Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

8.1.07

Teatro - A(s) Crise(s)


O teatro está em crise”. Quantas vezes já viu esta afirmação? A novidade, aqui, é que estou a reportar-me a um registo histórico de … 13 de Fevereiro de 1911, data em que o novo governo da República, entendeu nomear uma comissão para estudar as causas da decadência do teatro português.
Não ficou qualquer referência às conclusões dessa comissão – tal como, em regra, de nenhuma outra das que foram sendo sucessivamente nomeadas para os mais diversos fins. Pressupõe-se que não foram nenhumas, porque a tal “decadência” foi-se mantendo e agravando pelos tempos sucessivos.

Nessa época o teatro, tal como o cinema, era então dos divertimentos mais procurados fora de casa. Praticamente todo o país possuía salas de espectáculo – os chamados cine-teatros. Os espectáculos teatrais eram muito variados, indo a preferência para a farsa e a comédia, não faltando o drama, a opereta, a magia, a revista, e o music-hall.

Quando chegou a crise? Pois, sempre e nunca. O cinema, naturalmente chamou a si muitos dos temas que faziam sucesso no teatro, depois, bastante depois. a televisão veio ocupar muito do espaço que era do teatro – entretanto já bastante rarefeito – e também do cinema. Seguiu-se o vídeo, a Internet etc. No entanto o cinema, tendo por detrás uma indústria poderosa, cerrou fileiras, definiu normas, enfim, impôs as suas próprias regras à concorrência e ao mercado. Não obstante, também por ali se fala hoje de crise.

Há aqui uma aritmética elementar. Mesmo admitindo que a divulgação tecnológica contribuiu decisivamente para levar o espectáculo a todo o planeta, criando milhões e milhões de novos consumidores do produto, a diversidade de escolha na área do multimédia é hoje enorme, induzindo a dispersão da procura, e de imediatas respostas do lado da oferta. Essa dispersão penaliza sobretudo o produto-espectáculo mais fraco que é obviamente o teatro. Por ele comecei este texto e com ele vou terminar.

Que tem feito o teatro para subsistir? Há várias respostas. Há quem tenha, com sucesso, conseguido agregar os meios e capitais para colocar em cena grandes espectáculos teatrais; há quem, com sucesso mais relativo, se tenha apoiado no fenómeno empático e irreproduzível noutras tecnologias do espectáculo, que a presença de actores em palco gera no público, quando representa boas peças de teatro; por fim há quem, com pouco ou nenhum sucesso, persista em fazer teatro "de vanguarda" e experimental, agarrando-se obstinadamente à uma certa vertente cultural que, no entender dos seus promotores e actores, é pertença exclusiva deste tipo de teatro, o qual, enquanto agente activo da divulgação cultural, não pode ficar entregue às lógicas de mercado e, portanto, ser subsidiado pelo estado, como vem sucedendo.

Quanto a este ultimo género teatral. as opiniões dividem-se imenso. Contrariando as pessoas que o fazem, reconhece-se, com gosto, esforço e grande falta de meios, há quem replique que “eles chamam sempre cultura àquilo que fazem, e não é necessariamente assim”. Há também quem lhes aponte o desajustado sectarismo esquerdizante do seu reportório.

Complemento com uma referência a um teatro que não tem crise, porque não já não existe entre nós. E faz falta. Mas está a ser recuperado por grandes estações de rádio e televisão, Refiro-me ao rádio-teatro (o teatro sem imagens) e ao TV-teatro, relegado para plano secundaríssimo por telenovelas medíocres, que satisfazem certamente a “boa-gente”, mas, desculpe-se-me a ousadia, não a “gente-boa” que ainda a há, e não abdica de gostar de teatro.

António Soares

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