Desconstruindo Demónios: Talidomida (2)
A Drª Frances Kelsey, uma funcionária da FDA (Food and Drug Administration – o organismo com competência para autorizar a introdução de novos medicamentos nos E.U.), apesar das pressões do laboratório, usara de táticas burocráticas para adiar a aprovação Agora, que a nocividade colateral do medicamento estava demonstrada, apressa-se, com sucesso e resultados imediatos, a declarar que tivera razões científicas para duvidar da segurança da droga. Torna-se uma heroína nacional nos Estados Unidos. O presidente Kennedy condecora-a com a Medalha de Ouro Presidencial por serviços distintos, a mais alta condecoração do país.
Mas então, houve quem dissesse que a medalha lhe foi dada por ela nada fazer, por adiar uma decisão, o que é sempre a coisa mais segura para um burocrata. Agora, ela proclama que foi mais esperta do que na realidade foi. Além disso receia-se as consequências futuras do acto de Kennedy pois boas drogas, e necessárias, poderão ser retardadas por outros burocratas da FDA que pretendam também uma medalha.
Quatro anos mais tarde, em 1965, o médico israelita Jacob Sheskin prescreveu a Talidomida como sedativo para pacientes leprosos, observando acentuada redução da dor e do processo inflamatório associado à enfermidade e identificando-lhe propriedades anti-inflamatórias até então desconhecidas. Esta intrigante característica do medicamento incentivou diversos grupos de pesquisas ao estudo do mecanismo de acção perante a lepra.
Com base na descoberta das propriedades anti-inflamatórias e imuno-reguladoras da Talidomida a indústria norte-americana Celgene solicitou ao FDA a sua aprovação para uso no tratamento da lepra - concedida em Julho de 1998. Marcava-se de forma definitiva o renascimento deste fármaco, que representa, actualmente, um dos principais agentes terapêuticos disponíveis para o tratamento da doença.
Após adquirir o direito de comercializar e estudar a Talidomida , a Celgene iniciou uma série de ensaios clínicos com este fármaco, visando ao tratamento de doenças auto-imunes como a artrite reumatóide (inflamação crónica associada a destruição progressiva de ossos e cartilagem). Trabalhos paralelos divulgados por vários laboratórios de pesquisa, demonstram a aplicação terapêutica potencial da talidomida no cancro, na SIDA e mais especificamente, no retardamento da perda de peso desordenada de portadores do vírus da imunodeficiência adquirida e do bacilo da tuberculose. Adicionalmente, a talidomida representa a primeira terapia disponível nos últimos 20 anos para o tratamento de mieloma múltiplo (um tipo raro de cancro nos ossos)
Quarenta anos após o incidente teratogênico da década de 60 (o termo provém do grego "teratos", que significa monstro), a Talidomida ressurge como fármaco promissor para o tratamento de várias doenças. Entretanto, a despeito das novas aplicações terapêuticas da Talidomida o seu emprego como fármaco requer avaliação da relação risco-benefício, exigindo em alguns casos monitoramento médico adequado.
1 Comentários:
E quantas pessoas ainda sofrerão as consequências do uso desse farmaco?
Na minha opinião, o que causou tanto mal deveria ser posto de lado. Há tantos produtos a serem estudados e por que essa insistência nesse?
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