Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

19.1.07

Herói ... Mas Não Muito


Aristides Sousa Mendes
Fizeram de Aristides Sousa Mendes um ícone. Herói, benfeitor da humanidade, são alguns dos menos exuberantes adjectivos que se colam ao seu nome. A sua história, devidamente encenada passa recorrentemente nos media.

Num pitoresco programa de televisão em que os espectadores são convidados através de televoto a nomearem os 100 maiores portugueses, ele ficou entre os 10 finalistas. Pode até vir a ganhar.
Os portugueses televotantes são absolutamente imprevisíveis e totalmente irracionais. Um dos nomeados para maior português de sempre era uma figura chamada António Variações; outra Álvaro Cunhal… Não há motivos para alarme. Na circunspecta Grã-bretanha, ao que se sabe, na réplica do mesmo programa, a Ladi Dy ficou à frente de Shakespeare…

O pedestal do cônsul de Portugal em Bordéus durante os anos da II Guerra Mundial, ergueu-se sobre uma base duplamente predestinada ao sucesso. Por um lado, e para consumo interno, desobedeceu a Salazar. Este, convencionou-se nos últimos 30 anos, ser a personificação politica do Mal; logo, no imaginário dos simples e bem-aventurados, quem o contraria coloca-se automaticamente do lado dos bons e dos justos; depois, através da sua desobediência às directivas do governo português, escancarando na prática as fronteiras portuguesas, através da concessão não autorizada de vistos, possibilitou que muitos milhares de judeus, sobretudo, mas também alguns outros refugiados, atingissem o país neutral que Portugal se esforçava por se manter face ao conflito.

Numa situação política internacional bastante complexa, Aristides resolveu desobedecer comprometendo a estratégia do governo português que, no final da guerra foi enaltecido pelas outras nações pela sua política perante os refugiados.

Hoje fala-se em altruísmo de Aristides, com a mesma displicência com que na época se poderia perfeitamente falar de traição. Ele foi apenas demitido, continuando a receber metade do ordenado até atingir a reforma. Poderia ter sido julgado. Atravessava-se um período de guerra. Noutros países tê-lo-ia sido.
O que levou Aristides a proceder assim?

Entramos no campo das conjecturas, mas uma hipótese possível é que as estreitas relações que manteve com o rabi de Antuérpia Jacob Kruger, durante os anos em que foi cônsul naquela cidade, o influenciaram a tal ponto, que tenham resultado nalgum tipo de conversão ou, no mínimo, de adesão às posições da religião judaica, e que estas tenham determinado o seu comportamento futuro. Facto é que Jacob Kruger se manteria nos tempos próximos sempre muito próximo de Aristides e seria este quem provavelmente o influenciaria.

Seja qual for a verdade, os judeus não foram muito gratos para com a colaboração de Aristides que morreu na pobreza: umas quantas árvores plantadas em sua homenagem, anos mais tarde, nos terrenos do Museu Yad Vashem e mais nada.

Já o Estado português recente, que não tem histórico de dignidade e ética, tem-se desdobrado em actos e homenagens oficiais perante a memória de alguém, que num determinado momento histórico, antes de mais, desrespeitou o Estado Português – pedidos públicos de desculpas, ordem da liberdade, cruz de mérito, placas comemorativas etc. Como dizia aquele nosso rei – “…é um fartar vilanagem!”.

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