Balada para D.Quixote

Um olhar de viajante na última carruagem do último combóio de uma Memória intemporal.

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Localização: Covilhã, Portugal

A generalidade daquilo que você (e eu) julgamos saber, pode estar errado, porque, em regra, assenta em «informação» com falta de rigor e imparcialidade, vinda de quem interessa formatar a nossa mente. Pense você mesmo! Eu faço-o!

26.9.06

Brasil-Portugal. Réus colonizadores ?!...

(...) a rejeição da cultura ibérica foi assumida por um grande número de historiadores brasileiros como a chave que explicaria todos os atrasos, injustiças e opressões sofridos pelo Brasil. A colonização portuguesa seria o pecado original desta terra, o que lhe vedara o acesso ao paraíso ou os caminhos da modernidade.

Esta ideia encontra-se formulada exemplarmente na obra clássica de Sérgio Buarque de Holanda - Raízes do Brasil. Todos os obstáculos ao desenvolvimento do Brasil derivariam dos traços de carácter herdados do colonizador português, e contrapostos àqueles que fundamentam o espírito moderno, essencialmente derivados da ética do protestantismo. Daí o grande confronto, obsessivo na cultura brasileira, entre o Brasil e os Estados Unidos, encarados estes, mesmo quando demonizados, como o supremo paradigma. Bandeirantes e Pioneiros de Vianna Moog é a triste elegia a um Brasil que poderia ter sido, um Brasil que se poderia vir a identificar com os Estados Unidos.

Conhecemos a grande obra de interpretação do Brasil antagónica desta visão, que foi a de Gilberto Freyre. Para o autor de Casa Grande e Senzala foi da colonização portuguesa e da escravidão africana que provieram toda a originalidade e a inovação da civilização brasileira, através do processo de miscigenação. Freyre não idealiza o processo colonizador, mas escreve de uma história olhada sem ressentimentos, que o tornam o mais moderno de todos os seus contemporâneos.

Com a notável excepção de Vamireh Chacon, as correntes dominantes do pensamento social brasileiro de tendências mais progressistas tenderam a identificar as teses de Gilberto Freyre com o conservadorismo e a nostalgia de uma sociedade patriarcal e pré-moderna, colocando assim as ideias do mestre de Apicucos como mais um obstáculo ao progresso e à emancipação dos brasileiros. Uma rejeição global que José Guilherme Merquior, grande desmistificador, qualificou um dia de “suprema burrice”.

Sem querer intervir neste debate (porque penso, como Alfredo Bosi, que é uma questão ociosa escolher agora quem teriam sido os melhores colonizadores), julgo necessário interogarmo-nos, em que medida as duas correntes de interpretação aqui demarcadas partilhariam um terreno comum, uma visão que da imagem construída do passado histórico deriva para um olhar intemporal sobre o Outro, o português, e em que medida nós, os portugueses, nos confrontamos ainda e sempre com essa imagem intemporal que de nós foram tecendo os brasileiros no processo de construção da sua própria identidade (a piada de português é apenas a manifestação mais superficial e inocente dessa imagem estereotipada).

Extractos do texto de Luis Filipe Castro Mendes -2006

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Como não tenho inscrição em Blog mandei o comentário em e-mail para você

26/9/06 15:54  

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