Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

13.1.10

Adagio para um Coronel Louco - III



Analistas de dentro do Batalhão viram na “queixa” do Cabo contra o Major,  uma oportunidade que caiu ao colo do Comandante para se descartar do Major que odiava (afinal, ele odiava toda a gente ...).
... continuado
Deu luz verde à abertura de um Inquérito e, como relator nomeou um oficial que também não apreciava particularmente o Major. Sem a conivência do Comandante do Batalhão, o assunto não teria tido consequências...

O Cabo miliciano Mateus Ramos –  esbofeteado -, era um homem inteligente com uma cultura acima da média, grande leitor de livros; recordo especialmente a sua admiração por Florbela Espanca (que gostava de ler em voz alta) e Pitigrili, um autor de sucesso na altura; gostava de atletismo e praticava-o sem intenções competitivas. Nesta modalidade, impressionava-me a quantidade de recordes desportivos que ele memorizava. Da sua boca ouvi pela primeira vez referência a um atleta do Sporting, chamado Manuel Faria – o primeiro vencedor português da corrida de S. Silvestre em S. Paulo Brasil -  que, contava ele, andava a trabalhar nas obras do estádio do clube e, enquanto os atletas corriam no campo, ele com as suas botas de trolha, procurava acompanhá-los fazendo o percurso pelo exterior, até ao momento em que o Professor Moniz Pereira o chamou para treinar sob a sua orientação técnica.


O Aspirante a oficial e comandante do pelotão, a quem o inoportuno insecto se preparava para picar. também não era um vulgar militar. Chamava-se Filipe Rosário e viria a ser conhecido no mundo do teatro e da TV como o actor “Filipe Ferrer”. Figura ímpar em inúmeras peças de teatro e, ultimamente também como intérprete de telenovelas. Na altura e enquanto pessoa, era um daqueles raros seres a quem só se conhecem amigos, começando por colegas e subordinados no Batalhão de Caçadores 2, mas também na própria Cidade, onde acolhido com simpatia pela sua forma descontraída de estar na vida e ainda por ser o grande dinamizador da actividade teatral local então emergente. 

Vários dos intérpretes desta ocorrência - verdadeira mostra do que era o ambiente humano dentro dos quartéis, três anos antes da eclosão das guerras independentistas em África – já não se encontra infelizmente entre nós. Refiro-os pelo seus autênticos nomes, como homenagem à sua memória e também como contributo para a História dos que nunca entram na História.

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