Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

5.10.06

Seu revoltoso, se agacha que vou dispará !

A minha ida à Guerra de 5 de Outubro de 1910

Os nossos amigos brasileiros gostam imenso de brincar connosco. A “piada de português” tem feito rir gerações deles e, porque não, também muitos de nós. Não levem a mal que a mim agora, a propósito de um evento histórico que hoje se comemora – a rebelião de 5 de Outubro e a Implantação da República – também me ocorra, porque tem certas semelhanças - uma piada de brasileiro. Afinal somos todos filhos de Deus.

A frase do título era proferida por um humorista do Brasil, ao descrever um confronto armado, algures entre a tropa do governo e elementos rebeldes, no tempo dos “cangaceiros”. Os dois lados estavam emboscados e iam disparando sobre o adversário, mas, na realidade ninguém queria matar ninguém, preferindo antes beber umas cachacinhas juntos. Para tal, antes de um “federal” (ou um revoltoso) se erguer para disparar sobre o campo inimigo – avisava antes. Algo semelhante ao cenário que Solnado aqui popularizou com a História da sua ida à Guerra.

E porque encontro nesta história picaresca semelhanças com a rebelião de 5 de Outubro que teve como consequência a extinção da monarquia em Portugal? Por várias coisas entre as quais o seu desfecho.

Vejamos. As coisas começaram mal. Naquela altura não havia Rádio Clube Português, nem Paulo de Carvalho, nem “E depois do adeus”, nem Zeca Afonso e naturalmente nem Grândola Vila Morena. O sinal para as tropas avançarem tinha que ser outro. Combinou-se que se ouviriam 31 tiros disparados de um navio de guerra no Tejo.
Alguém se deve ter enganado, porque os tiros foram disparados, mas não eram 31. Humm!! Que quereria aquilo dizer?! A contra-revolução em marcha?! Ainda assim, resolveu-se ir em frente, e fé em Deus - que entre os revoltosos não podia ser muita dada a sua composição: maçons, carbonários, anarquistas, republicanos anti-clericalistas e mais uns quantos que vão sempre atrás dos outros, logo se vê para onde.

A comandar toda esta tropa-fandanga (havia muitos civis arrebanhados em cima da hora), mal armada e com pouco disciplinada, estava uma personagem curiosa, um misto de revolucionário, idealista e louco, que ao que parece, tal como os andores nas procissões de aldeia, tem que estar à frente das revoluções portuguesas do século XX. Em 1910 era o comissário Naval, Machado dos Santos. Um remake desta figura apareceu em Portugal em 1974. Chama-se Otelo Saraiva de Carvalho.

Enquanto a guerra esteve aberta, ouve umas breves escaramuças, uns bombardeamentos leves e a certa altura, cada uns foram para seu lado, ou seja, os revoltosos concentraram-se na Rotunda (Praça Marquês de Pombal) e as tropas leais ao rei, no Rossio. Entre ambos uma zona de ninguém constituída por umas centenas de metros da Avenida da Liberdade. E ali estavam todos aguardando não sabiam bem o quê…

Diz a História que às 8 horas e 30 deste dia 5 de Outubro, o embaixador da Alemanha em Lisboa depois de falar com os revoltosos da Rotunda, dirige-se para o Rossio onde estavam as tropas leais, afim de conseguir uma trégua que lhe permitisse recolher a colónia alemã na capital. Leva uma bandeira branca de parlamentário. A população e as tropas do entendem isso como um sinal de rendição. Grandes manifestações de alegria, os combatentes caem nos braços uns dos outros … duas horas depois a bandeira da República é hasteada na Câmara Municipal. E a Guerra fechou.

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