Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

23.9.06

Trazer a Greve para o Presente

A greve, ao serviço dos movimentos sindicais, é a principal responsável, durante um determinado período histórico coincidente com o surgimento da Revolução Industrial, pela maior parte das, actualmente chamadas, e muito bem, “conquistas dos trabalhadores”.

Se hoje existe legislação laboral, esquemas de segurança social, contratos colectivos de trabalho, direito à greve e protecção aos grevistas, isso deve-se a uma longa luta do movimento sindical no sentido de obrigar os estados a reconhecer esses direitos laborais e a criar instrumentos de limitação às injustiças do liberalismo económico.

Até aos anos 70, mau grado alguns ciclos recessivos geralmente ligados a determinados eventos históricos, as economias industrializadas viveram períodos de contínuo crescimento e, na prática, em situações onde se verificaram altas taxas de ocupação da mão-de-obra, próximas do pleno emprego. Em tal enquadramento social, trabalhadores e população em geral confundiam-se na prática, não obstante a separação que os movimentos políticos e sindicais de cariz marxista insistiam em fazer. As leis favoraveis aos trabalhadores eram então encaradas como leis de protecção ao cidadão. A maior parte das greves e movimentações laborais contavam, nesses tempos, naturalmente com grande simpatia e adesão popular.

Então, as coisas começaram lentamente a mudar ...

Vieram os choques petrolíferos. Os “tigres” asiáticos embarcaram numa industrialização rápida com custos de mão-de-obra baixíssimos. Vieram os computadores. Os países desenvolvidos lançaram-se numa segunda revolução industrial e desataram a automatizar fábricas. Na indústria, na agricultura e nas pescas o emprego diminuiu drasticamente. O crescimento económico mantinha-se, mas a criação de emprego já não o acompanhava. Em 20 anos a produção na Europa aumenta 80 por cento e o emprego 9 por cento.

O espectro do desemprego começa então a assolar as economias industrializadas. População e trabalhadores passam a representar realidades sociais distintas, com interesses muitas vezes antagónicos. Começa a exigência de partilha do emprego disponível.

Num contexto recessivo do mercado laboral, a greve, como forma de pressão para a obtenção - por parte dos que tem emprego - de melhores salários e regalias sociais, passa a ser encarada como algo que, beneficiando os que tem emprego, vai inexoravelmente reduzir a quantidade de emprego disponível para os que o não têm, e cria desníveis remuneratórios entre os próprios trabalhadores dos sectores socialmente prioritários em relação aos restantes. Surgem protestos pelo facto de as situações emergentes das greves entrarem em conflito com os direitos individuais dos cidadãos.

Volta a ter voga a definição de que dirigente sindical é um trabalhador que já esqueceu o que é o trabalho...

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