Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

8.10.06

Brasil-Portugal. O Preconceito pós-colonial

Na verdade, para um português é mais claro e mais saudável este sentimento de separação do Brasil, do que para um brasileiro. Para nós, o colonialismo português jogou-se no nosso tempo nos dramas de África e há muito já que reconhecemos o Brasil como uma outra nação. Não assim no Brasil, que, de um certo modo, introjectou Portugal, incorporou-o a si, olhando-o quase como um capítulo do seu passado, como uma referência incontornável (para o bem e para o mal) da afirmação da sua própria identidade, mas que, por isso mesmo, se tornou estranhamente invisível aos brasileiros enquanto realidade existente e país actual. Como se para os brasileiros o único sentido de ser português fosse vir a tornar-se brasileiro…

Acresce que à escala mundial vivemos hoje tempos de uma curiosa ofensiva ideológica anti-europeia, fomentada por algum pensamento “politicamente correcto”. Através do conceito de “pós-colonial”, concebe-se por vezes uma estranha frente entre os Estados Unidos, o antigamente chamado Terceiro Mundo e os países industrializados exteriores à Europa.

Toda a ideia (já veiculada em 1992, quando do quinto centenário da viagem de Cristóvão Colombo) de que “comemorar os 500 anos é comemorar 0a violência e a rapina do colonialismo” vem hoje dessa matriz ideológica “pós-colonial”, bem mais do que do velho marxismo. E vem também muitas vezes daqueles que, na esteira de certas leituras de Max Weber, atribuem todas as virtudes civilizatórias aos Estados Unidos e aos colonizadores brancos, anglo-saxões e protestantes, e todos os estigmas aos colonizadores ibéricos, por acreditarem ingenuamente nas histórias piedosas que os norte-americanos contam sobre si próprios.

Assim, se por um lado os preconceitos anti-portugueses estão conhecendo hoje no Brasil um evidente recuo, não deixou algum velho anti-lusitanismo de ressurgir por ocasião das comemorações dos 500 anos, como por exemplo quando se veio escrever que foi um grande erro do Brasil permitir que os portugueses praticamente sequestrassem a celebração do 500 aniversário do Brasil com a ênfase dada ao descobrimento pelos portugueses.

Uma política cultural externa portuguesa para o Brasil deveria ousar trazer a este país as manifestações mais vivas e actuais da nossa cultura e não continuar a responder à sede de tradições conhecidas e requentadas, que apenas confirmam no brasileiro a imagem de um Portugal instalado para sempre nas brumas do passado. Este é o desafio da nossa geração. Mais do que continuar a mostrar como soubémos bem navegar no século XVI, há que demonstrar como sabemos hoje dominar e praticar as linguagens e as tecnologias do nosso tempo.

Sinopse sobre texto de Luis Filipe Castro Mendes

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