Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

3.10.06

Desculpem lá o Cabral ...(II)

Sempre achei que o Brasil é um país à parte, não apenas totalmente diferente de Portugal, como de qualquer outro país que eu conheça. Só mais tarde, viajando pelo Nordeste, Norte e Amazónia, é que comecei a dar-me conta do que terá sido a dimensão da empreitada lusitana naquele continente.

E, certamente não por coincidência, foi quando comecei a descobrir também as teses de alguns intelectuais brasileiros, como João Ubaldo Ribeiro, que tendem a reduzir a colonização portuguesa aos seus crimes e que ensaiam a justificação dos males actuais de que o Brasil padece com a herança da colonização portuguesa.

Simplificando, a história terá sido assim: até 1820, Portugal explorou, saqueou, matou, destruiu. Do "grito de Ipiranga" para cá, "o povo brasileiro" (do qual, estranhamente desaparecera, com a partida de D. Pedro IV para Portugal, qualquer cromossoma português), tem-se esforçado para das ruínas erguer um país.

De tão absurda, esta versão histórica tem qualquer coisa de patológico. O Brasil foi descoberto há 500 anos, é independente há quase 200: estamos a falar de uma eternidade, em termos de construção de um país, para mais tão rico como o Brasil. Ocorre lembrar que, no mesmo ano em que a América foi descoberta se pôs fim à ocupação árabe da Península. Lembraria a algum espanhol ou português, mesmo que grosseiramente ignorante, lastimar-se hoje da herança dos mouros?

Há, nestas atitudes, uma verdadeira tentativa de reescrever a História: como não se pode apagar o facto de o Brasil ter sido descoberto e colonizado pelos portugueses (apesar de ter sido a única colónia, desde o Império Romano do Oriente, que chegou a ser sede do império), é como se fosse forçoso e patriótico abjurar esse passado. Mas, pese a alguns brasileiros, não foi a Inglaterra, nem a França ou a Holanda, nem sequer a Espanha, a matriz europeia do Brasil: foi um pequeníssimo e insignificante país, hoje como ontem, quem se lançou nessa desmedida aventura, muito para além do imaginável.


Quando hoje, por exemplo, a maior reserva de riquezas naturais do Brasil é constituída pela imensa superfície da Amazónia, talvez os brasileiros não saibam que devem a sua posse ao tal Pombal, que no seu gabinete no Paço, para lá mandou um tal Luís de Albuquerque com a missão de construir sete fortes que constituíssem a linha de fronteira defensiva da Amazónia e o símbolo da soberania brasileira em todo o território virgem. E talvez não saibam que alguns desses fortes, como o do Príncipe da Beira, no Acre, foram erguidos com pedras de granito levadas de Portugal por mar, transportadas de barco Amazonas acima e carregadas por homens e animais, selva adentro, numa desumana empreitada que hoje ninguém se atreveria a repetir. Tanto que, pelo menos, um desses fortes era, há uns anos atrás, ocupado pelo Exército brasileiro com a mesmíssima missão para que o Marquês de Pombal o mandou fazer.


Sinopse sobre texto de Miguel Sousa Tavares

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