os Pirinéus. E tinha mais de setenta anos nessa altura! (...) Ora eu sou preso no dia 17 de Janeiro. Apanhei umas cacetadas e puseram-me ali porque as esquadras estavam cheias. Fui lá encontrar a minha mãe. Ao fim de 17 dias libertaram-me. Estive apenas 8 dias em liberdade. Quando voltei ela ainda lá estava. Os tipos disseram-me: "qualquer dia está cá o teu pai". Passado um mês e tal estava lá o meu pai. Foi lá parar também.

E os seus irmãos?
- Era tudo comunista. O meu irmão, era jovem comunista e foi assassinado numa manifestação organizada por mim, num daqueles comícios relâmpago que a JC fazia nos anos de 1930. (...) Aquilo era feito muito rapidamente: desfraldava-se a bandeira vermelha e distribuíam-se uns panfletos. O esquema era sempre o mesmo, para dizer que existíamos, que estávamos vivos, que tínhamos uma missão a cumprir. Acabámos aquilo, saímos a correr. O meu irmão ficou à porta. Logo depois veio a Polícia de Informações, os tipos do 28 de Maio, que começaram a agredir alguns rapazes. O meu irmão quis ajudar um amigo e disse qualquer coisa desagradável para os tipos. Rebentaram-no aos pontapés. Foi dali para o hospital S. José e morreu 15 dias depois.

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